terça-feira, 29 de abril de 2014

Aquela Noite.


AQUELA NOITE

Aquela noite da maior ventura,
Em que trêmula deste-me a beijar.
Os mornos lábios teus de voragem pura,
Vivo a lembrar.

Nenhuma estrela conseguiu luzir,
Naquela noite tenebrosa e fria.
Porém do nosso amor a refletir,
A chama ardia.

A flor que com fervor que não se doma,
Tu beijaste e me deste de amor louca.
Murcha hoje está, mas guarda ainda o aroma,
Da tua boca.

Noite de amor, de anseio e de pecado,
Que outra, nós não teremos igual.
Na qual vimos enfim concretizado,
Nosso ideal. 

R.S. Furtado 

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domingo, 27 de abril de 2014

Paisagens goianas.

 

PAISAGENS GOIANAS

Estranha sinfonia andam nalva vibrando
batuíras e xeréus, sanhaços e azulões;
por sobre os buritis das marrecas o bando
vai, em arco, guinchando em busca dos sertões.

A palma da indaiá, como velame pando,
freme ao vento. O assa-peixe inclina os seus florões
sobre a tropa, a passar, das madrinhas ao mando,
e estruge na vereda o grito dos peões.

Acorda a várzea em festa. É a ronda das falenas!
A “chuva de cajus” enflorou as campinas
para onde erguem o vôo multicolor das antenas.

Vão as emas, ralhando, através da malhada.
Treme o rócio... E ao sol, que aponta entre colinas,
pulverizam-se em luz as gotas da orvalhada.

Hugo de Carvalho

 
Nasceu na cidade de Goiás, no dia 21 de maio de 1895, filho do juiz de Direito Manoel Lopes de Carvalho Ramos e Mariana Loiola Ramos e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 12 de maio de 1921. Iniciou seus estudos com a mestra Silvina Hermelinda Xavier de Brito. Filho de poeta e irmão do escritor Victor de Carvalho Ramos, frequentou... Leia mais aqui:

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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Dissabor.

 
DISSABOR

Culpado sou também – confesso agora –
do imenso dissabor que me castiga,
desta saudade que em meu peito chora,
depois mudada em sons de uma cantiga.

Cego supunha amar-te à moda antiga,
de dentro vinha o que eu mostrava fora.
Em minha solidão a dor me obriga
a revelar-te o mal que me apavora.

De nossa ligação, jamais eu via
os laços frouxos do começo ao fim,
dissimulados pela fantasia.

O rompimento nos provou assim
os exageros da paixão tardia
que felizmente se afastou de mim.

Eugênio de Freitas

Eugênio de Freitas (Eugênio Martins de Freitas) nasceu no Brejo, MA, a 15/05/21. Advogado, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, aposentado como Diretor-Geral do TER, MA. Um dos fundadores do Instituto dos Advogados do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras Jurídicas. Ex-Vice Presidente da OAB do Brasil (Secção do Maranhão). “Membre d'honneur” da “S.P.E.R. Societé des Poètes et Écrivains Régionalistes”, de Nimes, França, e de várias entidades culturais do Brasil. Prêmios: Doutor em Leis, honoris causa, pela “Samuel Benjamin Thomas University” , de Londres, Inglaterra; Atestado de Reconhecimento Artístico e Cultural, conferido pela... Leia mais aqui: 

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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Supremo Anelo.

SUPREMO ANELO

Voltar a ti, ó terra estremecida,
E ver de novo, à doce luz da aurora,
O vale, a selva, a praia inesquecida,
Onde brincava pequenina outrora;

Ver uma vez ainda essa querida
Serra Dourada que minh'alma adora;
E o velho rio, o Cantagalo, a ermida,
Eis o que sonho unicamente agora.

Depois... morrer fitando o sol no poente,
Morrer ouvindo ao desmaiar fagueiro
da tarde estiva o sabiá dolente.

Um leito, enfim, bordado de boninas,
Onde dormisse o sono derradeiro,
Sob essas verdes, plácidas colinas.

Leodegária de Jesus
  
LEODEGÁRIA DE JESUS, Goiana, de Jataí, 1891, escreveu, entre outros, “ORQUÍDIAS” (1928), “COROA DE LÍRIOS” (1906). Foi criteriosamente estudada por Basileu Toledo França, no livro “POETISA LEODEGÁRIA DE JESUS”. Conforme alguns autores, teria nascido em Caldas Novas, Goiás, em 08.08.1889. Filha de José Antônio de Jesus e Ana Isolina Furtado Lima de Jesus. Estudou no Colégio Santana, de Goiás Velho. Foi uma das redatoras do Jornal A ROSA ao lado de Cora Coralina, em 1907. Depois de passar por várias cidades goianas, inclusive Jataí, mudou-se para Minas Gerais, onde exerceu... Leia mais aqui:

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Renascimento.

