quarta-feira, 31 de março de 2010

Ósculos.

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Beijos

Quando estamos na quadra da inocência,
Temos um beijo de supremo bem.
Beijo de amor, de zelo e de carícias,
- O beijo santo de mãe.

Quando estamos na quadra florescente,
Da juventude alegre e alvoroçada.
Temos na boca, sôfrego e ardente,
- O beijo da noiva amada.

Quando temos o sonho realizado,
E, a vida se completa venturosa.
Temos por prêmio, então,
- O beijo da terna esposa.

Depois vem meigamente à nossa frente,
Qual estrela puríssima que brilha,
Ao vir da noite em límpido horizonte,
- O casto beijo da filha.

Por fim, sentimos conformadamente,
Quando nossa alma busca em certa noite.
Que as pálpebras nos fecha eternamente,
- O frio beijo da morte.

R.S. Furtado.

terça-feira, 30 de março de 2010

A escravidão.

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A ESCRAVIDÃO

Se é Deus quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em delírio inefável,
Praticando a caridade
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!...

Tobias Barreto.

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Tobias Barreto de Meneses nasceu em Sergipe, em 07 de junho de1839. Mestiço, filho de um escrivão pobre, iniciou estudos com professores particulares em sua província natal. Aos 15 anos era professor de latim em Itabaiana. Na Bahia, influenciado pela leitura de Victor Hugo, iniciou a carreira literária. No Recife, onde bacharelou-se em Direito, ainda em quanto estudante, produziu a maior parte de sua poesia e polemizou com Castro Alves, formando-se em torno dos dois poetas grupos rivais, que gastaram muita energia em “torneios poéticos”. Nada de significativo, no final das contas. Advogado, mas exercendo também outras atividades para sobreviver, acabou por tornar-se professor catedrático da Faculdade de Direito do Recife, alcançando renome como jurista, filósofo e estudioso da cultura alemã. Apesar disso, morreu na miséria e no abandono, em 26 de junho de1889, deixando discípulos como Graça Aranha e especialmente Silvio Romero, que publicou, em 1903, o volume Dias e Noites com poemas de Tobias Barreto. Foi também Silvio Romero quem mais reivindicou a primazia para Tobias Barreto da renovação das ideias no Brasil, no último quartel do século passado, através da Escola do Recife.

Ainda antes de concluir o curso de Direito casou-se com a filha de um coronel do interior, proprietário de engenhos no município de Escada.

A residência em Escada durou cerca de dez anos. Ao voltar ao Recife, aos escassos proventos que recebia juntaram-se os problemas de saúde que acabaram por impedí-lo de sair de casa.

Tentou uma viagem à Europa para restabelecer-se fisicamente. Faltavam-lhe os recursos financeiros para isso. Em Recife abriram-se subscrições para ajudá-lo a custear-lhe as despesas.

Em 1889 estava praticamente desesperado. Uma semana antes de morrer enviou uma carta a Sílvio Romero solicitando, angustiosamente, que lhe enviasse o dinheiro das contribuições que haviam sido feitas até 19 de junho daquele ano. Sete dias mais tarde falecia, hospedado na casa de um amigo.

A obra de Tobias é de significativo valor, levando em conta que o professor sergipano não chegou a conhecer a capital do Império.

Fonte: “Antologia de Poesia Brasileira – Romantismo”. Editora Ática – 1996 e Academia Brasileira de Letras.

segunda-feira, 29 de março de 2010

No teu aniversário.

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NO TEU ANIVERSÁRIO

No lar cercam-te vozes d’alegria
em bando, em nuvens d’oiro, mariposas
que o teu olhar atrai. Canções e rosas
sob os teus pés desfolham-se à porfia.

A noite, alva corbelha de mimosas
sobre ti volta o arcanjo da poesia.
Nublam-se o sono as ondas vaporosas
do turib’lo do amor, como de dia.

Vives feliz no angélico ambiente
de fortuna, feliz. Mas considera,
que eu um pobre, eu misérrimo, eu doente,

eu vibraria a lira, se pudera
vibrar a lira frágil e inocente
a bruta e hedionda garra duma fera.

João Ribeiro.

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João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes nasceu em laranjeiras, no estado de Sergipe, em 24 de junho de 1860. Em 1881 estava no Rio de Janeiro, onde se fez professor de estabelecimentos particulares de ensino. Em 1885 foi nomeado para a Biblioteca Nacional, depois de ter prestado concurso, e em 1887 concorreu à cadeira de Português do Colégio Pedro II, vindo a ser nomeado em 1890, professor de História Universal do mesmo colégio. Em 1894 formou-se em Direito e no ano seguinte visitou a Alemanha, a Itália, a Inglaterra e a França: estudou pintura no primeiro desses países, e recebeu a incumbência oficial de estudar a instrução pública européia. Em 1901 realiza outra viagem à Europa, e aperfeiçoa seus conhecimentos de pintura na Itália; em 1913 viaja para o Velho Mundo pela terceira e última vez. Em 1898 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na primeira vaga ocorrida, a de Luís Guimarães Júnior, e em 1900 realizou no Rio de Janeiro uma exposição de seus quadros. Faleceu na então capital da República, em 13 de abril de 1934.

João Ribeiro foi de início considerado realista por Silvio Romero, em função de um livro que não chegou a publicar, Idílios Modernos, mas logo se fez o mais parnasiano que pode, como se observa pela exploração de temas gregos, na série de sonetos “Museon”, e não só por essa exploração, como pelo boleio da frase, pelas inversões e pelo uso sistemático das figuras de palavras. João Ribeiro tinha grande simpatia pelos novos; incentivou, por exemplo, os modernistas, mas o simbolismo jamais lhe agradou.

Não obteve grande evidência no parnasianismo, situação que ele próprio acoroçoou, ao dizer-se “péssimo poeta” e ao deixar a poesia de lado, ou quase. Granjeou, contudo, larga fama de erudito, fama essa que Alberto Ramos julgava curta para seu mérito, muito superior.

Fonte: “Poesias Parnasianas – Antologia” – Edições Melhoramentos – 1967.

domingo, 28 de março de 2010

O primeiro vestido de cauda.

