AUTO-RETRATO
Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.
Manuel Bandeira.
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife, em 19 de abril de1886. Ainda jovem, muda-se para o Rio de Janeiro, onde faz seus estudos secundários. Em 1903 transfere-se para São Paulo, matriculando-se na Escola Politécnica; acometido de tuberculose, abandona os estudos e volta para o Rio de Janeiro. A partir de então, desenganado várias vezes pelos médicos, inicia uma peregrinação pelas melhores casas de saúde situadas em estações climáticas do Brasil e da Europa. Em 1917 estréia em livro com o volume A cinza das horas, de nítida influência parnasiana e simbolista. Viveu solitariamente, apesar dos amigos e das reuniões da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 1940. Morreu aos 82 anos, em 13 de outubro de 1968.
Com a publicação dos livros Carnaval, em 1919, e Ritmo dissoluto, em 1924, o poeta vai se engajando cada vez mais no ideário modernista, para explodir definitivamente com a publicação do livro Libertinagem (1930), uma das mais importantes obras de toda a literatura brasileira, onde aparecem poemas como “Poética”, “O cacto”, “Pneumotórax”, “Evocação do Recife”, “Poema tirado de uma noticia de jornal", "Irene no céu" e “Vou-me embora pra Pasárgada”, entre tantos outros. E aqui aparece a palavra-chave de toda a sua obra modernista: liberdade, seja de conteúdo, seja de forma.
Buscou na própria vida inspiração para seus grandes temas: de um lado, a família, a morte, a infância no Recife, o rio Capibaribe; de outro, a constante observação da rua por onde transitam os mendigos, as prostitutas, os pobres meninos carvoeiros, as Irenes pretas, os carregadores de feira livre, todos falando o português gostoso do Brasil. E, em tudo, o humor, certo ceticismo, uma ironia por vezes amarga, a tristeza e a alegria dos homens, a idealização de um mundo melhor – enfim, um canto de solidariedade ao povo.
Fonte: “Língua, Literatura & Redação” – 2ª edição – Editora Scipione – 1995.
7 comentários:
Nunca imaginei que Manuel Bandeira fosse tão impiedoso com ele mesmo.
BeijooO'
Oi meu amigo,
Como é difícil saber o que se passa na alma de um poeta...
Em letas soltas, tanto a dizer e dita, mas leitores captam e tentam advinhar... Tristezas nas letras, falhas ocasionadas, e a gente no fim aplaude, lindo! e a gente sequer sabe o feio que o autor sente por dentro, alguma coisa ele exala, mas o cheiro a gente não sente...
Na verdade em alma de poeta, é a ventura, ansiosa de querer sair de dentro de si mesmo, antes que a porta bata e se deixe morto por dentro...
E mais uma vez eu aqui a dizer:
Lindo poema Furtado.
Lindo dia pra ti amigo querido
Bjs
Livinha
Meu querido amigo
Lindo poema, gostei e fiquei a saber mais umas coisas.
beijinhos
Sonhadora
gracias por compartir.
un abrazo.
Forte!
Um beijo de boa semana!
Manuel Bandeira, grande poeta...
Venho carinhosamente te conhecer e fazer um convite.
Espero que aceite e venha conferir quem está comigo neste lindo cantinho, muito especial..
http://sandraandradeendy.blogspot.com/
Se vc. gostar fica o convite para ser seguidor mais recente.
Será um grande prazer te receber por lá.
Carinhosamente,
Sandra/Curiosa....
Isso aqui cultura....obrigada pela partilha meu anjo...adorei teu comentário, rindo até agora...kkk
beijos...Linda noite!
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