domingo, 31 de janeiro de 2010

Diálogo.

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DIÁLOGO

A cruz dizia à terra onde assentava,
Ao vale obscuro, ao monte áspero e mudo:
– Que és tu, abismo e jaula, aonde tudo
Vive na dor, e em luta cega e brava?

Sempre em trabalho, condenada escrava,
Que fazes tu de grande e bom, contudo?
Resignada, és só lodo informe e rudo;
Revoltosa, és só fogo e hórrida lava...

Mas a mim não há alta e livre serra
Que me possa igualar!... amor, firmeza,
Sou eu só: sou a paz, tu és a guerra!

Sou o espírito, a luz!... tu és tristeza,
Ó lodo escuro e vil! – Porém a terra
Respondeu: Cruz, eu sou a natureza!

Antero de Quental.

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Antero de Quental nasceu no dia 18 de abril de 1842, em Ponta Delgada, Açores. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra (1864). Revolucionário de temperamento, foi o ideólogo da sua geração literária, desempenhando papel central na Questão Coimbra e nas Conferências do Cassino. Como prosador deixou ensaios sócio-históricos e filosóficos. Como poeta, o seu lirismo de temática filosófica concentra-se na severidade do sonho, relatando o seu itinerário íntimo desde a dúvida religiosa até ao panteísmo de inspiração orientalista. A autenticidade dolorida do seu lirismo (Sonetos) só tem paralelo na lírica de Camões. Em Odes Modernas adota um tom mais revolucionário. Acometido de forte depressão, suicidou-se com dois tiros na boca, sentado num banco de jardim em Ponta Delgada, no dia 11 de setembro de 1891.

Fontes: “Odes Modernas” – Editora Martin Claret. – 2008. e Wikpédia.

sábado, 30 de janeiro de 2010

A Júpiter supremo Deus do Olimpo.

http://fotos.sapo.pt/MFZ9IiYBojc7OkKRzrGr/
A JÚPITER SUPREMO DEUS DO OLIMPO

Númen que tens do mundo o regimento,
Se amas o bem, se odeias a maldade,
Como deixas com prêmio a iniqüidade,
E assoçobrado ao são entendimento?

Como hei de crer qu’um imortal tormento,
Castigue a uma mortal leviandade?
Que seja ciência, amor ou piedade
Expor-me ao mal sem meu consentimento?

Guerras cruéis, fanáticos tiranos,
Raios, tremores, e as moléstias tristes,
Enchem o curso de pesados anos;

Se és Deus, s’isto prevês, e assim persistes,
Ou não fazes apreço dos humanos,
Ou qual dizem não és, ou não existes.

Alexandre de Gusmão.

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Nascido em Santos, em 1695, Alexandre de Gusmão foi secretário particular de D. João V, membro da Academia Real da História Portuguesa e do Conselho Ultramarino. Por morte do Monarca, retirou-se à vida privada, afastando-se dos negócios públicos; perdeu em incêndio os dois filhos e faleceu pouco depois, em 31 de dezembro de 1753.

Em carta que dirigiu a Barbosa Machado, a propósito da Biblioteca Lusitana deste, Alexandre de Gusmão mostrava não confiar muito em que lhe aproveitasse a publicação de suas obras. A despeito desse rasgo de modéstia, credita-se mérito literário às suas cartas.

Fonte: “Poesia Barrôca” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Dama da sociedade.

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DAMA DA SOCIEDADE

Ela já não é mais a mesma de outrora,
Passava, olhava, e jamais ia embora,
Sem antes mostrar o seu requebrado.
Fazia questão de gingar, remexer,
Para que os homens ficassem a viver,
Pensando e sonhando com seu rebolado.

Saia transparente, blusinha decotada,
Por baixo a calcinha, na glútea colada,
Pois somente pensava, em chamar atenção.
Soutien nem pensar, a blusa era fininha,
E mostrar os biquinhos, só queria a mocinha,
Maliciosa, dos homens levantar o tesão.

Pudor? O que era? Ela nem sabia!
Pra ela, vergonha, também não existia,
Pois pra ela o belo, era pra ser mostrado.
Preconceito é bobagem, todos que se danem,
É meu e eu mostro, os homens que se inflamem,
Vou viver minha vida mostrando meu legado.