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O PRIMEIRO VESTIDO DE CAUDA

1260 – Inventam-se os vestidos de cauda. Luís IX (1215-1270), rei da França, canonizado pelo papa Bonifácio VIII, tinha umas filhas que possuíam pés desconformes. Elas demonstravam certo acanhamento no andar e até mesmo vergonha de mostrá-los, principalmente quando havia visitas ou recepção na corte. Para escondê-los inventaram uns vestidos de cauda que, além de cobrirem seus pés, ainda lhes davam elegância no andar, firmeza nos gestos e maior ar de autoridade e nobreza. Desde então a moda pegou entre as palacianas e até entre as noivas, visto que o vestido de cauda se tornou para a mulher um símbolo ou princípio de autoridade ou de dirigente, quer na política quer no lar.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume1, páginas 90/91.

sábado, 27 de março de 2010

Dá meia-noite.

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DÁ MEIA-NOITE

Dá meia-noite; em céu azul ferrete
Formosa espádua a lua
Alveja nua,
E voa sobre os templos da cidade.

Nos brancos muros se projetam sombras;
Passeia a sentinela
À noite bela
Opulenta da luz da divindade.

O silêncio respira; almos frescores
Meus cabelos afagam;
Gênios vagam,
De alguma fada no ar andando a caça.

Adormeceu a virgem; dos espíritos
Jaz nos mundos risonhos –
Fora eu os sonhos
Da bela virgem... Uma nuvem passa.

Sousândrade.

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Joaquim de Sousa Andrade nasceu na Fazenda de Nossa Senhora da Vitória, Comarca de Alcântara, Município de Guimarães, no Maranhão, em 09 de julho de 1832. Estudou primeiramente em São Luís e mais tarde em Paris, aí cursando letras em Sorbonne e engenharia de minas. Viajou através da Amazônia, onde observou costumes indígenas. Posteriormente, percorreu vários países da Europa e da América Latina.

Para acompanhar os estudos da filha, após a separação da mulher, fixou residência em Nova York, onde publicou alguns livros de poesia, e participou da revista O Novo Mundo, como editor e autor de artigos políticos e literários.

De volta ao Brasil, participou da campanha abolicionista e republicana e integrou o primeiro governo republicano do Estado do Maranhão, tendo sido também o idealizador de sua bandeira. Em São Luís, foi professor de grego, e concebeu um plano de fundar uma universidade, que acabou frustrado. Morreu pobre e esquecido, em 21 de abril de 1902.

Fonte: “Antologia de Poesia Brasileira – Romantismo” – Editora Ática – 1996.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Crepuscular

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CREPUSCULAR

Esta nossa paixão já desmedida,
Refletem nossos olhos que se falam.
Já são de outono as flores que na vida,
Nós colhemos, mas não se despetalam.

Tu sentes a tua alma estremecida,
Aos sonhos desventuras que te embalam.
E me sendo a ventura apetecida,
Os meus sonhos aos teus então se igualam.

Com teu meigo sorriso e terno olhar;
Tu me impeles a amar-te ardentemente,
Mesmo sendo um amor crepuscular.

Se de amor para nós um ninho teces,
Embora eu seja um sol já no poente,
Posso dar-te amor, os beijos que mereces.

R.S. Furtado

quarta-feira, 24 de março de 2010

Asas úmidas.

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ASAS ÚMIDAS

Melhor, muito melhor, anjo, te fora
não roçares, brincando, as leves plumas
das tuas asas, brancas como espumas,
pela minha cabeça pecadora...

não há em mim a seda protetora
das rosas frescas, onde os pés perfumas,
nem a macia flacidez das brumas
em que poreja uma alvorada loura.

Arfa teu seio na delícia extrema,
como o peito selvagem de Iracema
naquele sonho olímpico da rede;

vieste rompendo castas madrugadas,
que ainda tens as penas salpicadas
de cristalino orvalho, e eu tenho sede!...

B. Lopes.

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 Imagen da web
                                                          
Bernardino da Costa Lopes nasceu no arraial de Boa Esperança, município de Rio Bonito, na Província do Rio de Janeiro, em 15 de janeiro de 1859. Depois de estudar as primeiras letras, vai para Japuíba (1874), onde se torna caixeiro de padaria e faz estudos preparatórios e no ano seguinte se muda para Porto de Caxias. Em 1876 fixa-se no Rio de Janeiro, onde presta concurso para os correios, obtendo o posto. Casa-se, desorganiza sua vida, fica tuberculoso (1906) e vem a falecer em 18 de setembro de 1916, no Rio de Janeiro.

Há na geração parnasiana algumas figuras de posição multivalente, como Luís Delfino ou B. Lopes. Estreou este com Cromos, livro no qual aliara à fidelidade de observação a diretriz campesina adotada por certos poetas românticos das últimas levas, como Bruno Seabra ou Ezequiel Freire. Esses cromos de B. Lopes, em substância derivados das Miniaturas de Gonçalves Crespo, obtiveram repercussão e marcaram largamente o nosso parnasianismo e neoparnasianismo. Há reflexões deles, digamos, tanto em Zeferino Brasil como em Ricardo Gonçalves, para citarmos dois casos.

B. Lopes não teve existência feliz: apaixonando-se por “Sinhá Flor”, a “esguia mameluca”, esta o deprimiu e lhe arrasou a vida; dado ao vício da embriaguez, até internado em hospício andou. Morreu ridicularizado por causa do infeliz soneto de propaganda da candidatura de Mal. Hermes da Fonseca, no qual chamava o futuro presidente da República de “cheirosa criatura”. Seu nível artístico não foi regular, mas nos melhores casos pode representar um dos aspectos do nosso parnasianismo, o sonoro e colorido.

Em 1890, Cruz e Souza chegou ao Rio de Janeiro: ele, B. Lopes, Emiliano Perneta e Oscar Rosas formaram o primeiro grupo de simbolistas brasileiros. Desse novo período, fazem parte Brasões (1895) e Val de Lírios (1900), entre outros.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

terça-feira, 23 de março de 2010

Ave! Maria!

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AVE! MARIA!


A noite desce, – lentas e tristes
Cobrem as sombras a serrania,
Calam-se as aves, – choram os ventos,
Dizem os gênios: – Ave! Maria!


                                      Na torre estreita de pobre templo
                                      Ressoa o sino da freguesia,
                                      Abrem-se as flores, – vésper desponta,
                                      Cantam os anjos: – Ave! Maria!


