sexta-feira, 29 de abril de 2011

"O bem"


"O BEM"

“Deixeis que desabrochem as flores do bem que existem em vós, antes que as maldades do mundo as sufoquem, e seja tarde demais.”

R.S. Furtado.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Não te entendo coração.


NÃO TE ENTENDO CORAÇÃO

Mas se não amo, nem posso,
Que pode então isto ser?
Coração, se já morreste,
Porque te sinto bater?
Ai, desconfio que vives
Sem tu nem eu o saber.

Porque a olho quando a vejo?
Porque a vejo sem a olhar?
Porque longe dos meus olhos
Me andam os seus a lembrar?
Porque levo tantas horas
Nela somente a pensar?

Porque tímido lhe falo,
E dantes não era assim?
Porque mal a voz lhe escuto
Não sei o que sinto em mim?
Porque nunca um não me acode
Em tudo que ela diz sim?

Porque estremeço contente
Quando ela me estende a mão,
E se aos outros faz o mesmo
Porque é que não gosto e não?
Deveras que não me entendo,
Nem te entendo, coração.

Ou me enganas, ou te engano;
Se isto amor não pode ser,
Não atino, não conheço
Que outro nome possa ter;
Ai, coração, que vivemos
Sem tu nem eu o saber.

João de Lemos


João de Lemos de Seixas Castelo Branco, poeta ultrarromântico, nascido a 6 de maio de 1819, no Peso da Régua, e falecido a 16 de janeiro de 1890, em Maiorca, na Figueira da Foz, foi adepto da causa absolutista. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, desempenha várias missões diplomáticas ao serviço de D. Miguel e dirige desde 1848 o jornal A Nação, órgão dos miguelistas. Depois da vitória dos liberais, exila-se em Inglaterra, onde compõe o poema que o notabilizou, "A lua de Londres". Colaborou na revista coimbrã O Trovador, de que foi um dos fundadores, bem como em outros periódicos, tais como a Revista Universal Lisbonense (1841-1859), a Revista Académica de Coimbra (1845-1854), o Prisma (1842-1843), a Ilustração (1845-1846) e o Cristianismo (1843). O seu lirismo é imbuído de um sentimentalismo exagerado, com evocações nostálgicas da terra natal e da pátria, e marcado por um certo convencionalismo.

Fonte: http://www.infopedia.pt/

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Realidade.



REALIDADE

Olho para a realidade desprovida de silêncios.
As coisas são o que são. Porém, há que ter em conta
a gravidade que as prende à terra.

Os signos são os poucos recados que a vida pouca nos traz.
São o muito desta vida
onde árvores se perfilam nas avenidas, e nas avenidas

o frágil contraponto de domingo se passeia
atento à soalheira chegada de famílias-à-beira-Tejo
alheias à semana que aí vem, onde cada um por si,

e a desrazão por todos,
irá colher as incertezas do amanhã.
Dos sentidos todos o que resta são olhos fechados,

tacto de treva onde a realidade acaba
como um promontório sobre o Outono: onde começo
a contar as folhas, a memória da sua queda, a avisada música.

Luís Quintais



Luís Quintais nasceu em 1968 em Angola. É antropólogo social e lecciona presentemente no Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra. Nesta qualidade, tem vindo a desenvolver investigação de arquivo e de terreno sobre o exercício e as implicações públicas e forenses da psiquiatria. Publicou o seu primeiro livro de poesia em 1995, A Imprecisa Melancolia (Teorema e Lumen). Em 1999 regressa à poesia, publicando Umbria (Pedra Formosa) e Lamento (Livros Cotovia). Posteriormente publicou Verso Antigo (2000), Angst (2003), Duelo (2004), Canto Onde (2006) e Mais espesso que a água (2008), todos pelos Livros Cotovia. Com Duelo venceu da oitava edição do Prémio de Poesia Luís Miguel Nava referente a 2005. Luís Quintais tem um página pessoal na NET, participou no blog casmurro e no Webqualia. Actualmente, anima Os livros ardem mal.

Fonte: http://um-buraco-na-sombra.netsigma.pt/

terça-feira, 26 de abril de 2011

O cristal.


O CRISTAL

1500 a.C – O cristal é mencionado no Livro de Jó e nos provérbios de Salomão. Sabe-se que por volta desse ano (1500) florescia essa indústria no Egito. Algumas nações exigiam tributos de cristal em vez de ouro. O cristal é um importante fator da civilização. Desde o telescópio que se apodera do segredo dos mundos ao microscópio, que disputa à morte elementos de destruição; desde os Raios X, que esquadrinham para dar a vida, ao periscópio, que o faz para dar a morte; desde a bússola, que nos guia pelos mares, aos refletores e sinais luminosos que nos orientam por toda parte, vemos que é elemento indispensável e que graças a ele têm sido conseguidos determinados objetivos. A fabricação do cristal comum conseguia-se de maneira simples. Misturavam-se areias brancas com carbonato de sódio e carbonato de cálcio. O primeiro em maior proporção. Colocava-se a mistura dentro dum crisol de tijolo refratário, que era posto, por sua vez, dentro de um forno de 1260 graus centígrados, até que se fundisse numa liga resistente, cuja massa se tornava clara, dura e compacta.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto, e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume 1, página 15.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um milhão de bits.