Hoje, o tempo depressa, num instante passou,
Muitos não acreditam, a mocinha mudou,
Leva uma vida recatada, com pudor, sem maldade.
E o respeito de todos, ela então conquistou,
Encontrou um bom partido, é feliz, se casou,
É mulher refinada. Ilustre dama da sociedade.

R.S.Furtado.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ouro sobre azul...

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OURO SOBRE AZUL...

Quando ela, sobre as águas transparentes,
surge em casta nudez, de amor acesa,
a vaga envolve em ósculos frementes
todo o corpo de olímpica princesa.

O misto de luxúria e de pureza
dos seus contornos nítidos, patentes,
é o poema excelso da Beleza
em estrofes de Paros, reluzentes...

Vendo-a assim, cuido ver, branca de espuma
Vênus que surge, e da onda que flutua
no verde flanco lânguida se apruma;

e soltos vendo-lhes os cabelos, cuido
ver despenhar-se sobre a deusa nua
serena catadupa de oiro fluido...

Raimundo Correia

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Raimundo da Mota Azevedo Correia nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio nacional São Luís, ancorado nas costas do Maranhão. Estudou no Colégio Pedro II e na Faculdade de Direito de São Paulo, pela qual se formou em 1882. Foi promotor de justiça em São João da Barra e em São João do Príncipe; juiz em Vassouras (1884); secretário da Presidência da Província do Rio de Janeiro (1889); juiz de Direito em Santa Isabel, Minas Gerais; diretor da Secretaria de Finanças do mesmo Estado e professor de Direito. Exerceu as funções de 2º Secretário da Legação do Brasil em Portugal e depois de juiz de Direito no Rio de Janeiro. Fundador da Academia Brasileira de Letras. Faleceu em Paris, em 13 de setembro de 1911, tendo sido transladados seus restos para o Brasil em 1920.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A primeira prece.

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A PRIMEIRA PRECE

O menino olhou firmemente, deixando transparecer nesse gesto o mais puro sentimento de amor. Ali, à sua frente, encontrava-se posicionado o carneirinho, como se estivesse dormindo. O garoto aproximou-se mais do carneirinho. De perto, dava para ver melhor a cor marrom-claro aveludada e brilhosa, que cobria todo o corpo do belíssimo animalzinho. Suspirou, antes de admirar àquela listra branca, bem delineada, dividindo ao meio a cabeça infantil ovino. Um traço branco passava pelo meio do pescoço e da cabeça, seguindo pela testa até a ponta do nariz. Como o carneirinho parecia dormir profundamente, o menino com a ponta do pé, descalço, o cutucou de leve. Nenhuma reação ocorreu. Para a criança agora, necessário seria um alerta com o uso de suas palavras e, novamente, o movimento com o pé, atingindo-o na cabeça:
        – “Val... Valentão... Preguiçoso, acorde!... Não é hora de dormir Val!...”
        O carneirinho nem se mexeu, continuou inerte no cantinho da parede. Ali perto, a mesa de refeição, bem próxima ao seu cantinho preferido.
        Nesse instante um trabalhador da fazenda, assustado, entrou na casa e, nervoso, com ar de espanto falou:
        – “Acabei de matar uma cobra, saindo daqui. Uma cascavel... Grande!”
        Isso despertou a imediata atenção do menino. Incontinente, com o coração batendo mais acelerado, olhou para o carneirinho. Aproximou-se e com ligeireza se abaixou para pega-lo. Colocou-o nos braços e sentiu o seu corpinho ainda quente. A cabeça, porém, de forma involuntária e inexpressiva, pendia para um dos lados. O seu corpo ainda estava um pouquinho quente. Mas, já havia desaparecido todo o fremir que há nos corpos ainda com vida. Do nariz e da boca, lentamente escorriam dois filetes de sangue... Seus últimos sinais de vida.
        A criança recebeu um violento choque de nítidas e profundas emoções. As lágrimas soltaram-se com todo impulso da dor, querendo arrebentar os laços do verdadeiro apego. Permanecia com o carneirinho nos braços. Inerte figura de uma vida, antes alegre, brincalhona, que, inesperadamente terminou. Não olhou para aonde ia. Caminhou sem destino, carregando todo o seu sofrimento. Debaixo de uma grande árvore, de muita sombra, sentou-se. Com os olhos embaçados de lagrimas, novamente olhou para o carneirinho. Entendeu que terminara uma de suas brincadeiras prediletas. Caminhar pelo campo com o carneirinho, alegremente saltitando ao seu redor.
        A água do açude, à sua frente, emitindo vibrações luminosas, com fulgor espelhava a luz do sol. Ao derredor, com vigor os pássaros soltavam as suas encantadoras vozes.
        O sol já se aproximava do poente, deixando as pedras e os montes formarem as suas sombras. Escuros desenhos: simétricos, assimétricos, até surrealistas. Enquanto o tempo prosseguia inexorável, o menino segurava o carneirinho. Resolveu levantar-se e caminhar um pouco.
        Quase ao por do sol, o menino cuidadosamente colocou aquele corpo inerte ao lado de um pequeno córrego seco. Com um pedaço de pau preparou uma cova e, ali, lentamente depositou o corpo do carneirinho. Carinhosamente cobriu com terra ainda quente. Com as mãos preparou uma cruz, feita de galhos secos.
        De mãos postas, ajoelhou-se diante dos restos de sol poente e balbuciou algumas palavras em tom emotivamente forte. Nessa noite choveu. Quando, no dia seguinte foi lá – nada mais encontrou. A enxurrada levou tudo, carregando, também uma parte de si mesmo.

