COM BARRO AMASSEI MEU SANGUE
Com barro amassei meu sangue
pus-lhe dentro o coração
depois deitei-lhe uma estrela
e um ponto de exclamação.
Mas esta coisa anda mesmo?
Lá dentro havia o pulsar
de rio de águas fervendo
em jeito de respirar.
Deitei-lhe trigo e o trigal
ali mesmo rebentou:
Depois juntei-lhe uma pedra:
que montanha se formou!
Mas esta Coisa anda mesmo?
Lá dentro nascia pão
e fogo que rebentava
da cratera de um vulcão.
Depois soprei-lhe com força:
Vinha de lá um rumor
como vendaval crescendo.
Coisa maluca, Senhor?
Pois esta Coisa anda mesmo?
Mas isto tudo é de gente?
O que pode acontecer
quando um Poema se sente?
Cândido da Velha
Poeta, contista e jornalista angolano, Cândido Manuel de Oliveira da Velha nasceu a 18 de Julho de 1933, em Ílhavo, no distrito de Aveiro, onde passou a infância e parte da adolescência.
Tendo terminado o ensino secundário, foi viver algum tempo para Lisboa e é já aqui que decide ir para Angola, em 1957, onde viveu até ao momento da Independência, tendo desempenhado funções de funcionário público no Instituto de Trabalho de Angola. Na verdade, regressa a Portugal em Outubro de 1975, onde exerceu a sua actividade profissional no Baixo Alentejo, entre 1976 e 1986.
A sua actividade literária começou por ser veiculada através da imprensa regionalista, ainda em Portugal, tendo sido um dos organizadores dos cadernos "Atitude".
Foi membro da Sociedade Cultural de Angola e foi galardoado, em 1957, com o 1.º Prémio de Poesia da Associação dos Naturais de Angola (ANANGOLA) pelo seu livro, à data ainda manuscrito, Poemas do Apocalipse. Em 1959, ganhou o Prémio "Mota Veiga" com o livro As Idades da Pedra.
Entre 1958 e 1975, foi colaborador literário de diversos jornais, nomeadamente "Cultura II"; "ABC"; "Jornal de Angola"; " A Província de Angola"; "Notícias de Angola"; "Brasília do Sul" e também, embora por curto período de tempo, do "Suplemento Literário" de Minas Gerais (Brasil).
Colaborador da revista "Cultura II", continuadora da revista "Mensagem"extinta pela Polícia Política do Governo Colonial, Cândido da Velha assume uma escrita poética notoriamente "engagée" que, constituindo-se como um processo de catarse, evoca o passado de escravidão e denuncia o presente colonial de miséria. Produzindo os seus textos em tempo de repressão e de luta contra o colonialismo, o autor projecta um "eu lírico" militante que, denunciando a opressão fascista e colonialista, se enforma como um grito colectivo de um povo que começa a tomar verdadeira consciência da sua exploração e se predispõe a mudá-la.
Poeta conceituado, os seus textos têm sido seleccionados para animar espaços de poesia promovidos por, entre outros, António Cardoso Pinto.
A sua obra figura em diversas antologias poéticas, a saber: "Kazuela I", 1973; "Breve África" 1975; "No Reino de Caliban. Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa, II", 1976; "Antologia da Poesia Pré-Angolana",1976 e "Antologia do Mar na Poesia Africana de Língua Portuguesa do Século XX", 2000.
Escreveu, entre outros, os seguintes títulos: Quero-te Intangível, África (1960-Poesia); Equador (1961-Contos); As Idades da Pedra (1969 - Poesia); Corporália (1972 - Poesia); Signo de Caranguejo (1972 - Poesia); Memória Breve de Uma Cidade (1988 - Poesia); Navio Dentro do Mapa (1994 - Poesia) e Lugares do Vento Suão (1998 - Poesia).
Como referenciar este artigo:
Cândido da Velha. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-11-07].
Disponível na www: .
12 comentários:
Amigo Rosemildo
Suas postagens são sempre uma riqueza!
Vejamos esta: maravilhoso poema e a biografia de seu autor, grande poeta.
Quando leio algo que muito me agrada, sinto um desejo enorme de saber sobre a vida do escritor. Mesmo quando se trata de algúém muito conhecido, gosto de reavivar a memória, que tanta vez falha...
Grata!
Enorme abraço!
Zélia
Sempre bom conhecer novos versos e seus ciradores...abraços amigo e uma semana de paz pra ti.
Olá, vim deixar um abraço, votos de uma semana de muitas bençãos.
Bom domingo, abraço.
Provérbio 16- 1,2,3.
Do homem são as preparações do coração, mas do SENHOR a resposta da língua.
Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o SENHOR pesa o espírito.
Confia ao SENHOR as tuas obras, e teus pensamentos serão estabelecidos.
bjos
Furtado, querido,
Que belo poema, não conhecia o autor, mas como sempre, aqui colhemos cultura. Adoro!
Bjs e boa semana
Maravilhoso....estava lendo e a
lembrar-me 'A Pedra Filosofal',...
sei lá porquê??...
Abraço
Belo post amigo...
Gostei do poema e de conhecer o autor.
Como sempre, muito informativo teu blog.
Gosto muito.
Tenha uma semana proveitosa e de muita paz!
Bjos!
Olá amigo
Tens um arquivo poético fantástico. Amei.
Tenha uma linda semana
Abração
Nussa que poema mais lindo, terno, doce e mto criativo, de suavidade tamanha...
O que pode acontecer quando um poema se sente...
Puxa vida, são de todo tão sentido, que a gente entontece no giro, como criança a brincar, tudo porque se deseja somente o verbo amar...
LIndo!!!
Bjs
Livinha
Rosemildo...eu nem vou falar mais nada...é, porque vou ficar repetitiva diante de suas postagens, acho que vou entrar aqui e deixar beijosss, srsrsrsrs
você é incrivel!
Beijosssssssssssss no coração!
"Pois esta Coisa anda mesmo?
Mas isto tudo é de gente?
O que pode acontecer
quando um Poema se sente?"
Muito lindo meu amigo!
É sempre bom sentir os poemas aqui!
Beijos!
Não conhecia este poeta, nascido aqui tão perto de mim...
A tua escolha foi excelente porque se trata de um poema extraordinário:
"O que pode acontecer/
Quando um Poema se sente?"
A biografia de Cândido Manuel de Oliveira da Velha editada aqui por
ti, enriquece ainda mais esta postagem.
Obrigada pelo muito que aqui nos ensinas.
Beijo
Graça
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