UM MILHÃO DE BITS

Um milhão de bits
em um milionésimo
de segundo, amor

um súbito sussurrar
de sílabas suas
ecoa em mim mil

beats, batida comum
em corações binários
zero: um: zero: um

um breve bater de
pálpebras e sentidos
explodem modulados

por modems emol
durados, amor, em
fibras óticas, num

átimo e vibras, pênsil
por sobre o éter, num transe high definition

Joca Reiners Terron


Joca Reiners Terron (Cuiabá, 9 de fevereiro de 1968) é um poeta, prosador, artista gráfico e editor brasileiro.

Radicado em São Paulo desde 1995, Joca estudou Arquitetura na UFRJ e formou-se em Desenho Industrial na UNESP. Publicou os livros de poemas Eletroencefalodrama (1998) e Animal anônimo (2002) e os de prosa Não há nada lá (2001), Hotel Hell (2003), Curva de Rio Sujo (2004), e Sonho interrompido por guilhotina (2006). Foi editor da Ciência do Acidente.

Seus textos integram diversas antologias nacionais e estrangeiras, como Na virada do século - poesia de invenção do Brasil (2002), editada por Frederico Barbosa e Claudio Daniel, Rattapallax, editada nos EUA (2002), e Tsé=tsé, editada na Argentina (2000)

Fonte: www.antoniomiranda.com.br/

sábado, 23 de abril de 2011

Cristo.


CRISTO

Tendo por leito, a miseranda cruz,
Onde o pregaram os algozes seus.
De espinhos, preso a fronte, o vil capuz,
- Vilão - por ser rei dos judeus.

Por ser bom, por ser justo, por ser Deus,
Pelo bem, pelo amor e pela luz.
Que na terra espalhou vindo dos céus,
Crucificado morre o bom Jesus.

Ao exalar o seu suspiro extremo,
Perdoa os homens ímpios criaturas,
Com o olhar que lhes lança o ser supremo.

E, para iluminar sua agonia,
Como estrelas candentes vagam puras,
As lágrimas nas faces de Maria.

R.S. Furtado.

Feliz Páscoa para todos!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Boas Noites.


BOAS NOITES

Estava uma lavadeira
a lavar numa ribeira
Quando chega um caçador:
- Boas tardes, lavadeira!
- Boas tardes, caçador!
- Sumiu-se a perdigueira
Ali naquela ladeira;
Não me fazeis o favor
De me dizer se a brejeira
Passou aqui a ribeira?
- Olhai que, dessa maneira,
Até um dia, senhor,
Perdereis a caçadeira,
Que ainda é perda maior.
- Que importa, lavadeira!
Aqui na minha algibeira
Trago dobrado valor...
Assim eu fora senhor
De levar a vida inteira
Só a ver o meu amor
Lavar roupa na ribeira!
- Talvez que fosse melhor...
Ver coser a costureira!
Vir de ladeira em ladeira
Apanhar esta canseira,
E tudo só por amor
De ver uma lavadeira
Lavar roupa na ribeira...
É escusado, senhor!
- Boas noites... lavadeira!
- Boas noites... caçador!

João de Deus


A poesia lírica de João de Deus, com sua serenidade e seu estilo simples, é um dos últimos momentos significativos do romantismo em Portugal. João de Deus Nogueira Ramos nasceu em 8 de março de 1830 em São Bartolomeu de Messines, no Algarve. Estudou em Coimbra e, por algum tempo, entregou-se à vida boêmia. Formou-se em direito em 1859, quando já escrevia poemas com a intenção de recitá-los para os amigos, que passaram a copiá-los e a encaminhá-los para a publicação em revistas. A partir daí foi grande sua influência entre os poetas mais jovens, que começavam a reagir contra o que consideravam os excessos do romantismo. Seu primeiro livro de poemas, Flores do campo (1868), foi bem recebido pela crítica, mas não lhe amenizou a pobreza material. Interessado pelos problemas educacionais, João de Deus escreveu um guia de alfabetização, Cartilha maternal (1876), lançado no mesmo ano de suas Folhas soltas. Amplamente reconhecido, só em 1893 publicou Campo de flores, em que foram reunidos seus poemas líricos, epigramáticos e satíricos. João de Deus morreu em Lisboa, em 11 de janeiro de 1896.

Fonte: http://pt.shvoong.com/

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Germinal.


GERMINAL

Ó minha ilha queimada pelo sol
pelas lágrimas do vento que escorreram
das escarpas e das vidas de teus filhos

em ti repousam as cinzas das esperanças
que outrora viveram no leito de teus rios
Malanza, Manuel Jorge, Contador, Cauê...