Otacílio Negreiros Pimenta.
In Memorian

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Fruto proibido.

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FRUTO PROIBIDO

Escravo dessa angélica meiguice
por uma lei fatal, como um castiga,
não abrigara tanta dor comigo,
se este afeto que sinto não sentisse.

Que te não doa, entanto, isto que digo
nem as magoadas falas que te disse.
Não tas dissera nunca, senão visse
que por dizê-las minha dor mitigo.

Longe de ti, sereno e resoluto,
irei morrer, misérrimo, esquecido,
mas hei de amar-te sempre, anjo impoluto.

És para mim o fruto proibido:
não pousarei meus lábios nesse fruto,
mas morrerei sem nunca ter vivido.

Adelino Fontoura.
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Adelino Fontoura Chaves nasceu em Axixá, no Maranhão, em data não estabelecida até hoje com certeza: indicam uns 30 de março de 1855, consignam outros 1859. O primeiro registro é o de Fernão Neves, Velho Sobrinho (segundo Múcio Leão), e figura na Antologia da Academia Maranhense de Letras (São Luís, Maranhão, 1958): o segundo é o de Artur Mota. Trabalhou no comércio e fez-se ator em São Luís do Maranhão, passando-se depois para o Rio, onde se encarreirou no jornalismo. Enviado pela Gazeta da Tarde, seguiu para a Europa em 1º de maio de 1883, com destino a Paris. Já partira enfermo; não se deu bem na França e faleceu em Lisboa, em 02 de maio de 1884, no Real Hospital São José.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

sábado, 23 de janeiro de 2010

O camelô.

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O CAMELÔ

Nunca parece qualquer tipo à toa,
Pois é correto sempre no trajar.
As transações procura trapacear,
Levando a vida para sempre boa.

Na certeza de inocentes encontrar,
Nas esquinas e praças apregoa.
Alto, estridente, que distante ecoa,
O que tem então para mercadejar.

E ele assim, bons partidos vai tirando,
No seu viver de um simples vagabundo,
Seus dias a vencer com pouca lida.

Palhaço que vai bem desempenhando,
No imenso circo que é este nosso mundo,
A pantomima arte da torpe vida.

R.S. Furtado.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A Águia.

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A ÁGUIA

A águia negra, num vôo, de repente
fura o céu, desprendida da montanha,
e parece levar em feixe ardente
luz, que às garras metálicas apanha.

Afronta o sol, provoca-o frente a frente,
deixa as nuvens atrás, remonta em sanha...
E volta irada, triste e lentamente,
por ver tão longe a luminosa aranha.

Liso, e em fogo o areal, como um espelho
amplo, se estende ao seu olhar vermelho...
Vermelho, como a espuma dos vulcões:

desce; e por desenfado ao bico enorme,
enquanto um grupo de gazelas dorme,
folga arrancando os olhos dos leões.

