terça-feira, 23 de setembro de 2014

Setenta e duas primaveras.

S etenta e duas primaveras,

E ntre os altos e baixos da vida. Sempre

T ombando e levantando como tubo pet,

E m sua reciclagem, em prol do ambiente.

N o ar, voando como a abelha em busca de pólen,

T ateando como nau sem rumo, no mundo da net,

A procura de um tema, para um mero poema.



E nveredando por trilhas que me dignifique,



D ivulgando baboseiras sem querer obter record,

U nindo palavras, rimando o angu com o caju,

A frontando a cultura, assassinando a gramática,

S em nenhuma graça, com concordâncias esparsas.



P obre de cultura. Não sou top nem almejo Ibop,

R esponsável eu sou, talvez, um dia não possa ser.

I nvento baboseiras assim, sem olhar de onde parti,

M isturando rima de caqui, com rima de aipim.

A prendo com os livros o que mais me interessa,

V ejo, também, as besteiras e o melhor da Tv.

E rguendo-me sempre, em cada vez que tropece,

R espeitando os direitos de quem possa ter e, ser

A legre e feliz, sentimentos de quem comemora

S etenta e duas primaveras.

R.S. Furtado

MEU QUERIDOS AMIGOS!



Hoje, dia 23 de setembro, despertei e, quando conversei com meu DEUS (o que faço diariamente à noite ao deitar para dormir e ao despertar pela manhã), além dos outros costumeiros e importantes agradecimentos, agradeci também, pelo prazer e a satisfação de poder receber a visita de mais uma primavera, principalmente, por saber que meus dois filhos, Rosemildo Filho e Rosenildo, também a receberam e, o melhor, em paz e gozando da mais perfeita saúde. Rosemildo Filho e Rosenildo completam hoje 44 e 38 anos, respectivamente, por isso, tomei a liberdade de partilhar com eles esta humilde comemoração.



QUE DEUS SEJA LOUVADO”

domingo, 21 de setembro de 2014

Desânimo.

 
DESÂNIMO

Já nada tenho do que outrora tive,
e noutros tempos muita coisa eu tinha:
minh'Alma, agora, em desespero, vive,
vivendo sem viver, triste e sozinha.

Muito sorri e muita dor contive,
para que o Mundo vil não visse a minha
grande e profunda Mágoa. E assim estive,
a viver uma vida bem mesquinha.

Tudo perdi. Na noite do passado,
apagou-se o final que me guiava,
no Céu do meu viver a fulgurar.

Agora, velho, trôpego, cansado,
espero, mas em vão, que d'Alma escrava,
venha a Morte os grilhões despedaçar.

Figueiredo Pimentel


Alberto Figueiredo Pimentel (Macaé, 1869 – 1914) foi um romancista, cronista, diplomata, contista, poeta e jornalista brasileiro.  



Figueiredo Pimentel foi além de poeta, contista, cronista, autor de literatura infantil e tradutor. Manteve por muitos anos, desde 1907, uma seção chamada Binóculo na Gazeta de Notícias. Publicou novelas, poesia, histórias infantis e contos.


Um de seus grandes êxitos foi o romance naturalista O Aborto, estudo naturalista, publicado em 1893 e que hoje se encontra completamente esgotado à espera de uma urgente e necessária reedição. Como poeta, participou da primeira geração simbolista chegando a se corresponder com os franceses. Era amigo de Aluísio Azevedo, com quem trocou cartas, enquanto o autor de O Cortiço estava fora do país como diplomata.


Foi figura destacada na cena Belle Époque carioca. Poeta, romancista, escritor de literatura infantil, ganhou destaque e se perpetuou nos compêndios da literatura brasileira. Possui a autoria da máxima “O Rio civiliza-se”. O slogan lançado, em 1904, na Gazeta de Notícias, ganha envergadura como palavra de ordem do reformismo reacionário que provoca mudanças na vida carioca, interferindo em hábitos e costumes de seus moradores. A comunicação terá como foco a coluna Binóculo, assinada pelo autor, identificado como o primeiro cronista social da capital. Era ele quem tratava das novidades da moda, do bom gosto, do chic  em voga em Paris e que deveria ser aqui aclimatado. 

 
Fonte: Wikipédia. 
 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O cão.


O CÃO

Nada mais próximo da morte: o cão
dormindo na calçada. Na medula
do sonho se mantém, e não se anula
ao modo de mosaico, ralo e chão,

sobre cuja epiderme, alto-relevo,
desenha a sua sombra, que o ocupa
como a tudo que a morte desocupa
acentuando o cárcere e o relevo.

Por entre as coisas próprias de uma rua
persiste indecifrável, pelo, instinto,
e sempre distinguido do comum

quando a morte o constrói e o faz nenhum,
a figura do cão, só, no recinto
do sono transbordante em que flutua.

Cláudio Mello e Souza 
  
Rio - Em janeiro deste ano, um diagnóstico de leuc

emia levou Cláudio Mello e Souza, um dos jornalistas mais conhecidos do país, a ficar internado desde então no hospital Copa d'Or, a poucas centenas de metros do seu apartamento, na Rua Santa Clara. Durante os sete meses de luta contra a doença, o jornalista não escondia sua preocupação com a conclusão de seus dois últimos projetos: um livro de entrevistas sobre o escritor português Eça de Queiroz - uma de suas grandes paixões - e a biografia do ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda de quem foi amigo... Leia mais aqui: 


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Eu vi dois pólos.