Em ti germinam vidas repassadas
de lua e sol no cais do sofrimento
que as âncoras da vida vão soltando!

Ó minha ilha adocicada pela chuva
lacrimejante e pura batendo na sanzala
de todos os ilhéus sequiosos de amanhãs.

Olinda Beja


Olinda Beja nasceu na cidade de Guadalupe em S. Tomé e Príncipe em 1946, mas reside desde a idade dos 2 anos em Portugal, onde estudou e obteve o Diploma Superior dos Altos Estudos Franceses da Alliance Française e, mais tarde, a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, pela Universidade do Porto.

Dedicou-se à escrita desde muito jovem, publicando as seguintes obras:

Bô Tendê? (poemas); Leve, Leve (poemas); 15 Dias de Regresso (romance); No País do Tchilóli, 1996 (poemas); A Pedra de Vila Nova (romance); Pingos de Chuva (conto); Quebra-Mar (poemas); Pé-de-perfume, 2005 (contos).

Tem trabalhos publicados na Alemanha, sobre a língua materna de S. Tomé, bem como poemas dispersos em revistas nacionais e estrangeiras, em livros didácticos dos Ministérios Português e Francês da Educação, nas Antologias Matrilíngua, Poesia para Timor Loro Sae e no livro de fotografia Paga Dêvê.

Olinda Beja é professora do Ensino Básico e apresenta frequentemente a sua obra em estabelecimentos de ensino em Portugal e no estrangeiro, incentivando quem a escuta a descobrir a Literatura e a Cultura de S. Tomé e Príncipe. Ela diz que "tem uma paixão pela sua terra" e que é tanto mais intensa na medida em que a conheceu tarde. De facto, só aos 37 anos Olinda Beja voltou a STP para descobrir maravilhada uma cultura que lhe pertencia, que sempre esteve aí para ela descobrir.

Fonte: http://www.enciclopedia.com.pt/

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Fundação do Budismo.


FUNDAÇÃO DO BUDISMO
 550 a C. – É fundado o Budismo na Índia, por Kakia Muni ou Buda. (Sidarta é o seu primeiro nome). Sua doutrina se resume na chamada “quatro verdades sublimes”: 1.º) A dor é universal, tudo que existe é dor. 2.º) A origem da dor são as paixões, o desejo da existência. 3.º) O fim da dor é a supressão do desejo, o aniquilamento da existência, a nirvana, estado final da extinção completa do ser, uma felicidade a que deve aspirar o homem. 4.º) O meio de libertação da dor é a contemplação universal das coisas e a prática da mortificação dos apetites.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto, e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume 1, página 24. 

terça-feira, 19 de abril de 2011

Cubatão.


CUBATÃO

Minha terra não passa de uma estrada,
um bambual que rumoreja ao vento;
sol de fogo em areia prateada,
deslumbramento e mais deslumbramento.

O chafariz em forma de carranca,
confidente das moças do arrabalde,
despeja a sua gargalhada branca
no bojo de latão de um velho balde,

Nas portas, parasitas cor de sangue,
um mastro esguio em cada casinhola;
gente tostada que desfolha o mangue,
crianças pálidas que vêm da escola.

Ao fundo, a Serra. Pinceladas frouxas,
de ouro e tristeza, em fundo azul. Aquelas
manchas que são jacatirões — as roxas,
e aleluias — as manchas amarelas.

A minha terra, quando a vejo, escampa,
cheia de sol e de visões amigas,
lembra-me o cromo que enfeitava a tampa
de uma caixa de goma, das antigas...

Afonso Schmidt


Afonso Schmidt (Cubatão SP, 1890 - São Paulo SP, 1964) chegou a fazer exames para a Faculdade de Direito de São Paulo, em 1905, mas não a cursou. Na época, trabalhou como puxador de trena na construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Em 1907 viajou para a Europa, sem dinheiro e sem passaporte. De volta ao Brasil, publicou, em 1911, seu primeiro livro de poesia, Janelas Abertas (1911). Entre 1918 e 1924 foi diretor do jornal Voz do Povo, da Federação Operária, no Rio de Janeiro. Nas décadas seguintes, publicou mais de 40 livros, destacando-se O Menino Filipe (romance), A Primeira Viagem (autobiográfico), O Tesouro de Cananéia, (contos), A Vida de Paulo Eiró e São Paulo de meus Amores (crônicas). Em 1963 recebeu o prêmio O Intelectual do Ano, troféu Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores. Sua obra poética inclui Mocidade (1921), Garoa (1932), Poesias (1934), Poesia (1945). De origem humilde, Afonso Schmidt manifestou em seu trabalho como jornalista, contista e romancista a preocupação com os pobres, os excluídos da sociedade. Poeta parnasiano, apontou também em seus versos desigualdades e injustiças sociais, que o inquietaram ao longo de toda a vida.

Fonte: http://www.astormentas.com/PT/

domingo, 17 de abril de 2011

"Ajuda"


"AJUDA"

“Melhor do que sentirdes pena do vosso semelhante, é tentardes ajudá-lo na solução dos problemas que tanto o atormentam.”

