ORAÇÃO À BANDEIRA
Bendita sejas Bandeira do Brasil! Bendita sejas pela tua beleza! És alegre e triunfal.
Quando te estendes e estalas a viração, espalhas sobre nós um canto e um perfume, porque a viração que te agita passou pelas nossas florestas, roçou as toalhas das nossas cataratas, rolou no fundo dos nossos grotões agrestes, beijou os píncaros da nossa montanha, e de lá trouxe o bulício e a frescura que entrega ao teu seio carinhoso. És formosa e clara, graciosa e sugestiva. O teu verde da cor da esperança é a perpétua mocidade da nossa terra e a perpétua meiguice das ondas mansas que se espreguiçam sobre as nossas praias. O teu ouro é o sol que nos alimenta e excita, pai das nossas searas e dos nossos sonhos, nume de fartura e de amor, fonte inesgotável de alento e de beleza.
O teu azul é o céu que nos abençoa, inundando de soalheiras ofuscantes, de luares mágicos e de enxames de estrelas.
E o teu Cruzeiro do Sul é a nossa história: as nossas tradições e a nossa confiança, as nossas saudades e as nossas ambições. Viu a terra desconhecida e a terra descoberta, o nascer do povo indeciso, a inquieta alvorada da Pátria, o sentimento das horas difíceis e o delírio dos dias de vitória. Para ele, para o seu fulgor divino ascenderam, numa escalada ansiosa, quatro séculos de beijos e de preces, e pelos séculos em fora irão para ele a veneração comovida e o culto feiticista das multidões de brasileiros que hão de viver e de lutar!
Olavo Bilac.
HISTÓRIA PÁTRIA
Lá vai uma barquinha carregada de
Aventureiros.
Lá vai uma barquinha carregada de
Bacharéis.
Lá vai uma barquinha carregada de
Cruzes de Cristo.
Lá vai uma barquinha carregada de
Donatários.
Lá vai uma barquinha carregada de
Espanhóis
Paga prenda.
Prenda os espanhóis!
Lá vai uma barquinha carregada de
Flibusteiros.
Lá vai uma barquinha carregada de
Governadores.
Lá vai uma barquinha carregada de
Holandeses.
Lá vem uma barquinha cheiinha de índios
Outra de degredados
Outra de pau de tinta
Até que o mar inteiro
Se coalhou de transatlânticos
E as barquinhas ficaram
Jogando prenda com a raça misturada
No litoral azul de meu Brasil.
Oswald de Andrade.