REGUENGOS
Inverno, manhã cedo. A luz que banha
A paisagem é gélida e cinzenta;
A vaga pompa do cenária ostenta,
Ao largo, as serras húmidas de Espanha.
Hortas, vinhedos e a carcaça estranha
De Monsaraz, numa ascensão violenta;
A erva tenrinha os gados apascenta,
Que em tons de bronze a terra desentranha.
E eu olho essa paisagem dolorida,
Testemunha que foi da minha vida,
Povoada agora de visões errantes....
Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a,
Que os seus olhos longínquos, rasos de água,
São hoje os mesmos que me olhavam dantes.
António de Macedo Papança
António de Macedo Papança (Conde de Monsaraz), político e escritor português, nascido em 1852, em Reguengos de Monsaraz, oriundo de uma família de grandes proprietários do Alentejo, e falecido em 1913, em Lisboa, foi doutor em Leis pela Universidade de Coimbra, deputado, par do reino, sócio da Academia Real das Ciências e embaixador-delegado ao Congresso da Paz, em 1900, tendo sido agraciado com o título de conde. Na sequência da implantação da República, em 1910, exilou-se em Paris, de onde regressou em 1913, pouco tempo antes da sua morte. Colaborou em vários periódicos, como A Folha, A Evolução e A Ilustração Portuguesa. Deixou quatro volumes de poesias – Crepusculares (1876), Catarina de Ataíde (1880), Telas históricas (1882) e Musa alentejana (1908) -, para além da coletânea póstuma Lira de outono (1952), que ilustram a transição da estética parnasiana para as correntes neorromânticas e ruralistas do fim de século.
Fonte: Infopédia.