R.S. Furtado.

sábado, 16 de abril de 2011

Soneto.



SONETO

Ó virgens que passai, ao Sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido Lar.

Cantai-me, nessa voz onipotente,
O Sol que tomba, aureolando o Mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a Graça, a formosura, o luar!

Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruína do meu LAr desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas

Que eu vi morrer num sonho, como um ai...
Ó suaves e frescas raparigas,
Adormecei-me nessa voz... Cantai!

António Nobre

António Nobre nasceu na cidade do Porto no dia 16 de agosto de 1867. Em 1888 matriculou-se no curso de Direito na Universidade de Coimbra. Como os estudos lhe correm mal, parte para Paris onde frequentou a Escola Livre de Ciências Políticas, licenciando-se em Ciências Jurídicas. Em 1892, ainda em França, lançou o seu livro de poesias "Só". Ao regressar a Portugal, tentou seguir na carreira diplomática, mas a tuberculose impediu-o. Faleceu em 1900 após uma intensa luta contra a tuberculose. Sua principal contribuição para o Simbolismo português foi a alternância do vocabulário refinado dos Simbolistas com outro mais coloquial. A princípio, a sua poesia mostra uma certa influência de Almeida Garret e de Júlio Dinis, porém, numa segunda fase, fica clara a influência do Simbolismo Francês.

Fonte: http://www.mundocultural.com.br/

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Chovia simplesmente.


CHOVIA SIMPLESMENTE

Saí...
E meu corpo sacudiu estonteante
Ao embate do vento
E da chuva na pele
Sangrava violentamente o espírito desesperado
Que lutava pelo escasso espaço a circular pelas artérias,
Lutava para me manter à tona.
Os pulmões vomitavam os sons lindos da morte.

Estava a morrer
Enquanto o mundo fugia devagar
Por toda aquela maré.
Já todos tinham ido embora,
Tinham todos fugido da chuva
E do vento
Gritando os nomes sonantes dos parentes
Já falecidos lá longe pelas velhas matas do Maiombe.

Estava a morrer,
Mas ecoei os ecos dos mortos
Enquanto lutava para chegar ao único sítio
Onde seria feliz
à sombra da minha árvore.

Despertei,
Não choveu
Eram as lágrimas de uma criança que me molhavam.

Ana Dias Branco


Ana Maria José Dias Branco, nasceu a 24 de Maio de 1967, no município de Lucapa, província da Luanda Norte.

Fez os estudos primários no colégio de Madres, Sagrado Coração de Maria, em Anadia – Coimbra, Portugal e os estudos Secundários na Escola Secundaria de Albergaria- a- Velha, Aveiro, Portugal e ainda o Curso de Química, feito no então Instituto Karl Marx, hoje IMIL (Instituto Médio Industrial de Luanda) e o Curso de Ciências Sociais no PUNIV - Luanda.

Vencedora do Prémio Literário António Jacinto, em 1997 com a obra "Meu Rosto Minhas Mágoas" e nomeada ao Prémio Galax 97, na categoria de escritor do ano. Ana Maria Branco, representa a poesia feminina Angolana na Antologia da Poesia Feminina dos PALOP. Tem para edição as obras: "Maria a Louca da Janela" (conto), "A princesa Cioca" (conto infanto juvenil). "O Livro" (poesia), "As Mãos de Deus e do Diabo" (prosa), "O bico da Cegonha" (poesia) "A Despedida de Mi" (poesia por acabar).

É membro da União dos Escritores Angolanos desde 1997, onde já fez parte da sua direcção.

Fonte: http://blogdealbergaria2.blogspot.com/

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A primeira Ablação dum rim humano.


A PRIMEIRA ABLAÇÃO DUM RIM HUMANO

1869 – A 2 de agosto Gustavo Simon, professor de cirurgia em Heidelberg, pratica, pela primeira vez, com exito, a ablação dum rim humano e restitui à vida sua paciente, Margaretha Kleb. Mulher de operário, humilde, rude, tivera um volumoso tumor no ovário. Recorreu a um cirurgião de Ofeenbach, chamado Walther. Destituido totalmente de prática, no setor de ovariotomia, abalançara-se a extrair o tumor. Abrindo o abdome da enferma, encontrara o tumor tão ligado ao útero, que também extirpara esse órgão. As aderências estendiam-se, porém, ao ureter esquerdo. Walther não lhes deu atenção. Já dilacerara, aliás, grande parte desse ureter, ao fazer a ablação do tumor. O canal de escoamento entre o rim esquerdo e a bexiga, isto é, o caminho natural da urina, estava destruído. Tomado de pânico, o cirurgião Walther fechou a incisão externa e entregou a paciente ao seu destino. O rim esquerdo esvaziara-se diretamente no baixo-ventre. Apesar do seu estado, lívida, quase morta, ainda cuidava dos afazeres domésticos. Ganhava como lavadeira o sustento dos filhos. Durante ano e meio enfrentou a miséria e a morte. Foi nestas circunstâncias, vendo-a apoiada numa bengala, com um cheiro de decomposição, enojada de si mesma, esquelética e sem cor, que Gustavo Simon se propôs salvá-la. Fez várias tentativas para cicatrizar a fístula da parede abdominal, até então considerada de tal forma perigosa, que, no caso dum erro fatal, o cirurgião responderia por seu crime.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto, e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume 3, página 481.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pancada Grande.


PANCADA GRANDE

Refúgio de andorinhas,
a cachoeira da Pancada Grande,
como um véu sagrado,
protegeu o casal enamorado,
selando um compromisso
mágico, colorido e acalorado.

Sob a força da água corrente
ouvi as três pancadas
da cachoeira, marcando o compasso
das batidas dos corações.

Batidas aceleradas,
cheias de vida e ação,
buscando preencher os espaços,
físico e espiritual,
num verdadeiro ritual,
criando elos de aço
que não podem ser rompidos
nem corrompidos.

— O elo une amizade, sentimentos,
alegrias, sofrimentos
e experiências de vidas passadas.

Sérgio Mattos


Sérgio Augusto Soares Mattos (Fortaleza, 1 de julho de 1948) é um poeta, jornalista, compositor e professor universitário brasileiro.

O jornalista, nascido em Fortaleza, se mudou para a Bahia em 1958, onde começou a se interessar pelos estudos ligados a área televisiva. Ele conta que acompanhou a história da televisão baiana desde o princípio e daí despertou uma grande vontade em analisar o que chama de ‘caixa mágica’. “Comecei como jurado em uma televisão da Bahia e foi daí que se iniciou o meu envolvimento com a televisão”, contou ele durante a palestra.

A partir de suas afinidades, o autor direcionou seus estudos para a área televisiva, se aprofundando durante seu mestrado e doutorado no estado do Texas, nos Estados Unidos. Durante sua estadia na América do Norte, ele conta que teve acesso a diversas informações que não podiam circular no Brasil devido à ditadura militar, o que contribuiu e fortaleceu sua formação acadêmica. A partir de então se tornou uma referência e um dos maiores escritores voltados para o tema televisão. Ao todo já publicou mais de 43 livros, em que 14 tratam sobre televisão.

Obras:

Nas Teias do Mundo (1973);
O Vigia do Tempo (1977);
Time's Sentinel (1979);
Já Não Canto, Choro (I No Longer Sing, I Cry) (1980);
Lançados ao Mar(1985);
Asas Para Amar (1995);
Estandarte (1995);
Trilha Poética (1998);
Étendard (1998);
Fio Condutor (2005)

Fontes: http://observatoriodaculturaufsj.blogspot.com/
              Wikipédia.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Conclusão.


CONCLUSÃO

Hoje cheguei à mais pura e simples conclusão,
Que já não mais devo insistir, em esperar por ti.
Por que viver enganado, na mais pura ilusão,
Se, com certeza sei, que já há muito te perdi?

As saudades de ti, são o que mais me atormentam,
Nas minhas tristes noites de insônia e de solidão.
Lembranças ou quimeras, são o que alimentam,
A esperança existente no meu pobre coração.

Seguirei minha estrada, viverei minha vida,
Em busca de alguém, que me estenda à mão.
Dê-me um pouco de amor, um pouco de guarida,
E motivos para viver mais uma nova paixão.

Quem sabe um dia, estarei livre, estarei curado,
Desse mal que me aflige, sem dó, sem compaixão.
Foi pensando nisso, que resolvi livrar-me do passado,
E daí, cheguei à essa pura e simples conclusão.

R.S. Furtado.

domingo, 10 de abril de 2011

Ilusão perdida.


ILUSÃO PERDIDA

Doce ilusão que foges perseguida
Como gazela tímida e medrosa
Ou como nuvem pelo céu batida
Ao sopro de uma aragem silenciosa:
Levas contigo, ó pomba gloriosa!
A esvoaçar em busca de guarida,
O meu amor, a desmaiada rosa!
Levas contigo o coração e a vida.
E nunca mais, no exílio onde agonizo,
A melindrosa flor do teu sorriso
Há-de ostentar as pétalas vermelhas…
Mas na estância feliz que eu não devasso,
Encontrarás meus beijos, pelo espaço,
Em busca de teus lábios, como abelhas.

