LONGE DA CHINA
Eis a triste asiática formosa,
alma que vive, em sonhos, no castelo
de porcelana, em que deliciosa
correu-lhe a infância junto ao noivo belo,
a visionária, a mística, a saudosa
de olhos de amêndoa... Eterno pesadelo
transporta seu espírito à arenosa
planície onde abre o cáctus amarelo.
Não sei se o que ela vive é mesmo vida...
Vagueia à noite solitária pelas
ruas desertas, se o luar aclara;
olha o céu, olha o oceano e comovida
pede às ondas do mar, pede às estrelas
novas do ingrato que em Pequim ficara...
Rodrigo Otávio.
Nasceu Rodrigo Otávio Langaard Meneses em Campinas (São Paulo), em 11 de outubro de 1866. Formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1886, e iniciou sua carreira na magistratura. Advogou depois, foi Consultor Geral da República e veio a aposentar-se como Ministro do Supremo Tribunal Federal, em 1934. Exerceu funções relevantes como delegado plenipotenciário do Brasil em Conferências como a da paz, de Paris (1919), onde assinou o Tratado de Versalhes; ensinou Direito na então Capital da República e arbitrou em tribunais internacionais. Faleceu no Rio de Janeiro em 28 de fevereiro de 1944.
Rodrigo Otávio deve sua inclusão no grupo dos parnasianos aos dois livros que publicou quando jovem, Pâmpanos (1886) e Poemas e Idílios (1887). Além da poesia, cultivou a novela, o conto, o drama, a história, a crônica, fez vida literária (colaborou bastante na Revista Brasileira e dirigiu A Renascença), pertenceu a Academia Brasileira de Letra e foi sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Argentina de Letras.
Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.