Luís Delfino.

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Luís Delfino dos Santos nasceu em Desterro (atual Florianópolis), em 25 de setembro de 1834. Estudou na cidade natal e na Corte, colando grau em Medicina em 1857. Abriu consultório e clinicou até o fim da vida. Como político, esteve no Senado, representando Santa Catarina, e na Constituinte Republicana. Faleceu no Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1910. A seu tempo, a crítica dividia-se a seu respeito: Silvio Romero louvava-o, José Veríssimo lhe fazia sérias restrições.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Rosa, e Anarda.

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ROSA, E ANARDA

Rosa de formosura, Anarda bela
igualmente se ostenta como a rosa;
Anarda mais que as flores é formosa,
mais formosa que as flores brilha aquela.

A rosa com espinhos se desvela,
arma-se Anarda de espinhos de impiedosa;
na fronte Anarda tem púrpura airosa,
a rosa é dos jardins purpúrea estrela.

Brota o carmim da rosa doce alento,
respira olor de Anarda o carmim breve,
ambas dos olhos são contentamento:

mas esta diferença Anarda teve:
que a rosa deve ao sol seu luzimento,
o sol seu luzimento a Anarda deve.

Manoel Botelho de Oliveira.


Manuel Botelho de Oliveira nasceu na Bahia em 1636; estudou Direito em Coimbra, e, de volta ao Brasil, dedicou-se à advocacia e à política: foi vereador do Senado da Câmara de Salvador (1710) e capitão-mor das ordenanças de Jacobina. Morreu em 05 de janeiro de 1711. Era bastante rico, segundo Pedro Calmon, para emprestar dinheiro ao Estado, e ainda com vigor para lhe entrar os sertões. “Argentário - continua o historiador – aparece em vários documentos como credor de dinheiro a juros: assim no testamento de D. Francisca de Saúde (Cr$ 175)... Foi casado com D. Felipa de Brito e sepultado na igreja do Carmo”. Esse casamento era o segundo; matrimoniara-se antes com D. Antônia de Meneses, celebrando-se as novas núpcias, por viuvez, em 24 de janeiro de 1677. Seu livro foi publicado quando ele tinha quase setenta anos.

Fonte: “Poesia Barroca” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Luzes e sombras.

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LUZES E SOMBRAS

O vento perpassa sereno. Em ritmo constante e com aprazível suavidade. E nos traz a sensação relaxante de ótimo bem-estar. Sentimos, às vezes, um pouquinho de frio gostoso e acariciante. As sombras, lá mais fora, já engoliram toda a luz do dia, sutilmente tecendo os véus negros da noite. Felizmente, já estão à vista os incontáveis pontinhos luminosos tauxiando os largos céus. É noite, e as estrelas são as soberanas de irradiantes belezas astrais... Pobres homens, que nada podem fazer iguais.

Percebemos, de relance, figuras que bailam em movimentos de articulações geométricas. São luzes e sombras, simultaneamente. Há configurações com harmoniosos e belos impulsos. Coisas simples, mas, cheias de graça... Apenas as folhas de um coqueiro diante da majestosa lua cheia, observadas através de uma janela. É o que – o esplendor da natureza, além de outras coisas – nos oferece gratuitamente. É apenas mais um instante, talvez, único e verdadeiramente fugaz. Momento igual a este, que apreendemos com as nossas mais puras sensações, certamente jamais se repetirá. Essas conjunções de fatores, quando não as colhemos no momento certo, nunca mais as teremos de volta, exatamente iguais. Nada se repete, especialmente em nossa existência.

A noite, inexoravelmente conduzida pelas leis cósmicas, faz o seu normal trajeto. A lua, ao alto, imperturbável, harmoniza o agradável silêncio. É aquele sossego que viabiliza a melhor forma de pensar, fazendo-se refletir mais profundamente. Nesses instantes aprendemos a adotar decisões com mais absoluta firmeza. O silêncio, aqui, mesmo nas primeiras horas da noite, traz o aconchego verdadeiramente íntimo e gostosamente salutar.