António Feijó



Poeta e diplomata português, António Joaquim de Castro Feijó nasceu 1 de Juhno de 1859, em Ponte de Lima, e morreu a 21 de junho de 1917, em Estocolmo. Deixou uma obra reveladora de tendências diversas, entre o Parnasianismo, o Romantismo, o Decadentismo e o Simbolismo, e influências ecléticas, que vão de Leconte de Lisle, Théodore de Banville e Gautier a Vítor Hugo, de Leopardi a Baudelaire, de Guerra Junqueiro a João Penha. Em 1883, forma-se em Direito na Universidade de Coimbra, onde tem por companheiros Luís de Magalhães, Manuel da Silva Gaio e Luís de Castro Osório, com quem viria a fundar, em 1880, a Revista Científica e Literária de Coimbra. De finais dos anos 70 até início da década de 90, colaborará em vários periódicos, como a Revista Literária do Porto, Novidades, Revista de Coimbra, Museu Ilustrado, O Instituto, Arte. Em 1882, publica o seu primeiro volume de poesias, Transfigurações, marcadas pela temática filosófica e pelo tom épico, que revelam um pessimismo e uma acusação nítida das imperfeições morais e sociais que o rodeiam. Seguem-se Líricas e Bucólicas (1884) e À Janela do Ocidente (1885), reveladoras de um lirismo mais depurado. Em 1886, ingressa na carreira diplomática, sendo primeiro cônsul no Brasil e depois ministro de Portugal em Estocolmo. Aí viria a desposar uma jovem sueca, Mercedes Lewin, cuja morte prematura influenciaria uma certa temática fúnebre patente na sua obra. No Cancioneiro Chinês (1890), coleção de poesias adaptadas a partir de uma versão francesa, revela o gosto pelo exotismo orientalista. Em Bailatas, obra publicada em 1907 sob o pseudónimo de Inácio de Abreu e Lima, parece ter a intenção de parodiar o Decadentismo, mas a verdade é que muitas dessas poesias atingem consonância com a própria sensibilidade simbolista. As suas últimas obras, particularmente a coletânea póstuma Sol de inverno, editada em 1922, espelham o lirismo sóbrio, o simbolismo depurado, os motivos melancólicos, outonais, e os temas da saudade e da morte, que são algumas das características da obra de António Feijó.

Fonte: http://www.infopedia.pt/$antonio-feijo

sábado, 9 de abril de 2011

Soneto à liberdade.


SONETO À LIBERDADE

Primeiro tu virás, depois a tarde
com terras, mares, algas, vento, peixes.
trarás, no ventre, a marca das idades
e a inquietude dos pássaros libertos.

virás para o enorme do silêncio
— flor boiando na órbita das águas —
tu não verás o fúnebre das horas
nem o canto final do sol poente.

primeiro tu virás, depois a tarde
sem desejos e amor. virás sozinha
como o nome saudade. virás única.

eu não terei a posse do teu corpo
nem me batizarei na tua essência,
mas tu virás primeiro e eu morro livre.

Manuel Lopes


Manuel António dos Santos Lopes nasceu a 23 de Dezembro de 1907 na ilha de S. Vicente. Estudou no Colégio de S. Pedro e na Escola Comercial em Coimbra. Regressou a Cabo Verde e empregou-se como telegrafista, primeiro na Italcable e, com o fecho desta companhia devido à II Guerra Mundial, passou a tesoureiro da Câmara Municipal de S. Vicente, depois empregou-se de novo como telegrafista na Western Telegraph, primeiro na ilha de S. Vicente, depois (1944) na cidade da Horta, ilha do Faial nos Açores, e por último em 1956, foi transferido para os escritórios de Carcavelos, Cascais, Portugal, onde se reformou e passou a viver. Possuí condecorações portuguesas e cabo-verdianas.

Fonte: http://manuel-lopes.blogs.sapo.cv/290.html

sexta-feira, 8 de abril de 2011

"Antropologia Criminal".

(César Lombroso)

“ANTROPOLOGIA CRIMINAL”

1875César Lombroso, célebre médico legista, psiquiatra e criminalista italiano, nasceu em Veneza em 1836. Faleceu em 1909. Publica sua obra: “Uomo Delinquente”, fundando assim a Antropologia Criminal. Lombroso, admitia, além de outros grupos delinquentes, como os alienados, os de ocasião e os pseudo-criminosos, criminaloides ou criminosos acidentais, um tipo antropológico criminal; o “criminoso nato”, ser anômalo e incorrigível, em que as tendências para o crime seriam correspondentes a certos sinais exteriores e inteiramente institivas, atávicas, podendo reconhecer-se como normais nas crianças, nos selvagens e nos animais. Para os criminosos natos mais perigosos Lombroso propunha mesmo a pena de morte, em nome dos interesses coletivos, de tal modo entendia evidente a sua incorrigibilidade.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto, e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume 3, página 488.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Banhista.

 
BANHISTA
              Apenas
                em frente
               ao mar

                 um dia de verão -

                quando tua voz

                 acesa percorresse,

                  consumindo-o,

                 o pavio de um verso

                  até sua última
                 sílaba inflamável -

                 quando o súbito

                 atrito de um nome

                 em tua memória te

              incendiasse os cabelos -

               (e sobre tua pele

               de fogo a

               brisa fizesse

                 rasgaduras de água)
Carlito Azevedo



Carlito Azevedo (nascido Carlos Eduardo Barbosa de Azevedo; Rio de Janeiro, 1961) é um editor, crítico e poeta brasileiro.

