sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pensando em ti.



PENSANDO EM TI

Hoje eu acordei sorrindo, pensando em ti,
E lembrei dos saudosos momentos que contigo vivi,
Naquelas noites de loucura e de intensa paixão.
Aí então foi quando logo percebi,
Que os doces prazeres, que contigo senti,
Ainda em mim persiste... Grata recordação.

Singelos detalhes... Eternas lembranças,
Sobre os teus ombros, duas lindas tranças,
Ornando teu rosto, que belo exemplar.
Com teus olhos verdes, cor da esperança,
E essa boca de mel, que dois lábios, lança,
Às delícias do amor, ao prazer do beijar.

O teu corpo no meu, com fervor, sem piedade,
O meu corpo no teu, sem temor, com maldade,
Em busca do êxtase, a caminho da explosão.
Tal qual animais famintos, sedentos, no cio,
Sem decência ou pudor, desprovidos de brio,
Atendendo ao instinto, saciando o tesão.

Só agora percebo o canalha que fui,
E que a maldade que fiz, somente contribui,
Para o desprezo que sentes, desde quando parti.
Confesso que hoje eu queria com certeza,
Deitar, e de ti lembrar, com bastante clareza,
E adormecer sorrindo, pensando em ti.

R.S. Furtado 

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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O violino do artista.




O VIOLINO DO ARTISTA

Só lhe restava o mágico violino
nessa vida de eterno sofrimento;
único amigo, um outro peregrino
na rota desgraçada do talento.

Como sentia o mísero instrumento,
nessa alma rude, um lenho pequenino,
que tinha em mãos do dono um sentimento
que era “mais do que humano, era divino!”

E juntos iam ao fulgor das cenas
confundir num adágio as suas penas,
irmãos na glória, gêmeos no tormento!...

Mas morto um dia o artista, gente absurda
quis tocá-lo... mas ah! tinha a alma surda...
já não sentia o mísero instrumento!...

Dunshee de Abranches


João Dunshee de Abranches Moura (pseudônimo: Rabagas), romancista, poeta, jornalista, orador.

Nasceu em 2/9/1867 em São Luís do Maranhão e faleceu em Petrópolis, em 1941. 

Abolicionista e republicano. 

Foi promotor de justiça em Barra do Corda e Grajaú.

Publicou mais de 120 trabalhos, de diversos gêneros.

Obras poéticas: Cartas de Um Sebastianista (1895), Minha Santa Teresinha (1932), Pela Itália (1906), Pela Paz (1895), Selva (1923), Versos de Ontem e de Hoje (1916).


João Dunshee de Abranches Moura foi empossado na presidência da ABI em 13 de maio de 1910, com o apoio integral do grupo que controlava a Associação e prometendo defender a liberdade de pensamento a qualquer custo. Em 1911, foi reeleito para mais dois anos de mandato.

Durante sua administração, várias providências foram tomadas, como a reforma estatutária, aprovada pela Assembléia-Geral de 23 de janeiro de 1911, e a mudança para Associação de Imprensa dos Estados Unidos do Brasil. Constava do novo estatuto a criação da biblioteca e do cargo de bibliotecário... Leia mais aqui: 

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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Testamento do homem sensato.


TESTAMENTO DO HOMEM SENSATO

Quando eu morrer, não faças disparates
nem fiques a pensar: Ele era assim...

Mas senta-te num banco de jardim,
calmamente comendo chocolates.

Aceita o que te deixo, o quase nada

destas palavras que te digo aqui:
Foi mais que longa a vida que eu vivi,
para ser em lembranças prolongada.

Porém, se um dia, só, na tarde em queda,

surgir uma le mbrança desgarrada,
ave que nasce e em vôo se arremeda,

deixa-a pousar em teu silêncio, leve

como se apenas fosse imaginada,
como uma luz, mais que distante, breve.

Carlos Pena Filho




Carlos Souto Pena Filho, poeta pernambucano, nasceu no Recife no dia 17 de maio de 1928. Seu pai era o comerciante português Carlos Souto Pena e sua mãe D. Laurinda Souto Pena. Cursou o primário e o ginásio (hoje ensino fundamental) em Portugal. Quando voltou ao Recife, estudou no Colégio Nóbrega e no Joaquim Nabuco.


Muito cedo começou a escrever e manifestar sua vocação poética. Em 1947, publicou no Diário de Pernambuco o soneto Marinha. Daí em diante continuou publicando seus poemas nos suplementos nordestinos e também em publicações do Sul do País. Suas composições passaram a ser lidas e requisitadas. Era saudado como promessa de um grande poeta da novíssima geração pernambucana. Leia mais aqui: 

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sábado, 23 de novembro de 2013

Invariável.




INVARIÁVEL

Não digas que uma estranha e imprevista mudança,
Notas em meu olhar; que, manso e amigo outrora,
Hoje lampejos de ira e de revolta lança,
E em chamas de rancor infernal te devora.