De repente, porém, há uma interrupção brusca, mas, programada, quebrando o ritmo do sossego cadenciado pelo silêncio. São vozes provenientes de um aparelho eletrônico, companheiro inseparável das famílias. Chegou o sagrado horário das novelas. Nesses momentos, inúmeras pessoas associam alguns dos seus secretos sentimentos a impulsiva força das emocionantes cenas transmitidas pela televisão. Há os que emotivamente se envolvem ou simplesmente se autoassumem psicologicamente, como se eles fossem verdadeiramente os próprios personagens dessas novelas.

Há os que preferem, à hora das novelas, outros deleites. Às vezes, um simples vão de janela, com as correlações momentâneas, é o suficiente. Porém, a condição intrínseca de cada coisa, está profundamente relacionada com o contexto de uma só realidade. E, assim, cada ser humano cria o seu universo íntimo com ilações autoinduzidas, produto de suas sensações de vida ao bel-prazer de momentos existências os mais diversos.

A extasiante beleza da noite, com tudo o que se pode perceber e plenamente sentir em extensão cósmica, é profundamente maravilhosa. Esses puros sentimentos, emotivamente, nos induzem à profundas e reflexivas interiorizações íntimas. Nessa ocasião, no âmago da nossa consciência interior, há o desejo de que o nosso “eu humano” – ainda imperfeito, perecível – una-se ao eu eterno, impessoal e invisível. Sentimos, aflorando intensamente dentro do nosso ser, o Deus supremo e infinito: Senhor de todas as coisas. Independente de qualquer religião, há um Deus, verdadeiro e ilimitado. É o Pai único, existente no âmago de todo ser humano, que seja religioso ou não.

Otacílio Negreiros Pimenta
In-Memorian

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Jogador profissional.

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O JOGADOR PROFISSIONAL

Vivia um homem, exclusivamente,
Nas baixas tavolagens da cidade.
Com muita “sorte” e muita habilidade,
Aplicando a batata à incauta gente.

Sempre a bancar com pose dignidade,
Com os dedos cheios de metal confete.
Desfrutava o viver fantasiosamente,
A custa de bolas sem piedade.

Mas um dia, boas surpresas o fizeram,
Profetizar para a torpe jogatina.
“E como vencer a vida sem saber”.

Mais na frente procura a solução,
-Para o trabalho é que ele não atina-
Sorriso esboça, achou, sendo ladrão.

R.S. Furtado.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A missa.

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A MISSA

Ao altar o sacerdote mesto e grave,
do missal as paragens percorria,
e um murmúrio de branda melodia
suspirava do templo pela nave.

Derramavam os círios luz suave
que dava aos corações melancolia;
e a turba ia dizendo: Ave Maria,
Virgem-Mãe do Senhor três vezes ave!

Subiam para o ar nuvens de incenso;
qual extremo ansiar de moribundo
do órgão soluçava um ai extenso...

Nos olhares se lia amor profundo,
e todos a rezar no enlevo imenso
longe estavam das mágoas deste mundo.

Afonso Celso.

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Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior nasceu em Ouro Preto, em 31 de março de 1860. Seguiu a faculdade de Direito de São Paulo, onde colou grau de doutor em 1881. Foi deputado ainda no império: filho do Visconde de Ouro Preto, era republicano a essa altura. Exerceu a advocacia e o magistério (professor da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro). Católico influente, recebeu o título de Conde Romano em 1905. Fundador da Academia Brasileira, faleceu no Rio de Janeiro em 11 de junho de 1938.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Buscando a Cristo.

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BUSCANDO A CRISTO

A vós correndo vou, braços sagrados,
nessa Cruz sacrossanta descobertos
que, para receber-me, estais abertos,
e, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados
de tanto sangue e lágrimas cobertos,
pois para perdoar-me, estais despertos,
e. por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
a vós sangue vertido, para ungir-me,
a vós, cabeça baixa, por chamar-me.

A vós, lado patente, quero unir-me,
a vós, cravos preciosos, quero atar-me,
a vós, ficar unido, atado e firme.

Gregório de Matos
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Gregório de Matos Guerra nasceu na Bahia, filho de Gregório de Matos, pessoa abastada, e de Maria Guerra, em 20 de dezembro de 1633. Cursou o Colégio de Artes em sua cidade, e ingressou na Universidade de Coimbra em 1652, fazendo sua leitura de bacharel em 1662. Perdendo em 1674 as funções de procurador da Câmara da Bahia, voltou para o Brasil e foi nomeado, em 1679, desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia. Satírico e desregrado que era, não poupando as autoridades eclesiásticas nem civis foi demitido e perseguido, até ser desterrado para Angola. De volta, não podendo viver na Bahia, fixou-se em Pernambuco, no Recife, onde morreu em 1696.