No tosco alvergue de seus maiores,
Onde só reinam paz e alegria,
Entre os filhinhos o bom colono
Repete as vozes: – Ave! Maria!


                                     E, longe, longe, – na velha estrada,
                                     Pára, – e saudades à pátria envia,
                                     Romeira exausta, que o céu contempla
                                     E fala aos ermos: – Ave! Maria!


Incerto nauta por feios mares,
Onde se estende névoa sombria,
Se encosta ao mastro, descobre a fronte,
Reza baixinho: – Ave! Maria!


                                    Nas soledades, sem pão nem água,
                                    Sem pouso e tenda, sem luz nem guia,
                                    Triste mendigo, que as praças busca,
                                    Curva-se e clama: – Ave! Maria!


Só nas alcovas, nas salas dúbias,
Nas longas mesas de longa orgia
Não diz o ímpio, – não diz o avaro,
Não diz o ingrato: – Ave! Maria!


                                   Ave! Maria! – No céu, na terra!
                                   Luz da aliança! – Doce harmonia!
                                   Hora divina! – Sublime estância!
                                   Bendita sejas! – Ave! Maria!


Fagundes Varela.

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Luís Nicolau Fagundes Varela, poeta, nasceu em Rio Claro, RJ, em 17 de agosto de 1841, e faleceu em Niterói, RJ, em 17 de fevereiro de 1875. É o patrono da Cadeira n. 11, por escolha do fundador Lúcio de Mendonça. Era filho do Dr. Emiliano Fagundes Varela e de Emília de Andrade, ambos de famílias fluminenses bem situadas. Passou a infância na fazenda natal e na vila de S. João Marcos, de que o pai era juiz. Depois, residiu em vários locais. Primeiro em Catalão (Goiás), para onde o magistrado fora transferido em 1851 e onde Fagundes Varela teria conhecido o juiz municipal Bernardo Guimarães. De volta à terra natal, residiu em Angra dos Reis e Petrópolis, onde fez os estudos do primário e secundário. Em 1859, foi terminar os preparatórios em São Paulo. Só em 1862 matricula-se na Faculdade de Direito, que nunca terminou, preferindo a literatura e dissipando-se na boêmia. Em 1861, publicara o primeiro livro de poesias, Noturnas.

Contraiu matrimônio com a artista de circo Alice Guilhermina Luande, de Sorocaba, que provocou escândalo na família e agravou-lhe a penúria financeira. O primeiro filho, Emiliano, morto aos três meses de idade, inspirou-lhe um dos mais belos poemas, Cântico do Calvário. A partir daí, acentuam-se nele a tendência ambulatória e o alcoolismo, mas também a inspiração criadora. Publicou Vozes da América em 1864 e a sua obra-prima Cantos e fantasias, em 1865. Nesse ano, ou em 66, durante uma viagem prolongada a Recife, faleceu-lhe a mulher, que não o acompanhara ao Norte. Ele voltou a São Paulo, matriculando-se em 1867 no 4o ano do curso de Direito. Abandonou de vez o curso e recolheu-se à casa paterna, na fazenda onde nascera, em Rio Claro, onde permanece até 1870, poetando e vagando pelos campos. Deixou-se sempre ficar na vida indefinível de boêmio, sem rumo, sem destino determinado. Casou-se pela segunda vez com a prima Maria Belisária de Brito Lambert, com quem teve duas filhas e um filho, este também falecido prematuramente. Em 1870, mudou-se com o pai para Niterói, onde viveu até o fim da vida, com largas estadas nas fazendas dos parentes e certa freqüência nas rodas da boêmia intelectual do Rio.

Vivendo na última fase do Romantismo, a sua poesia revela um hábil poeta do verso. Em “Arquétipo”, um dos primeiros poemas, faz profissão de fé de tédio romântico, em versos brancos. Embora o preponderante em sua poesia seja a angústia e o sofrimento, evidenciam-se outros aspectos importantes: o patriótico, em O estandarte auriverde (1863) e Vozes da América (1864); o amoroso, na fase lírica, dos poemas ligados à natureza, e, por fim, o místico e religioso. O poeta não deixa de lado, também, os problemas sociais, como o abolicionismo.

Fontes: “Poetas Românticos Brasileiros” – Editora Amadio – Vol. 3, Pgs. 193/194 e “Academia Brasileira de Letras”

segunda-feira, 22 de março de 2010

A descoberta da anestesia.

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A DESCOBERTA DA ANESTESIA

1844Horace Wells, dentista americano, descobre a anestesia dentária. Exercia a Odontologia em Hartford, Connecticut. Assistiu a 10 de dezembro a uma exibição, em que o público se divertia com os efeitos cômicos do protóxido de azoto. Desgovernado pela inalação deste gás, um caiu com a perna sangrando, sem sentir dor. Wells, que tudo observara, convidou o químico, Dr. G. Q. Colton, preparador do referido protóxido a ir ao seu consultório. Presente ali no dia imediato, Wells pediu ao seu colega Riggs que lhe extraísse um molar superior, inalando previamente aquele gás. Assim se fez tendo o Dr. Colton lhe anestesiado. Após a extração disse Wells: “Eis aqui uma nova era da extração dentária. Nada me doeu, nem sequer a dor da picada de um alfinete. É a maior descoberta já feita”. Desde então Wells passou a aplicar diariamente o protóxido de azoto. Em 1845 foi a Boston propagar seu novo método. Dentre os dentistas e médicos, somente Morton, seu antigo discípulo e colega de consultório lhe deu crédito. Ambos convidaram o Dr. Warren, do Hospital Geral de Massachusetts para uma demonstração aos seus alunos. Este, apesar de não crer na eficiência do protóxido de azoto, incapaz, segundo ele, de anestesiar o tempo suficiente do ato cirúrgico, acedeu ao convite. Reuniu na mesma noite os estudantes. Iniciada a operação, diante de grande expectativa, o paciente gemeu do primeiro ao último instante, redundando em tremando fracasso. Wells foi ridicularizado e tachado de charlatão. Fora infeliz. O gás empregado era de qualidade inferior. Desiludido, voltou a Hartford. Dois anos depois, mais entusiasmado, embarcou para a Europa, a fim de difundir a sua descoberta. A Sociedade Médica Francesa e os demais médicos europeus, porém, não lhe deram ouvidos. Preferiram o éter sulfúrico, de origem européia, mais conhecido entre eles. Além disso, um médico escocês, o Dr. Simpson, descobriu os efeitos do clorofórmio como anestésico. Desesperado, Wells voltou para os Estados Unidos. Somente mais tarde é que a Sociedade Médica Francesa lhe conferia um Diploma de Honra. Reconheceu nele o verdadeiro descobridor da anestesia pelo protóxido. Uma carta lhe comunicara que a Associação dos Médicos de Paris “proclamara, por um voto, que é unicamente a Horace Wells, de Hartford, Connecticut, que cabe a honra de ter pela primeira vez vencido a dor, fazendo um doente respirar os gases vaporizados”. Esta carta, porém, chegou atrasada. Alguns dias antes, a 24 de janeiro de 1848, torturado e desgostoso, Horace Wells já se havia suicidado.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume 3, página 409.

domingo, 21 de março de 2010

Cuidado!

