O MORCEGO
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
“Vou mandar levantar outra parede...”
– Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
Augusto dos Anjos
Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no dia 20 de abril de 1884, no Engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos sete anos de idade.
Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura influenciaria muito na construção de sua dialética poética e visão do mundo.
Com a obra de Herbert Spence, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia Sagrada ao qual, também, não contestava sua essência espiritualística, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, se emergiam na sua época.
Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera, para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte.
Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 12 de novembro de 1914, às 4 horas da madrugada, aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de um grupo escolar. A causa de sua morte foi a pneumonia.
Fontes: “Língua, Literatura & Redação” – 2ª edição – Editora Scipione – 1995.
“Wikipédia.
6 comentários:
Nunca havia pensado nisso, a Consciência Humana é este morcego, não é que ele estava certíssimo!
BeijooO' e obrigada pelo carinho.
Furtado,
Gosto de Augusto dos Anjos, ele tem um estilo próprio, um tanto polêmico...
Venha buscar em meu Blog o Premio Amizade sem Fronteiras, está lá aos amigos...
Boa semana!
Beijos......Reggina Moon
Un regalo literario, es genial.
Gracias y que tengas una buena semana.
Jacquie.
Meu amigo,
Fez me lembrar de uma história engraçada que aconteceu com
uma amiga minha...
dito caso parecido, estava ele
pendurado na cortina..
até que se ouve um grito
e a coitada correu pra fora do quarto espantada:
Hoje eu não durmo!
Belo poema de Augustos dos Anjos
que muito o admiro.
Bjss
e linda semana!
Livinha
Bela escoloha meu amigooooooooo
E obrigada por compartilhar
Beijos em tua alma......M@ria
amigo, los poemas que he leído aquí, no son muy comunes, siento que estoy leyendo algo extraordinario, pues soy nuevo en este mundo de las letras.
un abrazo
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