 

EU VI DOIS PÓLOS

Eu vi dos pólos o gigante alado
Sobre um montão de pálidos coriscos,
Sem fazer caso dos bulcões ariscos
Devorando em silêncio a mão do fado

Cinco fatias de tufão gelado,
Figuravam na mesa entre os petiscos,
Envolto em crepe de fatais rabisco
Campeava o sofisma ensanguentado.

Quem és? Que assim me cercas de episódios
Lhe perguntei com voz de silogismo,
Brandindo um facho de trovões serôdios!

Eu sou, me disse, aquele anacronismo
Que a vil caterva de sulfúricos ódios,
Nas trevas sepultei de um solecismo.

Bernardo Guimarães
 

Leia mais um belo soneto e um resumo da biografia do autor aqui:

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Se eu morresse amanhã.


SE EU MORRESSE AMANHÃ

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
 
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! Que céu azul! Que dove n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu mossesse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

Álvares de Azevedo

Leia mais um belo soneto e um resumo da biografia do autor aqui:

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O sonho.

   

O SONHO

Sonhei que estávamos num belo jardim,
Verdejante e ornado com lindas flores.
Açucena, amor perfeito, crisântemo e jasmim,
Exalando fragrâncias num misto de odores.

De um lado, formosa, estava uma rosa,
E do outro, perfilado, estava um cravo.
A rosa repousava com sua graça mimosa,
O cravo implorava seu amor como um bravo.

E assim, de uma forma magna, esplendorosa,
A história de um lindo amor aconteceu.
A felicidade reinou para ambos, imperiosa,

Mas o sonho findou. O dia lentamente amanheceu.
Ao meu lado dormindo, tu eras a rosa,
Ao teu lado acordado, o cravo era eu.

R.S. Furtado. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Ária noturna.



ÁRIA NOTURNA

Da janela em que olhando para fora,
bebes da noite o incenso a longos tragos,
claro escorre o luar... Em sonhos vagos,
atrás da sombra espreita, rindo, a aurora...

Longe uns dolentes, músicos afagos,
sentes?... Não é o rouxinol que chora
nas balsas, nem o vento que desflora
a toalha friíssima dos lagos...

É ele; e vaga toda a noite, enquanto
o luar macilento e o campo flóreo
tressuam mole e pérfido quebranto...

Não lhe ouças, filha, o canto merencório!
Fecha a janela e foge, que esse canto
vem da guitarra de D. Juan Tenório!

Raimundo Correia
Leia mais um belo soneto e um resumo da biografia do autor aqui:

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A viola.


A VIOLA

Quanto eu te amava, oh! rustico instrumento
Tu que as maguas, as dores alivias
Da sertaneja em mansas melodias,
Inda hoje me vens ao pensamento!...

Puro e boro, despertava o sentimento,
A alma dourando, como doura os dias
O sol – nosso conviva... e tu vertias
Teus gemidos subtis todos ao vento...

Companheira querida das matutas,
Confidente fiel de seus desejos,
De seus sonhos de amor, serenas lucias,

Como és boa da roca nos festejos,
Quando as morenas languidas, astutas,
Afinara pela prima o som dos beijos!...

Sílvio Romero



Sílvio Romero (S. Vasconcelos da Silveira Ramos R.), crítico, ensaísta, folclorista, polemista, professor e historiador da literatura brasileira, nasceu em Lagarto, SE, em 21 de abril de 1851, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 18 de julho de 1914. Convidado a comparecer à sessão de instalação da Academia Brasileira de Letras, em 28 de janeiro de 1897, fundou a Cadeira nº 17, escolhendo como patrono Hipólito da Costa.



Foram seus pais o comerciante português André Ramos Romero e Maria Joaquina Vasconcelos da Silveira. Na cidade natal iniciou os estudos... Leia mais aqui:

sábado, 6 de setembro de 2014

Presídio.

 
PRESÍDIO

Nem todo corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
É também água, terra, vento, fogo...

E sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!

David Mourão - Ferreira



Escritor português, nasceu em Lisboa, em 1927 e morreu, também nesta cidade, em 1996. Licenciou-se em Filologia Romântica em Lisboa, onde chegou a ser professor catedrático, organizando e regendo, entre outras, a cadeira de Teoria da Literatura. Foi secretário de Estado da Cultura, entre 1976 e 1979; diretor do diário A Capital, diretor do Boletim Cultural do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1984 e 1996; diretor da revista Colóquio/Letras; presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1984-86) e vice-Presidente da Association Internationale des Critiques Littéraires. A sua obra... Leia mais aqui:


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Na fazenda.

NA FAZENDA

Dorme ainda a fazenda: ao longo da varanda

Repousa o boiadeiro em couros estendidos;

Desponta no horizonte aurora froixa e branda,

No meio do terreiro o cão solta ganidos!



Mas nisso de repente escutam-se alaridos,

Dum sino que desperta estruge a voz nefanda;

Começam a soar conversas e balidos

E a ordem de rigor que rude aos negros manda!



Chegou o começar das lides e trabalhos,

Ressoam do feitor os brados e os ralhos:

A boiada desfila à porta do curral.



Os pretos esfregando os olhos sonolentos

Levando samburás lá vão a passos lentos

Da porta da senzala ao denso cafezal!



Afonso Celso.
  
Leia mais um belo soneto e um resumo da biografia do autor aqui: