A ESCRAVIDÃO
Se é Deus quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.
Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em delírio inefável,
Praticando a caridade
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!...
Tobias Barreto.
Tobias Barreto de Meneses nasceu em Sergipe, em 07 de junho de1839. Mestiço, filho de um escrivão pobre, iniciou estudos com professores particulares em sua província natal. Aos 15 anos era professor de latim em Itabaiana. Na Bahia, influenciado pela leitura de Victor Hugo, iniciou a carreira literária. No Recife, onde bacharelou-se em Direito, ainda em quanto estudante, produziu a maior parte de sua poesia e polemizou com Castro Alves, formando-se em torno dos dois poetas grupos rivais, que gastaram muita energia em “torneios poéticos”. Nada de significativo, no final das contas. Advogado, mas exercendo também outras atividades para sobreviver, acabou por tornar-se professor catedrático da Faculdade de Direito do Recife, alcançando renome como jurista, filósofo e estudioso da cultura alemã. Apesar disso, morreu na miséria e no abandono, em 26 de junho de1889, deixando discípulos como Graça Aranha e especialmente Silvio Romero, que publicou, em 1903, o volume Dias e Noites com poemas de Tobias Barreto. Foi também Silvio Romero quem mais reivindicou a primazia para Tobias Barreto da renovação das ideias no Brasil, no último quartel do século passado, através da Escola do Recife.
Ainda antes de concluir o curso de Direito casou-se com a filha de um coronel do interior, proprietário de engenhos no município de Escada.
A residência em Escada durou cerca de dez anos. Ao voltar ao Recife, aos escassos proventos que recebia juntaram-se os problemas de saúde que acabaram por impedí-lo de sair de casa.
Tentou uma viagem à Europa para restabelecer-se fisicamente. Faltavam-lhe os recursos financeiros para isso. Em Recife abriram-se subscrições para ajudá-lo a custear-lhe as despesas.
Em 1889 estava praticamente desesperado. Uma semana antes de morrer enviou uma carta a Sílvio Romero solicitando, angustiosamente, que lhe enviasse o dinheiro das contribuições que haviam sido feitas até 19 de junho daquele ano. Sete dias mais tarde falecia, hospedado na casa de um amigo.
A obra de Tobias é de significativo valor, levando em conta que o professor sergipano não chegou a conhecer a capital do Império.
Fonte: “Antologia de Poesia Brasileira – Romantismo”. Editora Ática – 1996 e Academia Brasileira de Letras.