Carioca da Ilha do Governador, Azevedo cursou a Faculdade de Letras na UFRJ, voltando sua atenção para a poesia francesa, a qual vem traduzindo regularmente. Conhece José Lino Grünwald que o apoia em sua estréia com o livro Collapsus Linguae (1991), com o qual ganhou o prêmio Jabuti. Em 1992 Antonio Carlos Secchin já destacava o fato de a estreia de Azevedo fornecer “elementos interessantes para uma reflexão acerca da formação cultural de nossos poetas”, em especial pelo fato de o poeta ter consciência de não se confundir com suas fontes próximas, a Poesia Marginal, a Poesia Concreta e a de João Cabral de Melo Neto, ainda essas fontes sejam facilmente identificáveis.

Em seguida publicou As Banhistas (1993), que tem como centro uma série de poemas com o mesmo título, que pode ser vista como o modelo de sua poética; Sob a Noite Física (1996); e Versos de Circunstância (2001). Em 2001, reuniu seus poemas na antologia Sublunar (1991-2001). Monodrama (2009) é seu mais recente livro de poesia.

É editor desde 1997 da revista de poesia Inimigo Rumor (mesmo título do livro Enemigo Rumor, de Lezama Lima), primeiro em parceria com o poeta Júlio Castañon Guimarães e posteriormente ao oitavo número com o poeta Augusto Massi. É coordenador da coleção de poesia Ás de colete.

Foi contemplado com a Bolsa Vitae de Literatura (1994/1995).

Fonte: Wikipédia.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sofrimento.


SOFRIMENTO

“Somente desconhece o que é sofrimento, aquele que nunca sentiu a dor de uma grande perda.”

R.S.Furtado.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Súplica.


SÚPLICA

Jesus! Se o mundo se agita,
Dai-me descanso, Jesus!
Faz-me grama parasita
Encostada ao pé da cruz.

Faz-me insecto da ramada
Que ninguém vê na amplidão:
Quero, à sombra do meu nada,
Perder-me na solidão.

Faz-me fonte na serra
Que ninguém bebe nem vê:
Tira-me os mimos da terra,
Mas dá-me as crenças e a fé!

Que eu sinta sempre o teu nome
Misturar-se aos prantos meus;
E morra embora de fome,
Mas bendizendo-te, oh Deus!

Tomás Ribeiro


Tomás António Ribeiro Ferreira (Parada de Gonta, Tondela, 1 de julho de 1831 — Lisboa, 6 de Fevereiro de 1901), mais conhecido por Tomás Ribeiro, foi um político, publicista, poeta e escritor ultra-romântico português. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu advocacia durante pouco tempo, pois cedo enveredando pela carreira política. Membro destacado do partido regenerador, foi Presidente da Câmara Municipal de Tondela, Deputado, Par do Reino, Ministro da Marinha, Ministro das Obras Públicas e Governador Civil dos distritos de Braga e do Porto. Foi ainda secretário-geral do governo da Índia Portuguesa e embaixador de Portugal no Brasil. Eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa foi presidente da sua Classe de Letras. Escritor e jornalista multifacetado, Tomás Ribeiro deixou uma obra vastíssima. Foi pai da poetisa Branca de Gonta Colaço e avô do escritor Tomás Ribeiro Colaço.

Publicou, entre muitas outras, as seguintes obras:

D. Jaime ou a dominação de Castela 1862
A Delfina do Mal (poesia) 1868
Sons que Passam (poesia) 1868
A Indiana (entreacto em verso) 1873
Vésperas 1880
Jornadas (dois volumes de narrativas de viagens pelo Oriente: 1.ª parte - Do Tejo ao Mandovi; 2.ª parte - Entre Palmeiras; 3.ª parte - Entre Primores) 1873
Dissonâncias 1890
História da Legislação Liberal Portuguesa (ensaio) 1891-1892
Empréstimo de D. Miguel (ensaio histórico) 1880
Carta de Alforria (poema em homenagem à Dom Pedro II, Imperador do Brasil)
O Mensageiro de Fez (poema de glorificação a Nossa Senhora de Carnaxide) 1900.

Fonte: Wikipédia.

domingo, 3 de abril de 2011

Como um cão.


COMO UM CÃO

Como um cão curvo-me
e procuro ler nas marcas
que a noite não pôde
recolher o tempo.

Anima-me a superfície fabulária
onde o olhar do dia revolve
o que foi alvoroço vida
ou sinal tênue.

Detenho-me na pegada junto à cama
e a mão precavida incha a memoria
nenhuma sensação acende
o que já está perdido.

(Perdidos os meus passos? A minha voz?
é assim tão terrível o amor ao homem?
a justiça foi calcinada em que ritual?)

Pouso então devagarinho
o ouvido na parede úmida
e eis que uma sombra volta-se
num largo aceno de simpatia.

