quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Eurídice.



EURÍDICE

Traíram-te os deuses quando adormeceste
entre urzes e ciclames cor-de-malva.
Era teu sono mais profundo que o mar,
esse tranquilo e luminoso mar Egeu
que olhavas abandonada e frágil
enquanto ouvias a música de Orfeu.
Levaram-te em segredo na barca de Caronte
para um mundo de sombras e de silêncio.
Doce ilusão a tua quando ouviste o som da lira
e um íntimo rumor de passos conhecidos.
Como sombra impaciente teu amor seguiste
de regresso à luz da pátria estremecida.
Mas no Estige, nesse rio de névoa e solidão,
esqueceu Orfeu o que a Perséfone prometera:
para trás olhou, e a sombra que já eras
entre sombras para sempre se perdeu. 

António Queiroz
 
António José de Queiróz nasceu em Vila Meã, concelho de Amarante, no dia 4 de Maio de 1954. Doutor em História pela faculdade de Letras da Universidade do Porto, é professor do Ensino Secundário.  

Fundador e director das revistas literárias Cadernos do Tâmega (Amarante, 1989-1995), Anto (Amarante, 1997-2000) e Saudade (em curso de publicação desde 2001, em Amarante), fez parte do Conselho de Redacção da revista Nova Renascença (Porto). De Dezembro de 1999 a Dezembro de 2003 foi director do Jornal de Vila Meã. Leia mais aqui: 

Fonte: Projecto Vercial 

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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Condor.


CONDOR

De avião, numa viagem turbulenta,
sobre os Andes, eu vi com sobressalto,
um condor a pairar num vôo bem alto,
lutando contra os ventos da tormenta.

Procurava carniças sobre o abismo,
se adernava descendo com mestria,
enfrentava o furor da ventania
sem os riscos temer do cataclismo.

Ao vê-lo assim, senti-me em parceria,
lembrando o meu labor de cada dia,
vi nele a minha luta refletida,

Pois eu no mundo sou seu companheiro,
procurando as carniças do dinheiro,
lutando contra os ventos desta vida.

Ângelo D'ávila


Nascido em Araxá - MG, aos 16 de março de 1924. Filho de José de Ávila e Camélia dos Santos Ávila. Diplomado em Bioquímica, Farmácia e Línguas Neolatinas. Perito criminal aposentado em 1981. Lecionou Português, História, Química e Biologia. Membro fundador da Associação Profissional dos Escritores de Brasília e pertence ao Sindicato dos Escritores de Brasília. Membro Efetivo (XXXVI Cadeira - Mário de Andrade) da Academia de Letras de Brasiliense - ACLEB e Membro Correspondente de inúmeras outras associações literárias. Livros (de poesias) publicados: Canções do Silêncio e Clarões Errantes. Participou de antologias de contos, como Conto Candango (1980) e Contos Correntes (1988).

Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br

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sábado, 26 de outubro de 2013

Lição sobre a água.



LIÇÃO SOBRE A ÁGUA

Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.

António Gedeão 
 
Leia mais um belo poema e a biografia do autor aqui:

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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Preferência.



PREFERÊNCIA

"É preferível que venham as dores, do que a causa de não mais poder senti-las."  

R.S. Furtado

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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Nesta última tarde em que respiro.



NESTA ÚLTIMA TARDE EM QUE RESPIRO

Nesta última tarde em que respiro
A justa luz que nasce das palavras
E no largo horizonte se dissipa
Quantos segredos únicos, precisos,
E que altiva promessa fica ardendo
Na ausência interminável do teu rosto.
Pois não posso dizer sequer que te amei nunca
Senão em cada gesto e pensamento
E dentro destes vagos vãos poemas;
E já todos me ensinam em linguagem simples
Que somos mera fábula, obscuramente
Inventada na rima de um qualquer
Cantor sem voz batendo no teclado;
Desta falta de tempo, sorte, e jeito,
Se faz noutro futuro o nosso encontro.

António Franco



Leia mais um belo poema e a biografia do autor aqui:

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sábado, 19 de outubro de 2013

Terceira vigília.



TERCEIRA VIGÍLIA

Mulher nua dormindo. O mistério em pétalas.
Os labirintos semicerrados como se deuses
movessem a mobília dos sonhos.

A cama é uma mulher silenciosa. Gótico barco
e páginas de antigos mares na insônia
das palavras caladas, âncoras de sombra.

Noite entre mulher e vigília. O luar salta a janela
(uma lagoa) e por uma fresta mínima
a ternura sonha pequenos dragões.
 
André Ricardo


André Ricardo de Aguiar é poeta e ficcionista paraibano. Publicou três livros de poemas: A flor em construção (Ideia), Alvenaria (Editora/ UFPB) e A idade das chuvas (Patuá). Integrante do Clube do Conto da Paraíba, também se envolve com ações culturais de acesso ao livro e leitura. Colaborador em diversos jornais e revistas. Tem ainda publicado O rato que roeu o rei (Rocco) obra selecionada pelo PNBE/MEC. Pai de Larissa, que lembra constantemente da maravilha de estar vivo e compartilhar pequenos encantos. Pelo selo Girafinha, publicou Pequenas reinações.
  
Fonte: http://www.escrituras.com.br 

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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Mal de amor.



