SÔ SANTO
Lá vai o sô Santo...
Bengala na mão
Grande corrente de ouro, que sai da lapela
Ao bolso... que não tem um tostão.
Quando sô Santo passa
Gente e mais gente vem à janela:
- "Bom dia, padrinho..."
- "Olá!..."
- "Beçá cumpadre..."
- "Como está?..."
- "Bom-om di-ia sô Saaanto!..."
- "Olá, Povo!..."
Mas por que é saudado em coro?
Porque tem muitos afilhados?
Porque tem corrente de ouro
A enfeitar sua pobreza?...
Não me responde, avó Naxa?
- "Sô Santo teve riqueza...
Dono de musseques e mais musseques...
Padrinho de moleques e mais moleques...
Macho de amantes e mais amantes,
Beça-nganas bonitas
Que cantam pelas rebitas:
'Muari-ngana Santo
dim-dom
ualó banda ó calaçala
dim-dom
chaluto mu muzumbo
dim-dom...'
Sô Santo...
Banquetes p´ra gentes desconhecidas
Noivado da filha durando semanas
Kitoto e batuque pró povo cá fora
Champanha, ngaieta tocando lá dentro...
Garganta cansado:
'coma e arrebenta
e o que sobra vai no mar...'
Hum-hum
Mas deixa...
Quando Sô Santo morrer,
Vamos chamar um Kimbanda
Para ngombo nos dizer
Se a sua grande desgraça
Foi desamparo de Sandu
Ou se é já própria da Raça..."
Lá vai...
descendo a calçada
A mesma calçada que outrora subias
Cigarro apagado
Bengala na mão...
... Se ele é o símbolo da Raça
ou a vingança de Sandu...
Viriato da Cruz
Viriato Francisco Clemente da Cruz nasceu em Kikuvo, Porto Amboim em 25 de março de 1928. Fez os estudos liceais em Luanda.
Considerado um dos mais importantes impulsionadores de uma poesia regionalista angolana nas décadas de 40 e 50, caracterizando-se a sua obra pelo apego aos valores africanos, quer quanto à temática, quer quanto à forma.
A sua produção está dispersa por publicações periódicas e representada em várias antologias, das quais uma - No Reino de Caliban - reúne a sua obra poética.
Foi um principais mentores do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola (1948) e da revista Mensagem (1951-1952).
Saíu de Angola em 1957 e em Paris foi juntar-se a Mário Pinto de Andrade, tendo desenvolvido intensa actividade política e cultural.
Foi membro-fundador e o primeiro secretário-geral do MPLA. durante os primeiros anos da década 60.
Dissidente deste movimento, esteve exilado em Portugal e noutros países europeus, fixando-se posteriormente na China, onde veio a falecer em 13 de Julho 1973.
Obra Poética
Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império.
Fonte: www.lusofoniapoetica.com
13 comentários:
Muito bom!!!
Sum santo zinfio pra todo mundo, que vem buscar nos seus apelos, um remedio pra lá de bom pra colocá as coisa nu lugá...
Sum caboclo dus orixás qui é prumode rezá...
Adorei o santo das causas justas e das injustas que se acham justas..
Sempre trazendo o de melhor aqui no teu recanto meu amigo
Adoro estar sempre a te visitar.
Lindo domingo pra ti e os teus
bjs
Livinha
Muito lindo!Gosto de poesias assim!abraços,lindo doimingo,chica
Uma delícia de ler essas culturas tão que se misturam a santidades sem explicação. É um folclore fabulosos.Adorei! Montão de bjs e abraços
Seu blog está banhado de poesias amado.Parabéns pelo bom gosto.
Um beijo grannnnnnnnde.
Furtado,
Adorei!!!Muito interessante o estilo desse poeta, gostei muito da sua postagem!!
Aqui nós temos a oportunidade de saber um pouco de tudo...e para quem ama poesia, isso é essencial!!
Um grande beijo e tenha uma ótima semana!!!
Reggina Moon
"Que minha solidão me sirva de companhia,que eu tenha a coragem de me enfrentar,que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo."
(Clarice Lispector)
Uma bela semana pra ti amigo,,,paz de Deus sempre....abraços fraternos
Aqui sempre aprendo...
Bjos achocolatados
Aqui sempre aprendo...
Bjos achocolatados
como siempre, mucha calidad es los escritos.
un abrazo
Meu amigo
Que maravilha de poema, sempre escolhe joias raras.
beijinhos
Sonhadora
Cultura é importante para cada povo, todos precisamos acreditar em algo, paz.
Beijo Lisette
Bastante original. Esses personagens são comuns em cidades do interior, tem sempre uma lenda viva, ou morta, para ser contada.
Abração
é um prazer pra-mi un«m angolano encontrar aqui esta obra de viriato da cruz.
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