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CUIDADO!

Ó namorados que passais, sonhando,
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!

Desperta os ninhos vosso passo... E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando...

Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem ver!

Poupai a ingenuidade delicada
dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!

Guilherme de Almeida.

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Terceiro ocupante da Cadeira 15, eleito em 06 de março de 1930, na sucessão de Amadeu Amaral e recebido pelo Acadêmico Olegário Mariano em 21 de junho de 1930. Recebeu o Acadêmico Cassiano Ricardo.

Guilherme de Andrade e Almeida, poeta e ensaísta, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de 1890, e faleceu em São Paulo, SP, em 11 de julho de 1969.

Filho do jurista e professor de Direito Estevam de Almeida, estudou nos ginásios Culto à Ciência, de Campinas, e São Bento e N. Sra. do Carmo, de São Paulo. Cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, onde colou grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1912. Dedicou-se à advocacia e à imprensa em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foi redator de O Estado de São Paulo, diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite, fundador do Jornal de São Paulo e redator do Diário de São Paulo.

A publicação do livro de poesias Nós (1917), iniciando sua carreira literária, e dos que se seguiram, até 1922, de inspiração romântica, colocou-o entre os maiores líricos brasileiros. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna, fundando depois a revista Klaxon. Percorreu o Brasil, difundindo as idéias da renovação artística e literária, através de conferências e artigos, adotando a linha nacionalista do Modernismo, segundo a tese de que a poesia brasileira “deve ser de exportação e não de importação”. Os seus livros Meu e Raça (1925) exprimem essa orientação fiel à temática brasileira.

A sua entrada na Casa de Machado de Assis significou a abertura das portas aos modernistas. Formou, com Cassiano Ricardo, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia e Alceu Amoroso Lima, o grupo dos que lideraram a renovação da Academia.

Em 1932 participou da Revolução Constitucionalista de São Paulo e esteve exilado em Portugal. Distinguiu-se também como heraldista. É autor dos brasões-de-armas das seguintes cidades: São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP). Compôs um hino a Brasília, quando da inauguração da cidade. Em concurso organizado pelo Correio da Manhã foi eleito, 16 de setembro de 1959, “Príncipe dos Poetas Brasileiros” (4o do título).

Era membro da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; do Seminário de Estudos Galegos, de Santiago de Compostela; e do Instituto de Coimbra.
Traduziu, entre outros, os poetas Paul Géraldy, Rabindranath Tagore, Charles Baudelaire, Paul Verlaine e, ainda, a peça a peça Huis clos (Entre quatro paredes) de Jean Paul Sartre.

Fonte: Academia Brasileira de Letras.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Felicidade.

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FELICIDADE

Sempre que a procurava, era inútil, ela não ligava,
Fingia não me ver, seguia em frente, ia embora.
E eu numa tristeza infinda, me mal dizia, me amargurava,
Mas, insistia no meu intento, em todo momento, a toda hora.

Às vezes, eu por ela passava e humildemente a olhava
Na esperança que um dia, na minha vida ela entrasse.
E indiferente a tudo, como sempre ela me ignorava,
Tirando-me a ilusão que da minha vida compartilhasse.

Com muita obstinação continuei, da luta jamais desisti,
Sem relutar dei tudo de mim, o possível e o impossível.
Cansei, tropecei, caí, levantei, investi na batalha, persisti,
Decididamente não esmoreci, acreditei ser previsível.

Hoje, dou graças ao Senhor por me ter proporcionado,
Saber da força do seu poder e da sua infinita bondade.
Pois ao acordar, como um lindo troféu estava ao meu lado,
A minha querida tão sonhada e almejada felicidade.

R.S. Furtado.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Renúncia.

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RENÚNCIA

Renunciar. Todo o bem que a vida trouxe,
toda a expressão do humano sofrimento.
A gente esquece assim como se fosse
um voo de andorinha em céu nevoento.

Anoiteceu de súbito. Acabou-se
tudo... A miragem do deslumbramento...
Se a vida que rolou no esquecimento
era doce, a saudade inda é mais doce.

Sofre de ânimo forte, alma intranquila!
Resume na lembrança de um momento
teu amor. Olha a noite: ele cintila.

Que o grande amor, quando a renúncia o invade,
fica mais puro porque é pensamento,
fica muito maior porque é saudade.

Olegário Mariano.

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Olegário Mariano Carneiro da Cunha nasceu no Recife, em 24 de março de 1889, e mudou-se para o Rio de Janeiro no primeiro decênio do século; freqüentou a roda de Olavo Bilac, Guimarães Passos, Emílio de Meneses, Coelho Neto, Martins Fontes e outros. Estreou na vida literária aos 22 anos com o volume Ângelus, em 1911. Sua poesia falava de neblinas, de cismas e de sofrimentos, perfeitamente identificada com os preceitos do Simbolismo, já em declínio. Foi inspetor do ensino secundário, censor teatral, secretário de embaixada na missão Melo Franco (1918, Bolívia), representante à Constituinte de 1934, deputado federal, ministro plenipotenciário nos Centenários de Portugal (1940), embaixador no mesmo país (1953-1954). Foi tabelião de notas e oficial do Registro de Imóveis no Rio, e faleceu em 28 de novembro de 1958. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras e à Academia de Ciências de Lisboa.

Fontes: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967 e Academia Brasileira de Letras.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O camarim.

