VIOLA QUEBRADA
Da viola pra muié
É pequena a deferença.
Ancê óia, escuta e pensa.
Eu juro, esta fala é franca:
A viola tem cabelo
Nas dez corda qui ela tem.
Tale quale uma muié,
Ela tem braço também
E tem cintura e tem anca.
A viola faz chorá
E chora a hora qui qué.
Tale quale uma muié,
Derrete toda na mão
Da pessôa qui qué bem.
Só inziste duas cousa
Qui ela tem e muié não:
É qui a viola de pinho
Tem alma e tem coração…
Camillo de Jesus Lima
Camillo de Jesus Lima nasceu no dia 08 de setembro de 1912, em Caetité, na Bahia e faleceu no dia 28 de fevereiro de 1975 em Itapetinga, também na Bahia, foi um poeta brasileiro.
Filho de Francisco Fagundes de Lima e D. Esther Fagundes da Silva trazia no sangue a estirpe de várias famílias tradicionais da cidade: Fagundes, Lima, Cotrim e Prisco. Mas seu sobrenome não seria Lima, e sim Fagundes, como consta do registro de nascimento.
Em 1915 seria Caetité elevado a sede de bispado. A cidade contava com uma educação que só tinha paralelo na capital Salvador: o Colégio Americano, protestante, e o Jesuíta São Luis Gonzaga, rivalizavam na formação de uma elite intelectual. O nome da cidade era proferido com orgulho, o Jornal A Penna circulava, mantendo acesa a vida cultural, enquanto fervilhava a vida política. Resumidamente, foi neste fervilhante cadinho cultural que nasceu o poeta.
Como ocorria a todos os estudantes daqueles tempos, Camillo simpatiza com as idéias comunistas. Qual seu tio-avô Plínio de Lima, que abraçara a causa da igualdade entre os homens com o abolicionismo, Camillo defende uma sociedade mais justa, e irá pagar alto preço por isto.
Tornando-se tabelião ("oficial de registro de imóveis e hipotecas"), mora em Vitória da Conquista, Macarani e Itapetinga. Talentoso, desdobra-se em jornalista, escritor, professor, deixando extensa obra literária, do romance ao conto, mas é na poesia que se consagra, já em 1942, com o livro Poemas, recebedor do Prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca de Letras (edição de "O Combate", que publicou quatro de seus livros).
Também publicou: As Trevas da Noite Estão Passando ("O Combate", em colaboração com Laudionor Brasil, poemas, 1941); Viola Quebrada ("O Combate", poesia, 1945); Novos Poemas ("O Combate", id., ib.); Cantigas da Tarde Nevoenta ("Edição de Artes Gráficas - Salvador", poesia); Memórias do Professor Mamede Campos (romance); A Mão Nevada e Fria da Saudade ("Edições MAR", poesia), A Bruxa do Fogão Encerado (contos); Vícios (contos); Bonecos (Perfis); O Livro de Miriam (Poesia, 1973, impresso na gráfica de "O Jornal de Conquista" para "edições MAR"); Cancioneiro do Vira-mundo (Poesia), e outros tantos escritos, publicados em todo o país, muitos ainda inéditos.
Mesmo longe dos centros culturais do país, Camillo fervilha com a pena na mão. Sua poesia plena de lirismo cativa, e tem em Vitória da Conquista, num tempo onde surgem Glauber Rocha, Elomar e outros, um meio artístico incomum, que, por produzir pensamentos, provocou reação junto àqueles para quem o pensar e a palavra eram armas perigosas, a ser combatidas…
Fonte: Wikipédia.