terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Auto-retrato.

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AUTO-RETRATO

Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico

Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

Manuel Bandeira.

http://www.marcelomoutinho.com.br/blog/manubandeira-thumb.jpg

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife, em 19 de abril de1886. Ainda jovem, muda-se para o Rio de Janeiro, onde faz seus estudos secundários. Em 1903 transfere-se para São Paulo, matriculando-se na Escola Politécnica; acometido de tuberculose, abandona os estudos e volta para o Rio de Janeiro. A partir de então, desenganado várias vezes pelos médicos, inicia uma peregrinação pelas melhores casas de saúde situadas em estações climáticas do Brasil e da Europa. Em 1917 estréia em livro com o volume A cinza das horas, de nítida influência parnasiana e simbolista. Viveu solitariamente, apesar dos amigos e das reuniões da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 1940. Morreu aos 82 anos, em 13 de outubro de 1968.

Com a publicação dos livros Carnaval, em 1919, e Ritmo dissoluto, em 1924, o poeta vai se engajando cada vez mais no ideário modernista, para explodir definitivamente com a publicação do livro Libertinagem (1930), uma das mais importantes obras de toda a literatura brasileira, onde aparecem poemas como “Poética”, “O cacto”, “Pneumotórax”, “Evocação do Recife”, “Poema tirado de uma noticia de jornal", "Irene no céu" e “Vou-me embora pra Pasárgada”, entre tantos outros. E aqui aparece a palavra-chave de toda a sua obra modernista: liberdade, seja de conteúdo, seja de forma.

Buscou na própria vida inspiração para seus grandes temas: de um lado, a família, a morte, a infância no Recife, o rio Capibaribe; de outro, a constante observação da rua por onde transitam os mendigos, as prostitutas, os pobres meninos carvoeiros, as Irenes pretas, os carregadores de feira livre, todos falando o português gostoso do Brasil. E, em tudo, o humor, certo ceticismo, uma ironia por vezes amarga, a tristeza e a alegria dos homens, a idealização de um mundo melhor – enfim, um canto de solidariedade ao povo.

Fonte: “Língua, Literatura & Redação” – 2ª edição – Editora Scipione – 1995.

7 comentários:

Valéria lima disse...

Nunca imaginei que Manuel Bandeira fosse tão impiedoso com ele mesmo.

BeijooO'

Unknown disse...

Oi meu amigo,
Como é difícil saber o que se passa na alma de um poeta...
Em letas soltas, tanto a dizer e dita, mas leitores captam e tentam advinhar... Tristezas nas letras, falhas ocasionadas, e a gente no fim aplaude, lindo! e a gente sequer sabe o feio que o autor sente por dentro, alguma coisa ele exala, mas o cheiro a gente não sente...
Na verdade em alma de poeta, é a ventura, ansiosa de querer sair de dentro de si mesmo, antes que a porta bata e se deixe morto por dentro...
E mais uma vez eu aqui a dizer:
Lindo poema Furtado.

Lindo dia pra ti amigo querido
Bjs
Livinha

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido amigo
Lindo poema, gostei e fiquei a saber mais umas coisas.

beijinhos
Sonhadora

Anônimo disse...

gracias por compartir.
un abrazo.

Helô Strega disse...

Forte!
Um beijo de boa semana!

Sandra disse...

Manuel Bandeira, grande poeta...

Venho carinhosamente te conhecer e fazer um convite.
Espero que aceite e venha conferir quem está comigo neste lindo cantinho, muito especial..
http://sandraandradeendy.blogspot.com/

Se vc. gostar fica o convite para ser seguidor mais recente.
Será um grande prazer te receber por lá.
Carinhosamente,
Sandra/Curiosa....

Felina Mulher disse...

Isso aqui cultura....obrigada pela partilha meu anjo...adorei teu comentário, rindo até agora...kkk


beijos...Linda noite!