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O CAMARIM

A luz do sol afaga docemente
As bordadas cortinas de escumilha;
Penetrantes aromas de baunilha
Ondulam pelo tépido ambiente.

Sobre a estante do piano reluzente
Repousa a Norma, e ao lado uma quadrilha;
E do leito francês nas colchas brilha
De um cão de raça o olhar inteligente.

Ao pé das longas vestes, descuidadas
Dormem nos arabescos do tapete
Duas leves botinas delicadas.

Sobre a mesa emurchece um ramalhete,
E entre um leque e umas luvas perfumadas
Cintila um caprichoso bracelete.

Gonçalves Crespo.

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Antonio Candido Gonçalves Crespo nasceu em 11 de março de 1846 nas cercanias do Rio de Janeiro, mas aos 14 anos, por motivo de saúde, foi enviado para Portugal. Lá esteve no Porto e em Braga, e formou-se pela Universidade de Coimbra. Casando-se, fez carreira no jornalismo e na política: elegeu-se deputado por Goa, e reelegeu-se para 1882-1884. Sócio da Academia Real de Ciências de Lisboa, faleceu em 11 de junho de 1883.

No próprio frontispício de seu livro de estréia, Miniaturas, impresso em Coimbra, Gonçalves Crespo acentuava sua condição brasiliense, ao colocar debaixo do seu nome a indicação: “natural do Rio de Janeiro”. Isso e mais as reminiscências locais que lhe colorem a poesia, de modo intenso e real, permitem situá-lo como poeta brasileiro: “talentoso patrício nosso” chamava-o Machado de Assis. Como, apesar disso, ele se radicou em Portugal, onde se casou com a escritora D. Maria Amália Vaz de Carvalho e onde fez carreira política, figura também na literatura portuguesa, em curioso caso de dupla nacionalidade literária.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

terça-feira, 16 de março de 2010

Anel Nupcial.

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"ANEL NUPCIAL"

650 ac – Estabelece-se por lei o uso do Anel Nupcial. – Essa primeira lei que se conhece, no caso, é de autoria de Chindasvinto, Rei dos Visigodos da Espanha, que sucedeu a Tulga, contra o qual se rebelou, representando o triunfo da nobreza, assim como o seu antecessor ocupara o trono apoiado pelo clero. Cingiu a coroa já em idade madura, em 652 e faleceu em 642. Isto se deu numa ocasião em que os visigodos já se encontravam em plena decadência e na iminência de desaparecer. Em 650 Chindasvinto promulga uma lei ordenando o uso nupcial entre os visigodos. No ano de 712 Luitprando instituía uma lei idêntica entre os Lombardos. A história do anel, porém, se perde na noite dos tempos. Hebreus, egípcios, gregos e romanos o usaram. Era entre esses povos um símbolo de autoridade e respeito. Entre os povos egípcios e gregos o anel era trocado entre dois homens, a fim de selar um serio compromisso, de que nenhum deles poderia se eximir, pois, caso contrário, perderia a própria cidadania e ficaria relegado à condição de escravo. Quando Roma se tornou senhora do mundo, seus cofres se abarrotaram de ouro, a fim de manter os nobres na sua elevada posição de luxos e viagens oficiais e conseguir novas conquistas. As moedas e anéis eram feitos com esse precioso metal. Os romanos achavam que o uso dum anel de ferro seria humilhante e os colocaria na condição de servos. Foi quando no ano de 202 da nossa era Lúcio Séptimo Severo I regulamentou o seu uso, de modo que os de ouro somente poderiam ser usados pelos nobres, os de prata pelos libertos e os de ferro pelos escravos. Mas desde que Chindasvinto promulgou sua lei, o anel passou a constituir uma aliança entre os que se casavam, perante DEUS, de cuja união não poderiam separar-se senão com o consentimento de ambos.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume1, páginas 20/21.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Meu sonho.

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MEU SONHO

“EU”

Cavaleiro das armas escuras,
Aonde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangüenta na mão?
Porque brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? O remorso?
Do corcel te debruças no dorso...
E galopas do vale através...
Oh! da estrada as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Aonde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro quem és? – que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

“O FANTASMA”

Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...

Álvares de Azevedo.

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Manuel Antônio Álvares de Azevedo, poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo em 12 de setembro de 1831. Patrono da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto. Era filho do então estudante de Direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e de Maria Luísa Mota Azevedo, ambos de famílias ilustres. Em 1833, em companhia dos pais, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 40, ingressou no colégio Stoll, onde consta ter sido excelente aluno. Em 44, retornou a São Paulo em companhia de seu tio. Regressa, novamente ao Rio de Janeiro no ano seguinte, entrando para o internato do Colégio Pedro II.

Em 1848 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi estudante aplicadíssimo e de cuja intensa vida literária participou ativamente, fundando, inclusive, a Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano. Entre seus contemporâneos, encontravam-se José Bonifácio (o Moço), Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães estes dois últimos suas maiores amizades em São Paulo, com os quais constituiu uma república de estudantes na Chácara dos Ingleses. O meio literário paulistano, impregnado de afetação byroniana, teria favorecido em Álvares de Azevedo componentes de melancolia, sobretudo a previsão da morte, que parece tê-lo acompanhado como demônio familiar. Imitador da escola de Byron, Musset e Heine, tinha sempre à sua cabeceira os poemas desse trio de românticos por excelência, e ainda de Shakespeare, Dante e Goethe. Proferiu as orações fúnebres por ocasião dos enterros de dois companheiros de escola, cujas mortes teriam enchido de presságios o seu espírito. Era de pouca vitalidade e de compleição delicada; o desconforto das “repúblicas” e o esforço intelectual minaram-lhe a saúde. Nas férias de 1851-52 manifestou-se a tuberculose pulmonar, agravada por tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, um mês antes. A dolorosa operação a que se submeteu não fez efeito. Faleceu às 17 horas do dia 25 de abril de 1852, domingo da Ressurreição. Como quem anunciasse a própria morte, no mês anterior escrevera a última poesia sob o título “Se eu morresse amanhã”, que foi lida, no dia do seu enterro, por Joaquim Manuel de Macedo.

