A PORTA APORTA
a porta roda ao invés da lua
a porta roda bússula enterrada ao invés dos olhos
a porta geme é um cão nocturno
a porta geme extinta na trela da noite
a porta areia
a porta caruncho pária de mar
a porta maré que vem e que vai que bate e que fecha
a porta com máscara de morte
a porta sem sorte
a porta joelho na alma das portas
a porta mulher da casa de passe
a porta manchou a manhã com o grito de porta
a porta enforcada no mastro da casa
a porta por asa
a porta roda
a porta sexo a vida toda
a porta tosca da madrugada pregos são estrelas mortas
a porta pregada
a porta leilão
a porta batente
a porta aranha por coração
a porta tu
a porta eu
a porta ninguém na terra pequena
a porta roda
a porta geme
a porta facho
a porta leme
Luíza Neto Jorge
Poetisa portuguesa nascida a 10 de maio de 1939, em Lisboa, e falecida a 23 de fevereiro de 1989, na mesma cidade. Frequentou o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa e viveu em Paris, entre 1962 e 1970. Autora de guiões cinematográficos e de adaptações teatrais, Luíza Neto Jorge desenvolveu a atividade de tradutora, tendo traduzido, entre muitos outros autores, Apollinaire, Aragon, Artaud, Céline, Éluard, Genet, Ionesco, Michaux, Raimond Queneau, Jarry, Nerval, Boris Vian, Yourcenard. Integrou o grupo que se reuniu em torno do projeto Poesia 61, antologia poética, organizada em fascículos, que reúne textos de Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz e Maria Teresa Horta, e onde publicou Quarta Dimensão. Embora a sua poesia se aproxime dos textos poéticos aí recolhidos no que espelham de uma tendência poética que, durante a década de 60, dá privilégio à palavra, à linguagem na sua opacidade, na busca de uma expressão depurada e não discursiva, ao cuidado posto na construção do poema, Luiza Neto Jorge diferencia-se quer pela importância que o legado surrealista tem na sua escrita, quer pela capacidade de diálogo com a tradição lírica. A sua obra poética distingue-se, num cerrado rigor construtivo, pela contenção emotiva e pelo despojamento de tudo o que é redundante face à contundência da palavra exata, numa capacidade de fusão entre poesia discursiva e poesia imagética, de transmitir a rutura com o senso comum numa expressão lapidar, onde as palavras são, "em si mesmas, pura dinamite, uma permanente vertigem, uma constante transgressão." (cf. CRUZ, Gastão, A Poesia Portuguesa Hoje, 1999, pp.153-163).
Fonte: Infopédia.
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5 comentários:
Linda poesia dessa poetisa! abração,ótimo feriado,chica
A porta que é saída e também entrada,,,muitas vezes despedida e em outras chegada...belo poema...abraços de bom dia e bom feriado pra ti meu amigo.
°º♪♫
°º✿♪♫
º° ✿✿♫
A porta é o infinito...
Bom dia, amiga!
Beijinhos.
Brasil°º♪♫
°º✿♪♫
º° ✿✿♫
a porta nós...
Abraço de "abrir-e-fechar-de-portas".
Tenho uma porta para um túnel do tempo amigo!
Beijos,
Carla
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