domingo, 27 de julho de 2014

Amor-próprio.

 
 
AMOR-PRÓPRIO

Arfa-lhe o seio, o coração lhe bate,
Ferve-lhe o peito num desejo ardente...
Ella, contudo, finge estar contente,
Velando a custo o intimo combate.

Que se estortegue em ânsias, que se mate
De aceradas paixões interiormente...
Forçoso é rir, com a lágrima latente,
Lutar com a tentação, que n'alma embate.

Querem falar os lábios, mas não falam;
Querem gritar as dores, mas se calam,
De austera voz ao mando soberano.

Padeça o amor, sublime de ternuras;
Que esse amor-próprio, origem de torturas,
Bárbaro sendo, infelizmente é humano.

Xavier Marques


Segundo ocupante da Cadeira 28, eleito em 24 de julho de 1919, na sucessão de Inglês de Sousa e recebido pelo Acadêmico Goulart de Andrade em 17 de setembro de 1920.

Xavier Marques (Francisco X. Ferreira M.), jornalista, político, romancista, poeta e ensaísta, nasceu na ilha de Itaparica, BA, em 3 de dezembro de 1861, e faleceu em Salvador, BA, em 30 de outubro de 1942.

Iniciou os primeiros estudos em sua cidade natal. Cedo se transferiu para a cidade de Salvador, matriculando-se no colégio do cônego Francisco Bernardino de Souza. Na capital baiana dedicou-se ao jornalismo, atividade que só interrompeu durante o segundo dos seus mandatos... Leia mais aqui:

6 comentários:

Unknown disse...

Um poema de grande beleza.

A vida é um combate.
Se queremos vencer
Haveremos de lutar
Sem nunca esquecer
Que o amor nos fará viver

chica disse...

Lindo poema e o amor próprio é humano, precisamos dele até para fazer com que nos respeitem! abração praiano,tuuuudo de bom,chica

RENATA CORDEIRO disse...

Não consigo não vir aqui. Mais um lindo soneto de questionamento de algo extremamente humano.
Abraço,
Renata

Edum@nes disse...


Amor próprio, poema...
quem assim escreve com imaginação
quando verdadeiro contenta
e não magoa o coração!

Amor esse que não apoquenta,
esse amor que tanto satisfaz
acompanhado ele venha
de alegria, carinho e paz!

Resto de bom domingo, um abraço.

Laura Santos disse...

Muito belo , e mais um poeta do qual nunca tinha ouvido falar.
O amor próprio é condição primeira para que possamos amar os outros, e não ser deles escravos.
Gostei muito.
xx

SOL da Esteva disse...

Não sei se me vou repetir: recolhes o MELHOR que há na Poesia. Este Soneto prova isso.
Parabéns.


Abraços


SOL