Entre 1848 e 1851, publicou alguns poemas, artigos e discursos. Depois da sua morte surgiram as Poesias (1853 e 1855), a cujas edições sucessivas se foram juntando outros escritos, alguns dos quais publicados antes em separado. As obras completas, como as conhecemos hoje, compreendem: Lira dos vinte anos; Poesias diversas, O poema do frade e O conde Lopo, poemas narrativos; Macário, “tentativa dramática”; A noite na taverna, contos fantásticos; a terceira parte do romance O livro de Fra Gondicário; os estudos críticos sobre Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla, além de artigos, discursos e 69 cartas.

Preparada para integrar As três liras, projeto de livro conjunto de Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, a "Lira dos vinte anos" é a única obra de Álvares de Azevedo cuja edição foi preparada pelo poeta. Vários poemas foram acrescentados depois da primeira edição (póstuma), à medida que iam sendo descobertos.

Fontes: “Poetas Românticos Brasileiros” – Editora Amádio – Edição 1966. e Academia Brasileira de Letras.

sábado, 13 de março de 2010

Mudanças.

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MUDANÇAS

Olho o relógio, as horas passam e você não vem,
Livrar-me desta solidão, que a mim não convém,
Somente me entristece, maltrata e me amargura.
Libertar-me desta angústia, deste sofrimento,
Que jamais na minha vida, em nenhum momento,
Me fez padecer com tamanha desventura.

Olho-me no espelho, já não mais me conheço,
Pergunto ó céus, por que eu tanto padeço?
Por que tão sofridos estes castigos meus?
Que será que eu fiz pra ser tão castigado?
Vou viver meu resto de vida como um condenado?
Ou será que também não sou filho de DEUS?

Assim, levo a vida somente de lembranças,
Alimentando-me de ilusões e vagas esperanças,
De um dia por fim a essa mísera e cruel paixão.
Seguir meu caminho em busca da felicidade,
A procura de alguém que me ame de verdade,
E saiba acalentar, a esse velho e sofrido coração.

R.S. Furtado.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Beijos mortos.

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BEIJOS MORTOS

Amemos a mulher que não ilude,
e que, ao saber que a temos enganado,
perdoa por amor e por virtude,
pelo respeito ao menos do passado.

Muitas vezes, na minha juventude,
evocando o romance de um noivado,
sinto que amei outrora quando pude,
porém mais deveria ter amado.

Choro. O remorso os nervos me sacode.
E, ao relembrar o mal que então fazia,
meu desespero inconsolado explode.

E a causa desta horrível agonia,
é ter amado, quando amar se pode,
sem ter amado quanto amar devia.

Martins Fontes.

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Nascido em Santos, em 23 de junho de 1884, José Martins Fontes estudou na cidade natal, em Jacareí e no Rio de Janeiro (1901), onde alcançou o diploma de médico. A partir de 1906, exerceu a profissão no Rio, onde também fundou com Bilac a Agência Americana para propaganda de produtos brasileiros no exterior; depois se fixou em Santos (1915). Como médico e como homem, era verdadeira e profundamente amado pela população humilde de Santos e do litoral próximo. Em 1924 foi eleito para a Academia de Ciências de Lisboa; em 1930 acompanhou Júlio Prestes, presidente eleito, na viagem à Europa e aos Estados Unidos. Faleceu em Santos, em 25 de junho de 1937.

Tendo estudado medicina no Rio de janeiro, Martins Fontes integrou-se no grupo de Bilac, que o considerava o maior dos novos, segundo o testemunho de Luís Edmundo. Seu parnasianismo, contudo, não foi igual ao de Bilac ou de qualquer outro dos corifeus: senhor de personalidade esfuziante, Martins Fontes praticou uma poesia de expressão inquieta, novidadeira no uso de vocábulos que ele forjava, colorida, voltada para numerosos centros de interesses que ele ia espelhando em livros díspares como assunto: Rio de Janeiro, São Paulo, Granada, São Francisco de Assis, Augusto Comte, Xarazade, o lirismo medieval... O previsível e o imprevisível. Martins Fontes foi uma das mais expressivas figuras do nosso neoparnasianismo, onde dominou o pólo fulgurante, declamatório, de puro “rebrasilhamento” verbal.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Lente para frango.

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LENTES DE CONTACTO PARA FRANGOS

1963 – O Dr. Albert Shriner, presidente do Centro de Controle de Investigações sobre visão, acaba de criar uma lente de contacto a ser usada pelos frangos e outras aves frustradas, que tenham alterações nervosas. Tal Centro que se localiza em Santa Rosa, na Califórnia, mantém nessa cidade uma farmácia, que avia receitas a aves, de que é grande produtora, bem como de ovos. As lentes de contacto para frangos são de material plástico, de cor avermelhada e reduzirão o nervosismo das aves e o desperdício de alimentos. Evitam o pânico, quando as aves se acham expostas a ruídos e movimentos repentinos. Resolve ainda o problema do canibalismo, que tanto atormenta os avicultores. As lentes adaptadas às galinhas e frangos, são colocadas nos olhos dessas aves, quando ainda têm seis a oito semanas de idade. Elas se acostumam e usam-nas permanentemente. Tornam-se dóceis, calmas. Os frangos, com isso, perdem a mania de bicar seus irmãos de terreiro e as galinhas produzem mais ovos, pois deixam de ser nervosas e irritadas.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume 5, página 887.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Íntimo.

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ÍNTIMO

Minha mãe! Minha mãe! Tu, que adivinhas
esta magoa amaríssima que eu canto,
tu, que trazes as pálpebras de pranto
cheias, tão cheias como eu trago as minhas;

tu, que vives em lagrimas, e tinhas
a vida, outrora, tão feliz, enquanto
deste teu filho, que tu queres tanto,
todas as magoas serenando vinhas;

tu, que do astro do Bem segues o brilho,
pede ao Deus que, apesar das tuas dores,
ainda persiste a castigar teu filho,

que eu não morra a sofrer, como hoje vivo,
esta angustia de uma arvore sem flores
e esta magoa de pássaro cativo!

Humberto de Campos

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Humberto de Campos Veras nasceu na cidade maranhense que hoje tem o seu nome (antiga Miritiba), em 25 de outubro de 1886. Trabalhou desde criança: foi caixeiro, seringueiro, jornalista, andou pelo Amazonas e pelo Pará. Deslocou-se depois para o Rio de Janeiro, fazendo-se redator de O Imparcial, e conquistou fama fácil sob o pseudônimo de Conselheiro XX, publicando livros de cunho humorístico. Sua bibliografia atinge mais de 40 volumes, muitos dos quais constituíram claros êxitos literários, na ocasião em foram publicados. Membro da Academia Brasileira de Letras, Humberto de Campos, cuja fama tem diminuído, pois como poeta, não atingiu o primeiro plano.