  
 
RENASCIMENTO

Nasci de novo. Eis-me liberto, enfim!
Foi por um Céu., de estrelas todo cheio,
Numa visão de amor, que um Anjo veio
Descendo até poisar ao pé de mim.

O beijo que me deu não teve fim...,
Apertou-me nos braços contra o seio,
Abriu os lábios segredando..., e a meio
Bateu asas e levou-me assim.

Ai! Como é doce o seio que me embala!
E como tudo é novo e mais profundo!...
Mas já não volta, ou, quando volta, é morto!

Noutro Mundo melhor eu vivo absorto,
E logo conheci que a esse Mundo
Quem vai não volta, ou, quando volta, é morto!

Jaime Cortesão
  
De seu nome completo Jaime Zuzarte Cortesão, nasceu em 1884 perto de Cantanhede, mas mesmo jovem a sua família se transferiu para próximo de Coimbra, onde iniciou os estudos. A sua vida de estudante universitário foi uma sucessão de experiências depressa abandonadas (passou por Grego, Direito e Belas Artes) antes de se fixar em Medicina, que terminaria em Lisboa com uma tese que espelha já a sua multiplicidade de interesses (A Arte e a Medicina – Antero de Quental e Sousa Martins). A medicina não era, porém, a sua paixão; exerceu-a sem grande entusiasmo, e cedo se entregou a outras atividades, nomeadamente ao... Leia mais aqui:

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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Cristo.



CRISTO

Tendo por leito, a miseranda cruz,
Onde o pregaram os algozes seus.
De espinhos, preso a fronte, o vil capuz,
- Vilão - por ser rei dos judeus.

Por ser bom, por ser justo, por ser Deus,
Pelo bem, pelo amor e pela luz.
Que na terra espalhou vindo dos céus,
Crucificado morre o bom Jesus.

Ao exalar o seu suspiro extremo,
Perdoa os homens ímpios criaturas,
Com o olhar que lhes lança o ser supremo.

E, para iluminar sua agonia,
Como estrelas candentes vagam puras,
As lágrimas nas faces de Maria.

R.S. Furtado.

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Feliz Páscoa para todos!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A Árvore.

 

A ÁRVORE

Ó árvore, quantos séculos levaste
o aprender a lição que hoje me dizes:
o equilíbrio, das flores às raízes,
sugerindo harmonia onde há contraste?

Como consegues evitar que uma haste
e outra se batam, pondo cicatrizes
inúteis sobre os mesmos infelizes?
Quando as folhas e os frutos comungaste?

Quantos séculos, árvore, de estudos
e experiências – que o vigor consomem
entre vigílias e cismares mudos –

demoraste aprendendo o teu exemplo,
no sossego da selva armada em templo?
E dize-me: há esperança para o homem?

Geir Campos
Geir Campos (São José do Calçado ES 1924 – Niteroi RJ 1999) . Poeta, dramaturgo, tradutor, editor, jornalista, ensaísta, contista e autor de literatura infantil e juvenil. Inicia a carreira de escritor nos anos 1940 divulgando na imprensa contos e poemas originais e traduzidos, ao mesmo tempo que trabalha como piloto da Marinha Mercante. Seu primeiro livro de versos, Rosa dos Rumos, é publicado em 1950. Em 1956 é chamado por Ênio Silveira (1925-1996), então presidente do Sindicato nacional das Empresas Editoras de Livros – Snel, para o cargo de relações públicas da instituição. Ainda nesse ano, realiza-se o... Leia mais aqui: 

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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Amada filha.

 
 

Maria Ifigênnia
AMADA FILHA

Amada filha, é já chegado o dia,
em que a luz da razão, qual tocha acesa,
vem conduzir a simples natureza:
– é hoje que o teu mundo principia.

A mão, que te gerou, teus passos guia;
despreza ofertas de uma vã beleza,
e sacrifica as honras e a riqueza
às santas leis do Filho de Maria.

Estampa na tua alma a Caridade,
que amar a Deus, amar aos semelhantes,
são eternos preceitos da verdade.

Tudo o mais são ideais delirantes;
procura ser feliz na Eternidade,
que o mundo são brevíssimos instantes.

Bárbara Heliodora
Bárbara nasceu Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, em São João Del Rei, Minas Gerais, em 1759. Primeira poeta brasileira, culta e revolucionária, Bárbara foi uma mulher que, em toda sua vida, agiu com coragem e fibra. Aos 20 anos se apaixonou pelo poeta Alvarenga Peixoto. Da paixão, nasceu Maria Ifigênia.

O casamento só aconteceu depois do nascimento da menina e Bárbara manteve o nome de solteira. A ligação entre os dois foi marcada pela harmonia e companheirismo. O casal teria, ainda, outros três filhos. Bárbara e Alvarenga Peixoto participaram da organização da inconfidência do País.

Segundo Aureliano Leite, no livro “A Vida Heróica de Barbara Heliodora”, a presença de Bárbara foi fundamental na vida de... Leia mais aqui:

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sábado, 12 de abril de 2014

Saudade do teu corpo.