Na paz indizível sopra
a fina aragem desanoitecida
a leve impressão
de um cochichar
uma porta entreaberta
onde pulsa uma esperança

Heliodoro Baptista


Heliodoro Baptista nasceu em Gonhame, cidade de Quelimane, capital da província da Zambézia, a 19 de Maio de 1944. Jornalista, escritor e poeta, era casado com a jornalista Celeste Mac-Artur, editora fotográfica do Diário de Moçambique, diário que se publica na Beira. Deixa viúva e quatro filhos.

Deixou escritas várias obras não publicadas e publicou «Por cima de toda a folha», «Nos joelhos do silêncio», «A filha de Tandy», entre outras peças dispersas.

Foi jornalista do «Notícias da Beira» onde chegou a ser chefe da redacção. Deixou de exercer a profissão de jornalista quando se incompatibilizou com a direcção do "Notícias” que se publica em Maputo, jornal de que na altura era o delegado na Beira. Trabalhou ainda no «Diário de Moçambique». Tinha uma relação de total incompatibilidade com o regime que vigorava em Moçambique e era um fervoroso apoiante do MDM e de Daviz Simango.

Heliodoro Baptista morreu, dia 1 de Maio de 2009, na sua residência na Beira.

Fonte: (Fernando Veloso) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 04.05.2009

sábado, 2 de abril de 2011

A Invenção da margarina.

(Hipollyte Mége Mauriés)

A INVENÇÃO DA MARGARINA

1868Mége Mauriés, cientista francês, faz a descoberta do óleo margarina, porém, somente em 1869, é produzida a margarina. Sua história é muito curiosa. Ignora-se, geralmente, que esse produto tenha nascido duma iniciativa oficial. O governo francês ordenou que fosse estudada a possibilidade de produzir uma matéria gordurosa, que substituísse a manteiga na economia doméstica e apresentasse a vantagem de ser menos cara e de se conservar por mais tempo, sem se estragar. Uma série de experiências foi empreendida na fazenda Vincene, pertencente ao Estado. Certo número de vacas foi submetida a uma completa dieta. Emagreceram, naturalmente. Forneceram menor quantidade de leite. Nele, continha, sempre, manteiga. Ficou provado, portanto, que a manteiga provinha da matéria gordurosa do animal. Imaginaram um processo reproduzindo artificialmente esse fenômeno fisiológico de transformação; conseguiram extrair das gorduras o óleo margarina. Fabricaram com ele uma manteiga artificial na qual, em princípio, a margarina e o leite deveriam entrar em proporções mais ou menos equivalentes. A Academia de Medicina não se mostrou favorável ao novo produto, cujo uso se espalhou rapidamente. Em 1880 emitiu um aviso de que seu emprego devia ser limitado à preparação de certos alimentos apenas: os legumes, com exceção das batatas.

Nota: Este trabalho é o resultado de pesquisas realizadas pelo ilustre professor Elias Barreto, e publicado pela Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, edição de 1967, volume 3, páginas 476/477.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Coração de pedra.


CORAÇÃO DE PEDRA 

Não tem olhos de ver para a eterna beleza,
o sorriso de Deus que ilumina a existência;
não lhe fala à alma rude a suave pureza
que reponta e sorri nos lábios da inocência;

a flor não o interessa, ou surja na devesa,
onde acaso a plantou a mão da Providência,
ou soberba pompeie, onde o Belo se preza,
requinte de arte pura ou prodígio da ciência.

É que o vêzo do lucro, o seu deus verdadeiro,
lhe deu ao coração consistência de pedra
e aos olhos lhe roubou o poder da visão.

Só lhe sobe à alma torpe o ouro, a moeda, o dinheiro...
Templo erguido a Mamona, a piedade não medra
na profunda aridez do seu vil coração.

Bento Prado Júnior


Integrante de uma família de dez irmãos, o professor Bento Prado de Almeida Ferraz Jr. nasceu no dia 21 de agosto de 1937 em Jaú, cidade vizinha de Bauru. Em sua vasta trajetória, brilhos na carreira acadêmica.

Ele formou-se em filosofia na USP (Universidade de São Paulo) entre os anos de 1956 e 1959. Esteve no exterior e, em 1969, a cassação pelo AI-5 levou o já intelectual ao exílio na França. Lá, publicou o livro “A retórica de Rousseau e outros ensaios”.

Só em 1974 retornou ao Brasil para desenvolver o programa de pós-graduação em filosofia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) na Capital.

Também coordenou a edição da revista Almanaque com apoio do companheiro acadêmico Walnice Nogueira Galvão.

Em 1978, Bento Prado Jr. passou a dar aulas na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), onde destacou-se em aulas e concorridos seminários de filosofia. Finalmente em 1998, a USP conferiu a seu histórico mestre o título de Professor Emérito.

Tornou-se reconhecido como autor de obras ecléticas nas áreas da história da filosofia, filosofia da psicanálise, filosofia da linguagem, crítica literária e poesia. É tido por muitos estudiosos um dos maiores ensaístas da filosofia brasileira. Morreu em 12 janeiro de 2007.

Fonte: http://www.redebomdia.com.br