Não; ele é sempre igual - terno e devoto - embora
Não tenha a luz da fé, nem o ardor da esperança;
Sem crer no teu amor, o teu amor implora,
E de acariciar-te as formas não se cansa...



Quando de ti me vier a morte, quando um dia
Com tuas próprias mãos me abafares na boca
O suspiro final desta lenta agonia,



Inda no mesmo olhar de submisso respeito
Verás - rindo talvez! - alma leviana e louca,
O supremo perdão do mal que me tens feito...



Carlos Magalhães de Azeredo



Leia mais um belo soneto e a biografia do autor aqui:

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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Ofertório.





OFERTÓRIO

Foi por vós catecúmenos sombrios
Da excelsa religião do sentimento, 
Que de tudo um vago esquecimento
Vaguei da morte pelos reinos frios; 
 
Buscando a essência em flor do sentimento
Oculta nesses báratros sombrios, 
Onde a voz tumular de ventos frios
Geme o salmo do eterno esquecimento. 

Foi por vós que eu vivi nas outras vidas
As sensações secretas, doloridas, 
Que sufocam os gritos na garganta. 

E é por vós que a minh'alma aniquilada, 
Nos sudários do Sonho amortalhada,
Das próprias ruínas ressurgindo, canta.

Dias Fernandes 
 
CARLOS Augusto Furtado de Mendonça DIAS FERNANDES: Nasceu em 20 de setembro de 1874, na cidade de Mamanguape, Estado da Paraíba e faleceu em 09 de dezembro de 1942, no Hospital da Cruz Vermelha, no Rio de Janeiro. Era filho do Dr. Nepomuceno Dias Fernandes e de D. Maria Augusta Saboia Dias Fernandes. Aprendeu as primeiras letras com a sua mãe, continuando com os professores Luiz Aprígio e Isaac Ribeiro que lhe ministraram aulas de Português e Latim. Aos dezesseis anos já tinha lido Os lusíadas bem como Virgílio e Horácio na língua original. Apesar de Mamanguape se, a esse tempo, um importante centro de exportação de algodão e da cana-de-açúcar, através do porto de Salema, Carlos Fernandes não sentia atração pela cidade que, pela falta de... Leia mais aqui:

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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Recusa.



RECUSA

Do silêncio ou do cárcere cativo,
Contando um dissabor a cada instante.
Não tem meu coração bater vibrante,
Não sei se morto estou ou se estou vivo.

Para este meu viver tão purgativo.
A tepidez deste teu ronco arfante,
Teu carinho e teu beijo provocante,
Não trarão alegrias e lenitivo.

Sem tua voz eu ouvir, ou se eu ouvisse,
Tuas palavras doces, sonorosas,
Cheias de encanto e cheias de meiguice.

Surgiram-me raios de esperança.
Prazer, claras manhãs, tardes de rosas,
Porque de amar meu coração não cansa. 

R. S. Furtado

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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Símbolo do fim.

 

SÍMBOLO DO FIM

Hão de viver-me sempre, na memória,
este crepúsculo e esta despedida.
A beleza da tarde é merencória...
A luz do teu olhar é dolorida...

O sol, num instante último de glória,
beija as rosas vermelhas da avenida.
E morre, entre suspiros, esta história,
que era todo o esplendor da nossa vida!

Tua trêmula voz, dói-me escutá-la.
Na tarde passa uma andorinha leve,
sozinha e triste, pelo céu de opala.

Adeus, adeus! respondes-me chorando.
Vai-se a felicidade, que foi breve,
como a andorinha que fugiu do bando...

Filgueiras Lima
Nasceu a 21 de maio de 1909, em Lavras de Mangabeira, filho de Silvino Filgueiras e Cecília Tavares.

Em 29 de julho de 1927, aos 18 anos de idade, ocupou as funções de Inspetor Regional do Ensino, cargo em que se efetivou, por concurso, em 1931. E em 1932 fundou, com outros a revista pedagógica "Educação Nova" de que foi redator - chefe, depois transformada em órgão da Antiga Diretoria Geral da Instrução Pública do Ensino no Ceará. Foi em fevereiro deste mesmo ano, nomeado chefe do Serviço de Estatística Educacional daquela Diretoria.

Nos anos 1931 e 1932 ocupou, interinamente, o cargo de Diretor Geral da Instrução. Em dezembro de 1933, conquistou em concurso, classificado em 1º lugar, a cadeira de Didática da Escola Normal Pedro II, hoje Instituto de Educação. Leia mais aqui:

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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A Sintaxe do Adeus.



A SINTAXE DO ADEUS

O frio que a morte traz
quem o sente não é o morto.
O morto apenas esfria.
É o frio do calafrio...

E são os vivos que sentem.
Também os vivos têm medo
de olhar nos olhos do morto.
Ah, o terrível segredo.

