
EVANGELHO E ALCORÃO
Num tom de voz que a piedade ungia,
falava o padre ao crente do Alcorão,
que no leito de morte se estorcia:
– “Implora de Jesus a compaixão”.
“Deixa Mafoma, ó filho da heresia,
e abraça a sacrossanta religião
do que morreu por nós...” E concluía:
“Se te queres salvar morre cristão.”
Ao filho de Jesus, o moribundo,
Ergueu o olhar esbranquiçado e fundo,
onde da morte já descia o véu.
Mas logo se estorceu na ânsia extrema
e ao ver da redenção o triste emblema,
ruge expirando: “Alá nunca morreu”.
Augusto de Lima.
Antônio Augusto de Lima nasceu em 05 de abril de 1859 no engenho de mineração de ouro Califórnia, em Congonhas de Sabará, hoje cidade de Nova Lima, e fez os estudos preparatórios no Seminário de Mariana, no Colégio do Caraça e no Liceu Mineiro em Ouro Preto. Mudou-se para São Paulo para estudar Direito, onde graduou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1882, e serviu depois no ministério público e na magistratura de Minas. Entre 1878 e 1882, iniciam o Augusto de Lima, Raimundo Correia e Afonso Celso“filosofismo poético”, publicando versos no jornal “A Comédia”, além de formar um grupo que fundou a Revista de Ciência e Letras. Foi chefe de polícia, governador provisório de seu Estado, diretor do Arquivo Público Mineiro e deputado federal de 1910 até 1934, quando faleceu em 22 de abril. Era da Academia Brasileira de Letras.
Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.