quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Os amantes sem dinheiro.


OS AMANTES SEM DINHEIRO

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade


Eugénio de Andrade (José Fontinhas) é um inspirado poeta português nascido em Póvoa de Atalaia (Fundão), a 19 de Janeiro de 1923. Aos sete anos vai para Lisboa com sua mãe, lá residindo até 1950, exceto nos anos de 1943 a 1946, quando viveu em Coimbra. Em 1947 ingressa nos quadros dos Serviços Médico-Sociais, do Ministério da Saúde, onde desempenhará durante 35 anos a mesma função - a de inspetor administrativo - pois nunca se dispôs a fazer concursos de promoção. A sua transferência para a cidade do Porto, por razões de serviço, deu-se em Dezembro de 1950, e quando houve oportunidade para voltar a Lisboa, motivação já não havia pois sua mãe falecera. Apesar do seu prestígio, face ao reconhecimento internacional de sua obra, o poeta vive extremamente distanciado do que se chama vida social, literária ou mundana, avesso à comunicação social, arredado de encontros, colóquios, congressos, etc., e as suas raras aparições em público devem-se a "essa debilidade do coração, que é a amizade", devendo encarar-se do mesmo modo o fato de ser membro da Academia Mallarmé, de Paris. Cabe aqui referir que nunca concorreu aos prêmios que lhe foram atribuídos, como nunca ninguém o viu usar usar qualquer insígnia das condecorações com que foi agraciado. A poesia que escreve é honra que lhe parece suficiente.

A obra de Eugénio de Andrade, além de sua poesia, prosa, livros infantis e traduções, é também engrandecida pelas antologias que organizou, em sua maioria sobre a terra portuguesa,caracterizadas por uma total ausência de preconceitos e sectarismos literários. Traduzido em cerca de vinte línguas, a poesia de Eugénio de Andrade tem sido estudada e comentada por, entre outros, Vitorino Nemésio, Gaspar Simões, Oscar Lopes, António José Saraiva, Eduardo Lourenço, Jorge de Sena, Eduardo Prado Coelho, Arnaldo Saraiva, Joaquim Manuel Magalhães, Ángel Crespo, Carlo V. Cattaneo, e suscitado o interesse de vários músicos, entre os quais Fernando Lopes-Graça, Jorge Peixinho e Filipe Pires. O poeta foi o distinguido com a edição do ano 2000 do Prêmio Vida Literária, instituído pela Associação Portuguesa de Escritores (APE).

No dia 10 de julho de 2001, aos 78 anos, foi agraciado com o Prêmio Camões 2001, considerado o mais importante prêmio da língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra. Passa a fazer companhia a outros grandes nomes de nossa literatura, já premiados, como José Saramago e Sophia de Mello Breyner (portugueses), e Autran Dourado, João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Antônio Cândido (brasileiros).

O poeta faleceu na cidade do Porto, em Portugal, no dia 13 de junho de 2005.

Fonte: http://users.isr.ist.utl.pt

10 comentários:

Wanderley Elian Lima disse...

Muito romântico, o amor como fonte de tudo. Sei não, acredito que o amor não resiste a fome.
Abração

chica disse...

Poema forte de E.Andrade.Lindo!abraços,tudo de bom,chica

Lídia Borges disse...

Oh! Que bom este encontro com Eugénio de Andrade e com este poema, em particular!

Obrigada

Unknown disse...

Lindo poema meu amigo, acredito que nas mãos se tinha a fuga, a compensação na droga que consumia, as asas da alucinação...

Belo, profundo, verídico e hoje mais atualizado ainda, porque faz parte na vida humana. Cada um se agarando com o que tem, mediante o grau de suas fraquezas...

perfeito!

Lindo Dia!!!

Bjs

Livinha

✿ Regiane ✿ disse...

O amor é a essência da vida.
Ventos de amor e paz e sua vida.
Com carinho, Lady.

Anônimo disse...

muy poético tema se amor y social.
un abrazo

Lou Witt disse...

Ah se fosse sempre assim, o amor resistindo aos flagelos da vida.

Beijo, querido amigo!

Lu Nogfer disse...

É mesmo um grande poeta!
Linda obra esta,entre tantas!

Beijos com carinho!

Felina Mulher disse...

Querido, hj não consegui ler-te, pois um poeta se foi...meu dia amanheceu sem poesia e só por hoje silenciarei.


bjs.

Rosane Marega disse...

Oie Rosemildo, eu acredito no amor resistente, forte e profundo.
Adorei o seu texto!
Beijossss