domingo, 20 de novembro de 2011

O seringueiro e a onça.


O SERINGUEIRO E A ONÇA 

        A outra história se deu no Amazonas. O sujeito me contou que tinha saído de madrugada na sua estrada de seringa. Não sabe como, se distraiu, deixou a vereda batida: quando deu em si, estava perdido na mata. 
          Rodou, rodou, até que topou com um pau tão grosso que quatro homens de mãos dadas não o abarcavam. E acontecia que esse pau tinha um oco bem no meio, cavado a modo de um pilão – sendo porém que o tal pilão tinha umas duas braças de fundo por uma braça de largo. E por uma fenda que mostrava o interior do oco ele viu que uma onça ali agasalhava a ninhada e dois filhotes roncavam e buliam lá dentro. 
          A onça não estava no ninho; e o homem, deu-lhe uma grande vontade de apanhar os gatinhos e os levar para criar. Com muita dificuldade subiu no pau, se agarrando num cipó, e foi descendo pelo meio do oco em procura dos gatos. Mas a meio caminho o cipó rebentou e ele caiu em cheio dentro da cova da onça. Então é que foi o diabo. Porque o oco era liso, sem falha, e ele não via jeito de se safar do buraco. Tanto tentou que sangrou os dedos, deu pulos de doído e só o que conseguiu foi cair por cima de um dos gatos que lhe enfiou os dentes no calcanhar. Acabou o infeliz se sentando no chão, chorando de raiva, no meio da catinga de carniça. 
          E o pior não era isso, o pior foi mesmo quando a onça velha apareceu, farejou pela fenda e veio ver o que lhe acontecera aos filhos. 
        De um salto a fera subiu no pau, e de lá de cima veio, baixando, mas de costas, primeiro o rabo, depois os quartos, enquanto, ia se agarrando com as unhas para amortecer a descida. E aí o homem, que já encomendara a alma a Deus, teve de repente uma ideia. 
          – Onça! 
       Assombrada com o berro, sentindo-se presa, a onça armou o pulo e atirou-se para cima. E com ela subiu o camarada, só lhe soltando o rabo quando tocou com os pés no chão. A onça sumiu no mato, como um corisco. E o homem se benzeu, fechou os olhos. E assim mesmo com os olhos fechados, mas correndo como um desesperado, nem sabe como deu com o terreiro de casa. 

Rachel de Queiros 


Quinta ocupante da Cadeira 5, eleita em 4 de agosto de 1977, na sucessão de Candido Motta Filho e recebida pelo Acadêmico Adonias Filho em 4 de novembro de 1977. 

Rachel de Queiroz nasceu em  Fortaleza (CE), em 17 de novembro de 1910, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 4 de novembro de 2003. Filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descende, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar, parente portanto do autor ilustre de O Guarani, e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas no  Quixadá e Beberibe. 

Em 1917, veio para o Rio de Janeiro, em companhia dos pais que procuravam, nessa migração, fugir dos horrores da terrível seca de 1915, que mais tarde a romancista iria aproveitar como tema de O quinze, seu livro de estréia. No Rio, a família Queiroz pouco se demorou, viajando logo a seguir para Belém do Pará, onde residiu por dois anos. 

Em 1919, regressou a Fortaleza e, em 1921, matriculou-se no  Colégio da Imaculada Conceição, onde fez o curso normal, diplomando-se em 1925, aos 15 anos de idade. Quer ler mais? 

Fonte: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=261&sid=115

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7 comentários:

Severa Cabral(escritora) disse...

Belo alvorecer meu vizinho!
Venho desejar um domingo fenomenal!
Beber um pouco de literatura.
Aproveitar para te convidar a passar no blog do nosso amigo Daniel para ver o dueto que ele me botou,kkkkkkkkk
http://encontroslusobrasileiros.blogspot.com

chica disse...

Puxa, fazia tempo não li nada da Rachel de Queiros..
Legal!!! abração, lindo domingo,chica

Everson Russo disse...

Muito legal meu amigo,,,abraços de boa semana pra ti.

Smareis disse...

Rachel de Queiros , gosto muito. O seringueiro e a onça , espetacular. As vezes o medo faz as pessoas vencer o perigo.Ótima semana cheia de coisas especiais e muitas energias positivas nos seus dias. Beijos grande!

VeraBruxa disse...

Olá!
Abraço e boa semana, mas se encontrares uma onça, vence o medo, pois coragem, no apuro, a gente acha!

VeraBruxa disse...

Olá!
Abraço e boa semana, mas se encontrares uma onça, vence o medo, pois coragem, no apuro, a gente acha!

Unknown disse...

Olá meu amigo!!!
Gosto muito de Raquel de Queiróz, grande escolha em tua postagem... Dizer que são ocasiões que se faz o ladrão, o medo somente pode ser vencido quando somos pegos distraidos, onde não se tem como socorrer, se não encarar...

Linda semana para você e os teus...

Livinha