Em 1920 ingressa na política, elegendo-se deputado federal pelo estado natal, e renova-o, sucessivamente, até perder o mandato com a Revolução de 1930. Getúlio Vargas, admirador do escritor, nomeia-o diretor da Casa Ruy Barbosa.

Sem estudos, Campos entretanto foi um dos grandes autores brasileiros, mesmo que seus escritos não tenham o merecido destaque. Inovou nas crônicas, adicionando ao estilo novos elementos. Quando adoeceu, mudou completamente seu estilo: de mordaz e cômico, transformou-se num arauto em defesa dos menos favorecidos, encontrando agora consolo por parte dos mais pobres.

Abandonado pelos parentes e antigos amigos poderosos, persiste contudo em sua nova e definitiva fase. Recebe dezenas de cartas de pessoas carentes. Submete-se a várias operações, fica cego, e assim falece no Rio de Janeiro, em 05 de dezembro de 1934, justamente quando nascera um "novo" Humberto de Campos.

Fontes: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1067 e Wikipédia.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Você se foi.

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VOCÊ SE FOI

Você se foi, não disse adeus,
E nem sequer pensou nos sofrimentos meus.
Deixou-me assim na solidão,
Tão machucado está meu coração.

O nosso lar triste ficou,
Não tem mais vida, pois tudo acabou.
O meu viver, sentido já não tem,
Eu espero tanto, mas você não vem.

Mas se você quiser voltar,
A porta aberta você vai encontrar.
Com muito amor vou lhe esperar,
E muitos beijos prontos pra lhe dar.

R.S. Furtado.

domingo, 7 de março de 2010

"Brincos"

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“BRINCOS”

1980 ac – O patriarca Abraão inventa os brincos. E foi assim: ele possuía uma linda serva chamada Agar. Sara sua esposa, mostrava-se muito severa com ela. Certo dia, enraivecida, desfigurou sua escrava. Perfurou-lhe as narinas e as orelhas. O patriarca soube desse selvagem atentado. Censurou sua esposa. Esforçou-se por consolar a escrava. Para acalmá-la teve a ideia de passar-lhe anéis de ouro nos orifícios das orelhas. Deu-lhe um encanto novo e curioso. Sara, diante disso, mandou também que perfurassem suas orelhas e acabou usando brincos. Desde aí a moda pegou.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume 1, página 13.

sábado, 6 de março de 2010

Crepúsculo Sertanejo.

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CREPÚSCULO SERTANEJO

Cai a noite. Um rubor fulge atrás da colina,
cuja sombra se alonga pouco e pouco, enorme.
A velha árvore, além, verde nuvem, se inclina
para o chão, balançando o vulto desconforme.

É uma nota profunda a vibrar na surdina
das cores e da luz, no amplo vale que dorme.
No silêncio feral, que é uma vaga neblina
de sons, passa-lhe a voz como um borrão informe.

Sob a copa uma forma em cinza se desmancha.
Um boi cansado busca a figueira cansada;
muge, e deita-se, em paz, numa violácea alfombra.

Muge. A fronde e o animal fazem uma só mancha;
o mugido e o rumor da fronde, a mesma zoada.
Manchas de som... Zoadas de cor... Silêncio. Sombra.

Amadeu Amaral.

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Amadeu Ataliba Arruda Amaral Leite Penteado nasceu em Monte-Mor (numa faixa de terra que antes do seu nascimento pertencia a Capivari e depois voltaria a integrar-se nesse município) em 06 de novembro de 1875. Fez o curso primário em Capivari e aos onze anos veio para São Paulo para trabalhar no comércio e estudar. Assistiu algumas aulas do Curso Anexo da Faculdade de Direito, foi um autodidata, pois não concluiu o curso secundário. Fez-se jornalista, profissão que abraçou definitivamente. Ao falecer era redator chefe do Diário da Noite; já havia trabalhado em vários jornais, como o Correio Paulistano, O Estado de São Paulo e a Gazeta de Noticias, do Rio. Foi nomeado por Artur Bernardes para um cargo na Diretoria do Imposto sobre a Renda, mas no governo seguinte desistiu desse posto. Ensinou Português e faleceu em 24 de outubro de 1929, em São Paulo. Era membro da Academia Brasileira de Letras.
Autodidata, surpreendeu a todos por sua extraordinária erudição, num tempo em que não havia em São Paulo, as universidades e cursos especializados. Dedicou-se aos estudos folclóricos e, sobretudo, à dialectologia. No Brasil, foi o primeiro a estudar cientificamente um dialeto regional. “Dialeto caipira”, publicado em 1920, escrito à luz da lingüística, estuda o linguajar do caipira paulista da área do vale do rio Paraíba, analisando suas formas e esmiuçando-lhe o vocabulário. Visando à formação dos jovens, assim como Bilac incentivara o serviço militar, Amadeu Amaral procurou divulgar o escotismo, que produziu frutos, certa época no país.

Sua poesia enquadra-se na fase pós-parnasiana, das duas primeiras décadas do século XX. Como poeta, destacou-se pelo desejo de contribuir, com suas obras, para a elevação de seus semelhantes, em todas as suas obras, a ponto de seu sucessor, Guilherme de Almeida, ao ser recebido na Academia, ter intitulado o seu discurso: “A poesia educativa de Amadeu Amaral”, mas porque visava indiretamente ao aperfeiçoamento humano.

Fontes: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967 e Academia Brasileira de Letras.

sexta-feira, 5 de março de 2010

... Depois.

http://bloguiando.blogs.sapo.pt/arquivo/petalas.bmp

... DEPOIS

Para mim, pouco importa a recompensa
dos meus carinhos quando te procuro;
dirão que tens um coração tão duro,
que pedra alguma há que em rijeza o vença.

Dirão que a calculada indiferença
com que tu me recebes é seguro
condão que tens de todo o meu futuro
trocar, sorrindo, em desventura imensa.