E alguém, com dedos de rosa
vem e automaticamente
pra que o morto não nos veja,

lhe fecha as pálpebras como
a duas pétalas e adeus.
A-deus quer dizer sem Deus.

Cassiano Ricardo



Quarto ocupante da Cadeira 31, eleito em 9 de setembro de 1937, na sucessão de Paulo Setúbal e recebido pelo Acadêmico Guilherme de Almeida em 28 de dezembro de 1937. Recebeu os Acadêmicos Fernando de Azevedo e Menotti del Picchia.

Cassiano Ricardo (C. R. Leite), jornalista, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 26 de julho de 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 14 de janeiro de 1974. Eleito em 9 de setembro de 1937 para a Cadeira n. 31, na sucessão de Paulo Setúbal, foi recebido em 28 de dezembro de 1937 pelo acadêmico Guilherme de Almeida.

Era filho de Francisco Leite Machado e Minervina Ricardo Leite. Fez os primeiros estudos na cidade natal. Aos 16 anos publicava o primeiro livro de poesias, Dentro da noite. Leia mais aqui: 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Na noite da minha morte.

 
NA NOITE DA MINHA MORTE

Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo...
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer..

Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume...
Há-de haver velas pela casa
E xales negros e um silêncio que eu
Poderia entender.

Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente...
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.

Cristovam Pavia


Poeta português, nascido em 7 de outubro de 1933, em Lisboa, e falecido a 13 de outubro de 1968, na mesma cidade, filho do poeta presencista Francisco Bugalho, oriundo de Castelo de Vide. A partir de 1940 reside em Lisboa, onde terminou os estudos liceais. Frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, que abandonará para ingressar na Faculdade de Letras. Entre 1960 e a sua morte, trabalhando na construção civil, viveu entre Lisboa, Castelo de Vide, Paris e Heidelberg, onde recebeu acompanhamento psicoterapêutico. Leia mais aqui: 

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sábado, 9 de novembro de 2013

Conclusão para consolo.


CONCLUSÃO PARA CONSOLO

Bicho da terra estás apenas morto.
Já a terra de que és bicho te recobre
e uma pequena flor acena, leve,
um pequenino adeus sobre teu túmulo.

Tua mulher jamais esquecerá
tua sólida figura. Nem teus filhos
que em si a reproduzem e prosseguem
tua presença em gestos e palavras.

O tempo que rompeu teu rude corpo
como inverno passando sobre o campo,
não cortou a semente indispensável.

Ele mesmo será propício à nova
árvore forte que sustém o mundo
e reverdece o chão da vida mágica. 

Bandeira Tribuzi

No dia 2 de fevereiro de 1927 nascia, em São Luís, José Tribuzi Pinheiro Neto. Dono de espírito irrequieto, o poeta caminhou com desenvoltura pelo jornalismo, economia, política e música. Se estivesse vivo, Bandeira Tribuzi completaria 85 anos hoje.

Lembrado por sua obra, uma herança que contempla áreas distintas e comprova a grandeza só maranhense. Tribuzi era filho do português Joaquim Pinheiro Ferreira Gomes e da maranhense Amélia Pinheiro Gomes. O codinome Bandeira foi incorporado devido à predileção do jornalista pela obra de Manuel Bandeira, a quem admirava. Leia mais aqui:

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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Exaltação.

 
EXALTAÇÃO

Meu ser entrego ao derradeiro alento
no desenlace de minha alma ungida
pela esperança de um vão momento
galgar a morte na ilusão da vida.

Mas tudo o que me resta é a fé contida
num rasgo de prazer do sofrimento
de rebuscar na treva a luz perdida
no inferno elemental desse tormento.

E em já meu ser demente e sibilino
qual num culto de amor semidivino
minh'alma exita e chora e, enfim, persiste...

E flui por entre estrelas e alvoradas
num turbilhão de luzes deflagradas
ante a certeza de que Deus existe!

Afonso Estebanez

AFONSO ESTEBANEZ STAEL (*) nasceu em 30 de outubro de 1943 no ambiente agreste do município de Cantagalo, Estado do Rio de Janeiro, filho de Manoel Stael e de Francisca Estebanez Stael, descendentes de ancestrais ciganos emigrados para a Espanha e de alemães de origem judaica radicados nas regiões agrícolas da Bélgica, que posteriormente imigraram para o Brasil entre 1860 e 1890, motivados por Decreto de El Rei D. João VI, do início do séc. XIX, que incentivava a imigração de europeus para o Brasil, com a finalidade de fomentar a colonização das regiões agrícolas das terras brasileiras.

É advogado, poeta, cronista, crítico literário, jornalista laico e escritor brasileiro. Membro da Academia Brasileira de Poesia – ABP. Reconhecido oficialmente como Filho Ilustre de Cantagalo/RJ, berço de Euclides da Cunha. Diplomado “Cônsul do Movimento Universal de Poetas Del Mundo” para sua terra natal. Leia mais aqui: 

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