SAUDADE DO TEU CORPO

Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma?

Anda a saudade do teu corpo (sentes?...)
Sempre comigo: deita-te ao meu lado,
dizendo e redizendo que não mentes
quando me escreves: “vem, meu todo amado...”

É o teu corpo em sombra esta saudade...
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:
a luz do seu olhar é escuridade...

Fecho os olhos ao sol para estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra...
Vês?! A saudade é um escultor antigo!

António Patrício
António Patrício nasceu a 7 de março de 1878, no Porto, filho de António José Patrício, armador e proprietário de uma agência funerária, e de Emília Augusta da Silva Patrício, doméstica.

Estudou no Liceu Nacional Central do Porto e, em 1893, com 15 anos, matriculou-se na Academia Politécnica do Porto, como aluno voluntário. Não teve muito sucesso neste seu primeiro percurso como estudante do ensino superior e, em 1897, abandonou a Academia sem ter obtido qualquer grau acadêmico.

Em Setembro de 1898 foi cumprir o serviço militar e, alguns meses depois, casou-se com Alice Minie Josephine d'Espiney. No ano seguinte, nasceu... Leia mais aqui: 

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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Meu lindo sabiá.



MEU LINDO SABIÁ
  
Vós que cantais no alto da laranjeira,
Externando ao mundo a vossa melodia.
Sem temerdes a ação da baladeira,
Que pra vós por certo, faz pontaria.
Refletis no canto vossa real beleza,
Que a todos encantam, sois maravilhoso.
Impondes vossa formosura e realeza,
Ao cantardes, sois magno, sois valoroso.
Ouvir-vos é terno, é sagrado, é sublime,
Que até aos ímpios e impuros redime,
Gorjeio igual neste mundo não há.
Deis a mim a honra de feliz primazia,
De ouvir vosso canto como uma magia,
Venhais a mim e canteis meu lindo Sabiá.
R.S. Furtado.   
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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ser e não ser.


SER E NÃO SER
Se te procuro, fujo de avistar-te,
E se te quero, evito mais querer-te,
Desejo quase... quase aborrecer-te,
E se te fujo, estás em toda parte.

Distante, corro logo a procurar-te,
E perco a voz e fico mudo ao ver-te,
Se me lembro de ti, tento esquecer-te,
E se te esqueço, cuido mais amar-te.

O pensamento assim partido ao meio,
E o coração também assim partido,
Chamo-te e fujo, quero-te e receio!

Morto por ti, eu vivo dividido,
Entre o meu e o teu ser sinto-me alheio,
E sem saber de mim, vivo perdido!

José Bonifácio

Naturalista, estadista e poeta. José Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em Santos, em 13 de jundo de 1763, faleceu em 6 de abril de 1838, na cidade de Niterói. Seu nome é referido historicamente como o “Patriarca da Independência”.

Era de uma família aristocrata portuguesa, filho de Bonifácio José Ribeiro de Andrada e de Maria Bárbara da Silva. Sua mãe teve dez filhos, sendo quatro mulheres e seis homens. Aprendeu a ler e escrever com o próprio pai, pois ná época, não havia escola perto de onde morava.

Em 1777, mudou-se para São Paulo, onde pode estudar de forma mais regular as matérias de gramática, retórica e filosofia que eram oferecidas por Dom Frei Manuel da Ressurreição. O Frei Manuel da Ressurreição prestava um ensino preparatório para... Leia mais aqui: 

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sábado, 5 de abril de 2014

Tântalo.

 
 
TÂNTALO

Não poderei ter de certo os olhos sempre enxutos
Quem sofre qual, no Erebo, o Tãntalo maldito:
Sedento – vê debalde um córrego infinito;
Faminto – vê debalde os floridos produtos!...

Ante um castigo tal, que apiedava os brutos
Leve talvez pareça um bárbaro delito!...
Foge sempre a torrente ao mísero precito
E, se tenta comer, escapam-se-lhe os frutos!

Há Tântalos também na vida transitória:
Querem estes a lympha e os pomos do talento,
E morrem no hospital para viver na história.

Desditosos que são... no malogrado intento!...
Longe de haverem ganho os loiros da vitória,
Encontram no sepulcro o eterno esquecimento!

Inácio Raposo
  
Inácio Raposo – Escritor brasileiro. Nasceu em Alcântara, Estado do Maranhão, a 16-6-1875. Iniciou seus estudos na terra natal. Aos doze anos veio para São Luís, onde fez o curso de humanidades. Frequentou escolas superiores de Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Dedicou-se à imprensa e ao magistério. Foi professor catedrático de filosofia do direito, do Rio de Janeiro e de metafísica, na faculdade de Filosofia da mesma cidade. Embora não se sentisse atraído para as agremiações científicas, foi eleito membro de diversas delas, nacionais e estrangeiras. Ingressando temporariamente na política, representou como deputado seu Estado natal, destacando-se, no desempenho do mandato,... Leia mais aqui:

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