CUBATÃO
Minha terra não passa de uma estrada,
um bambual que rumoreja ao vento;
sol de fogo em areia prateada,
deslumbramento e mais deslumbramento.
O chafariz em forma de carranca,
confidente das moças do arrabalde,
despeja a sua gargalhada branca
no bojo de latão de um velho balde,
Nas portas, parasitas cor de sangue,
um mastro esguio em cada casinhola;
gente tostada que desfolha o mangue,
crianças pálidas que vêm da escola.
Ao fundo, a Serra. Pinceladas frouxas,
de ouro e tristeza, em fundo azul. Aquelas
manchas que são jacatirões — as roxas,
e aleluias — as manchas amarelas.
A minha terra, quando a vejo, escampa,
cheia de sol e de visões amigas,
lembra-me o cromo que enfeitava a tampa
de uma caixa de goma, das antigas...
Afonso Schmidt
Afonso Schmidt (Cubatão SP, 1890 - São Paulo SP, 1964) chegou a fazer exames para a Faculdade de Direito de São Paulo, em 1905, mas não a cursou. Na época, trabalhou como puxador de trena na construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Em 1907 viajou para a Europa, sem dinheiro e sem passaporte. De volta ao Brasil, publicou, em 1911, seu primeiro livro de poesia, Janelas Abertas (1911). Entre 1918 e 1924 foi diretor do jornal Voz do Povo, da Federação Operária, no Rio de Janeiro. Nas décadas seguintes, publicou mais de 40 livros, destacando-se O Menino Filipe (romance), A Primeira Viagem (autobiográfico), O Tesouro de Cananéia, (contos), A Vida de Paulo Eiró e São Paulo de meus Amores (crônicas). Em 1963 recebeu o prêmio O Intelectual do Ano, troféu Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores. Sua obra poética inclui Mocidade (1921), Garoa (1932), Poesias (1934), Poesia (1945). De origem humilde, Afonso Schmidt manifestou em seu trabalho como jornalista, contista e romancista a preocupação com os pobres, os excluídos da sociedade. Poeta parnasiano, apontou também em seus versos desigualdades e injustiças sociais, que o inquietaram ao longo de toda a vida.
Fonte: http://www.astormentas.com/PT/
4 comentários:
Olá amigo
Belo poema. Gosto quando você apresenta poetas desconhecidos por mim.
Grande abraço
UN TEXTO, SUMAMENTE MUY ADULTO. ME GUSTA.
UN ABRAZO
Tão bonito amar o lugar onde se nasce...beijos achocolatados
Nem imaginava que tinha poesia para Cubatão e é bem diferente esse Rosemildo. Inédito para mim.
Boa noite!!
Carla
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