Ó ANGOLA MEU BERÇO DO INFINITO
Ó Angola meu berço do Infinito
meu rio da aurora
minha fonte do crepúsculo
Aprendi a angolar
pelas terras obedientes de Maquela
(onde nasci)
pelas árvores negras de Samba-Caju
pelos jardins perdidos de Ndalatandu
pelos cajueiros ardentes de Catete
pelos caminhos sinuosos de Sambizanga
pelos eucaliptos das Cacilhas
Angolei contigo nas sendas do incêndio
onde os teus filhos comeram balas
e
regurgitaram sangue torturado
onde os teus filhos transformaram a epiderme
em cinzas
onde das lágrimas de crianças crucificadas
nasceram raças de cantos de vitória
raças de perfumes de alegria
E hoje pelos ruídos das armas
que ainda não se calaram pergunto-me:
Eras tu que subias montanhas de exploração?
que a miséria aterrorizava?
que a ignorância acompanhava?
que inventariavas os mortos
nos campos e aldeias arruinados
hoje reconstituídos nos escombros?
A resposta está no meu olhar
e
nos meus braços cheios de sentidos
(Angola meu fragmento de esperança)
deixai-me beber nas minhas mãos
a esperança dos teus passos
nos caminhos de amanhã
e
na sombra d'árvore esplendorosa.)
João Maimona
João Maimona nasceu a 08 de Outubro de 1955, em Kibocolo, Maquela do Zombo. Estudou humanidades científicas em Leopoldeville. Em 1978, fixou residência na província do Huambo, onde se licenciou em medicina veterinária. É diplomado em Estudos Superiores Especializados de Virologia Médica e Epidemiologia Animal, pelo Instituto Pasteur de Paris e pela Ecole Nationale Veterinaire d'Alfort, França. É quadro do Ministério de Agricultura e do Desenvolvimento Rural e desempenhou as funções de Director Nacional do Instituto de Investigação Veterinária (I.I.V.), de 1991 a 1993.
É assistente da Universidade Agostinho Neto. Foi membro fundador da Brigada Jovem de Literatura do Huambo. É membro da União dos Escritores Angolanos. É deputado à Assembleia Nacional. Em 1984, arrebatou o prémio Sagrada Esperança com o livro de poesia Trajectória Obliterada. Em 1987, foi distinguido com a medalha de bronze no concurso internacional de poesia, organizado pela Academia Brasileira de Letras, na cidade do Rio de Janeiro. Tem colaboração dispersa pela imprensa angolana e estrangeira. Figura na Antologia No Caminho Doloroso das Coisas (1988).
Obras publicadas: Trajectória Obliterada (poesia, 1985); Les Rose Perdues de Cunene (poesia, 1985); Traço de União (poesia, 1987, 1990); Diálogo com a Peripécia (teatro, 1987); As Abelhas do Dia (poesia, 1988, 1990); Quando se ouvir o sino das sementes (poesia, 1993), Idade das Palavras (poesia, 1997)
Fonte: www.nexus.ao