Pedro Calmon acentua que Gregório introduziu um valor novo na poética de cunho popular, que foi “a nota política avisada de nativismo. Acorre à defesa dos naturais do Brasil. É o advogado arrogante dos “mozambos”, dos que no Brasil nasceram, dos conterrâneos. Revolta-se, numa cólera estrondosa, extensiva à cidade corrupta, ao povo... Engendra a poesia licenciosa, da boêmia estudantil, marcando-a com o humorismo escabroso, da vadiagem alegre.”

Fonte: "Poesia Barrôca! Antologia - Edições Melhoramentos - 1967.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Soneto dramático.

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SONETO DRAMÁTICO

O Incesto. Drama em 3 atos. Ato primeiro:
Jardim. Velho castelo iluminado ao fundo.
O cavaleiro jura um casto amor profundo,
e a castelã resiste... Um fâmulo matreiro

vem dizer que o barão suspeita o cavaleiro...
ele foge, ela grita... – Apito! – Ato segundo:
um salão do castelo. O barão, iracundo,
sabe de tudo... Horror! Vingança! – Ato terceiro:

em casa do galã, que, sentado, trabalha,
entra o barão armado e diz: “Morre, tirano,
que me roubaste a honra e me roubaste o amor!”

O mancebo descobre o peito. – “Uma medalha!
Quem ta deu?!” – “Minha mãe!” – “Meu filho!” Cai o pano...
À cena o autor! À cena o autor! À cena o autor!

Artur de Azevedo.

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Irmão do romancista Aluísio de Azevedo, Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, em 07 de julho de 1855. Começou a escrever muito cedo, ainda menino, e desde essa ocasião manifestou interesse pelo teatro. Empregado no comércio, ingressou depois no funcionalismo do Maranhão, do qual foi injustamente demitido, diz-se que por se sentirem atingidos por suas “Carapuças” alguns figurões da província. Mudou-se para o Rio de janeiro, onde fez carreira burocrática, de amanuense a diretor-geral, posto no qual sucedeu a Machado de Assis. Militou na imprensa, escreveu e traduziu copiosamente para o palco; importou o gênero “revista”. Fundador da Academia brasileira, faleceu no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1908. Sua morte comoveu os círculos literários porque, depois de tanto labor, não deixara a família ao abrigo da necessidade, e também porque estava em plena produtividade intelectual.

Fonte: “Poesia parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A partida

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A PARTIDA

Olha amor, quando você partiu,
Deixando-me tão triste assim.
A escuridão da noite foi quem assistiu,
A amargura tomar conta de mim.

Há! Como foi triste a sua partida,
Meu coração já não tem mais guarida,
Não existem luzes mais em meu caminho.
Olha! O nosso quarto já não tem mais vida,
Desde a última noite por nós dois, vivida.
Deixou de ser aquele tão lindo ninho.

Sei, que algum dia você vai voltar,
Com longos beijos, vamos festejar,
O fim de longa e triste solidão.
Sei, que nossos corpos vão se encontrar,
E a nossa cama é quem vai vibrar,
Com o renascer de nossa união.

R.S.Furtado.

domingo, 10 de janeiro de 2010

O desfecho.

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O DESFECHO

Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar os séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.

Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,
Uns cingidos de luz, outros ensangüentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.

Pela primeira vez a víscera do herói,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer às raivas que a consomem.

Uma invisível mão as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplício e acabara o homem.

Machado de Assis.

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Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839. Em 1855 viu sair na Marmota Literária, pela primeira vez, um seu trabalho, a poesia “Ela”. Entrou em 1856 na Imprensa Nacional como aprendiz de tipógrafo, e no ano seguinte passou a exercer a função de mister de revisor de provas, em livraria e em jornal. Em 1859 já é crítico teatral e em 1860 tem a seu cargo várias secções, no Diário do Rio de Janeiro. Cavaleiro da Ordem da Rosa, por serviços às letras (1867), foi elevado a oficial em 1888. Chegou a diretor-geral em sua carreira de funcionário público, na qual se aposentou. Foi o primeiro presidente da Academia Brasileira, e faleceu no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições melhoramentos – 1967.

sábado, 9 de janeiro de 2010

O beijo da morta.