Dirão... que importa a mim? Dá-me o teu leito,
dá-me o teu corpo, fecha-me nos braços,
une os lábios aos meus, o peito ao peito,

que eu nem saiba qual seja de nós dois...
Mentem teus beijos? Mentem teus abraços?
Seja tudo mentira... Mas depois.

Guimarães Passos.

http://www.biblio.com.br/conteudo/biografias/guimaraespassos.gif

Nascido em Alagoas (Maceió) em 22 de março de 1867, Sebastião Cícero de Guimarães Passos fez seus estudos primários e os preparatórios em Alagoas. Aos 19 anos foi para o Rio de Janeiro, onde se juntou aos jovens boêmios da época. Era a idade de ouro da boemia dos cafés, e não poderia haver melhor ambiente para o espírito do poeta. Entrou para a redação dos jornais, fazendo parte do grupo de Paula Ney, Olavo Bilac, Coelho Neto, José do Patrocínio, Luís Murat e Artur Azevedo. Colaborou com a Gazeta da Tarde, a Gazeta de Notícias, A Semana. E nas suas colunas ia publicando crônicas e versos. Nos vários lugares em que trabalhou, escrevia também sob pseudônimos: Filadelfo, Gill, Floreal, Puff, Tim e Fortúnio. Nomeado arquivista da Secretaria da Mordomia da Casa Imperial, perdeu o lugar com a proclamação da República. Tomou parte na revolução de 1893, e, malograda esta, exilou-se na Argentina, onde viveu dezoito meses. Nessa estada, colaborou em La Prensa e em La Nación, de Buenos Aires. Tuberculoso, seguiu para a Ilha da Madeira, para ver se recobrava a saúde; de lá dirigiu-se a Paris, onde faleceu em 09 de setembro de 1909. Seus restos mortais foram transladados para o Brasil em 1921, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, de que ele havia sido fundador.

Fontes: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967 e Academia Brasileira de Letras.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Evangelho e Alcorão.

http://4.bp.blogspot.com/_ZzzxdWDpS00/SSxTNobnfyI/AAAAAAAAAX8/rrylgj6yU6Y/s320/0,,13554003,00.jpg

EVANGELHO E ALCORÃO

Num tom de voz que a piedade ungia,
falava o padre ao crente do Alcorão,
que no leito de morte se estorcia:
– “Implora de Jesus a compaixão”.

“Deixa Mafoma, ó filho da heresia,
e abraça a sacrossanta religião
do que morreu por nós...” E concluía:
“Se te queres salvar morre cristão.”

Ao filho de Jesus, o moribundo,
Ergueu o olhar esbranquiçado e fundo,
onde da morte já descia o véu.

Mas logo se estorceu na ânsia extrema
e ao ver da redenção o triste emblema,
ruge expirando: “Alá nunca morreu”.

Augusto de Lima.

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Antônio Augusto de Lima nasceu em 05 de abril de 1859 no engenho de mineração de ouro Califórnia, em Congonhas de Sabará, hoje cidade de Nova Lima, e fez os estudos preparatórios no Seminário de Mariana, no Colégio do Caraça e no Liceu Mineiro em Ouro Preto. Mudou-se para São Paulo para estudar Direito, onde graduou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1882, e serviu depois no ministério público e na magistratura de Minas. Entre 1878 e 1882, iniciam o Augusto de Lima, Raimundo Correia e Afonso Celso“filosofismo poético”, publicando versos no jornal “A Comédia”, além de formar um grupo que fundou a Revista de Ciência e Letras. Foi chefe de polícia, governador provisório de seu Estado, diretor do Arquivo Público Mineiro e deputado federal de 1910 até 1934, quando faleceu em 22 de abril. Era da Academia Brasileira de Letras.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

terça-feira, 2 de março de 2010

Parte de mim.

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PARTE DE MIM

Lembro-me ainda do dia em que ela se foi,
Tento de todas as formas, mas não consigo esquecer.
São lembranças de um passado que no peito ainda dói,
De quem desconhece o que fez para tal castigo merecer.

Éramos afins, um sempre fazendo parte do outro,
Unidos num só corpo, numa só alma e num só coração.
Sem jamais pensar num possível desencontro,
Ou mesmo numa indesejada e nefasta separação.

Vivíamos felizes, desconhecíamos a tristeza,
Somente de felicidade era a nossa forte paixão.
Eu era seu príncipe, ela era a minha princesa,
E absolutamente nada, abalava a nossa linda união.

Hoje mesmo tristonho, sigo minha vida, resignado,
Esperando o momento em que meus dias tenham fim.
É que DEUS sem perceber, deixou-me mutilado,
Pois quando a levou, também levou parte de mim.

R.S. Furtado.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Longe da China.

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LONGE DA CHINA

Eis a triste asiática formosa,
alma que vive, em sonhos, no castelo
de porcelana, em que deliciosa
correu-lhe a infância junto ao noivo belo,

a visionária, a mística, a saudosa
de olhos de amêndoa... Eterno pesadelo
transporta seu espírito à arenosa
planície onde abre o cáctus amarelo.

Não sei se o que ela vive é mesmo vida...
Vagueia à noite solitária pelas
ruas desertas, se o luar aclara;

olha o céu, olha o oceano e comovida
pede às ondas do mar, pede às estrelas
novas do ingrato que em Pequim ficara...

Rodrigo Otávio.

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Nasceu Rodrigo Otávio Langaard Meneses em Campinas (São Paulo), em 11 de outubro de 1866. Formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1886, e iniciou sua carreira na magistratura. Advogou depois, foi Consultor Geral da República e veio a aposentar-se como Ministro do Supremo Tribunal Federal, em 1934. Exerceu funções relevantes como delegado plenipotenciário do Brasil em Conferências como a da paz, de Paris (1919), onde assinou o Tratado de Versalhes; ensinou Direito na então Capital da República e arbitrou em tribunais internacionais. Faleceu no Rio de Janeiro em 28 de fevereiro de 1944.

Rodrigo Otávio deve sua inclusão no grupo dos parnasianos aos dois livros que publicou quando jovem, Pâmpanos (1886) e Poemas e Idílios (1887). Além da poesia, cultivou a novela, o conto, o drama, a história, a crônica, fez vida literária (colaborou bastante na Revista Brasileira e dirigiu A Renascença), pertenceu a Academia Brasileira de Letra e foi sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Argentina de Letras.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.