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O BEIJO DA MORTA

Cresce a invernosa noite, um frio intenso
morde-me as carnes: – lívido, gelado,
no leito me ergo... e escuto o desolado
uivo do Inverno, atroz, convulso, imenso...

Tento dormir. Em vão! Escuto e penso.
Penso na eterna Ausente... Ah! se a meu lado
ela estivesse! um beijo perfumado!
um só! me fora ardente e ideal incenso...

Abre-se então de leve a minha porta:
é Ela! Entrou. Na palidez da morta
uma aurora de beijos irradia:

caminha... chega e diz-me num segredo:
“Une teu rosto ao meu, não tenhas medo:
venho aquecer-te: – a noite está tão fria!”

Luís Guimarães Júnior.

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Nasceu Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1845. Estudou Direito em São Paulo e no Recife, por onde se diplomou em 1869. Exerceu o jornalismo e ingressou na diplomacia em 1872, indo servir no Chile como adido de 1ª classe à Legação do Brasil; na carreira, esteve na Inglaterra (1873), Santa Sé (1876), Portugal (1881), Venezuela, onde se aposentou em 1894, como Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário. Fundador da Academia Brasileira; faleceu em Lisboa, em 20 de maio de 1898.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O retorno e a Revolução dos Velhos.

O RETORNO E A REVOLUÇÃO DOS VELHOS

Olá Amigos!

Eis que finalmente estamos de volta. É que não suportamos a saudade, e já estávamos sentindo a falta desse prazeroso convívio. Aproveitamos o máximo que podemos para descansar, principalmente a mente e a vista. Afinal, são somente sessenta e sete anos de labuta.

Agradecemos de coração pelas visitas, os comentários e, principalmente pelo carinho dispensado ao nosso humilde espaço, com a promessa de retribuir a todos, pois quem visita, quer ser visitado e a reciprocidade sempre foi e será uma das nossas principais virtudes.
2010 chegou e com ele muitos votos e desejos de paz, amor, saúde, compreensão felicidades e tantas outras coisas boas. Só que, no meu entendimento votos e desejos não bastam. Necessário se faz a ação, a atitude e a solidariedade para com os nossos semelhantes. É bem verdade que o Natal já passou, mas, presente se dá todo dia. É só querer e o presenteado merecer. Portanto, abaixo apresento uma valiosa sugestão:

PRESENTEIE COM SOLIDARIEDADE

Théo Drummond lançou no dia nove de dezembro, o livro de contos "A Revolução dos Velhos e outros contos", pela Editora Caravansarai.
O décimo oitavo livro (sétimo em prosa) do publicitário está sendo vendido pelo site da editora Caravansarai clique aqui
Como de costume, o montante arrecadado com as vendas dos livros será doado. Desta feita a renda obtida está sendo revertida em prol do Pavilhão Infantil do INCA (Instituto Nacional de Câncer).

O nosso amigo Théo Drummond juntamente com a nossa amiga Clau Assi, são responsáveis pelo lindo Blog Poesia Cá e Lá, ao qual, recomendo uma visitinha.


Comprei o livro, li e aprendi que: dinheiro e posição social não garantem a felicidade de ninguém. Quando, como e o porquê de tomar uma decisão. O verdadeiro sentimento do amor. A vida do outro somente ao outro pertence. Que DEUS está sempre consciente de tudo que faz, assim como, de outras coisas importantes do nosso dia a dia. Ah! Aqui segue um alerta: se “A Revolução dos Velhos” realmente vingar, todos os corruptos do poder serão banidos do cenário político do nosso Brasil.

Tenho absoluta certeza de que vás gostar de ler “A Revolução dos Velhos e outros contos” e quando acabares ficarás com aquele gostinho de quero mais e, ao mesmo tempo, milhares de crianças estarão sorrindo, felizes e agradecidos pelo teu tão generoso gesto.

“QUE DEUS SEJA LOUVADO”

R.S. Furtado.