MAL DE AMOR 
 
Toda a pena de amor, por mais que doa,
No próprio amor encontra recompensa.
A lágrima que causa a indiferença
Seca-a depressa uma palavra boa!

A mão que fere, o ferro que agrilhoa
Obstáculos não são que Amor não vença
Amor transforma em luz a treva densa;
Por um sorriso, Amor tudo perdoa.
 
 
Ai de quem muito amou não sendo amado
E depois de sofrer tanta amargura
Pela mão que o feriu não foi curado...
 
 
Noutra parte há de em vão buscar ventura:
Fica-lhe o coração despedaçado,
Que o mal do Amor, só nesse Amor, tem cura.
 
Anna Amélia

Anna Amélia Queiróz Carneiro de Mendonça (1896-1971). Poetisa, tradutora e feminista carioca, teve seus poemas e crônicas publicados pelos mais importantes jornais do país. Atuou em defesa dos direitos das mulheres e nas iniciativas promovidas pela FBPF. Participou da Associação Damas da Cruz Verde que criou a maternidade Pró-Matre. Ajudou a fundar a Casa do Estudante do Brasil e a Associação Brasileira de Estudantes. Foi a primeira mulher membro de um tribunal eleitoral do país. Traduziu poemas do inglês, francês e alemão, inclusive duas peças de William Shakespeare. Foi a fundadora da Casa do Estudante do Brasil (CEB), juntamente com Pascoal Carlos Magno, localizada na Praça Ana Amélia, no Centro do Rio de Janeiro.

Nascida na então Capital Federal brasileira, filha do engenheiro e colecionador José Joaquim de Queiroz Júnior, Anna Amélia passou a infância no interior de Minas Gerais e foi educada por preceptoras brasileiras, inglesas e alemãs. Ao retornar ao Rio, passa a viver com a família na Estrada Nova da Tijuca. Casou-se com Marcos Carneiro de Mendonça, goleiro e historiador. A partir de 1944 o casal passou a residir em um palacete do século 19 no bairro do Cosme Velho, conhecido como "Solar dos Abacaxis", por conta dos adornos em ferro fundido que ainda hoje decoram a balaustrada das janelas frontais do solar. A mansão foi erguida em 1843 pelo bisavô de Anna Amélia, o comendador Borges da Costa.

Em seu segundo livro "Alma", em 1922, a poetisa introduziu o tema do futebol na poesia brasileira e colaborou a seu modo para difundir e popularizar esse esporte. Ensinava o jogo aos operários da fábrica de seu pai e dava instruções preciosas durante as partidas. Desde muito jovem era entusiasta do esporte: no seu 12º aniversário, pediu aos pais como presente, uma bola, uma botina de sola grossa e começou a treinar.

Fonte: Wikipedia.

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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O ser humano.


O SER HUMANO

O ser humano é um breve vivente,
Que nasce, cresce e vive até morrer.
Vive em família ou isoladamente,
Mesmo doente, sem ter a quem recorrer.

Quando nasce, um bebê frágil, pequenino,
Que aos poucos, dia a dia, vai crescendo.
Se tornando uma menina ou um menino,
E assim vai levando a vida, vai vivendo.

A escola é o seu mais acertado passo,
Para logo aprender a ler e a escrever.
Para no futuro alcançar um bom espaço,
E ser alguém de valor quando crescer.

Vem a juventude, logo é hora de pensar,
E partir em busca de reais valores
Para mais tarde, no futuro poder evitar,
Uma vida de desenganos, de dissabores.

Chega o abraço da velhice, que importa?
Se a família está formada, resignada e unida.
Na espera que num certo dia, pela porta,
Entre a morte, para então, roubar-lhe a vida.

R.S. Furtado.

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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Canção para uma rapariga da horta.



CANÇÃO PARA UMA RAPARIGA DA HORTA

Pede o ritmo lento do milhafre a
resvalar sobre o corpo, a loucura
em viagem no frémito dos lábios a
dor, o fogo e o mar no silêncio escuro.

Pede o eco labiríntico das águas
e não digas nada, o vento dói
ao dizer que te espero como nunca
junto ao rumo das gaivotas solitárias.

Pede a fúria das pálpebras bebidas
na vaga tela oculta no farol
a desembocar no infinito embriagado.

Pede a duna atlântica no pensamento
barco perdido no percurso da bruma
a soprar forte na carne de espuma.

Américo Teixeira

Nasceu em São Cosmado, vila dividida entre vales do Douro e o Planalto beirão.

Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas. É doutorando em psicopedagogia na Universidade Pontífica de Salamanca onde se mestrou, desperta para a escrita ainda muito jovem, nomeadamente através da sua participação em diversos jornais regionais.

Professor de Português, sempre manifestou profundas preocupações com o estado da Educação em Portugal, contribuindo com artigos sobre o insucesso escolar no interior do País e sobre a Escola como espaço gerador de sucesso cultural e social, publicados nos jornais Região do Basto e A Página.

Cofundador da “Rádio Onda Livre”, aí manteve um programa semanal de duas horas. Posteriormente, foi colaborador da “Rádios do Porto Reunidos” e da “Rádio Aves”, apresentando programas dedicados especificamente à Cultura de Expressão Portuguesa, nas suas diversas componentes. Leia mais aqui:

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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

No fundo de mim mesmo.



NO FUNDO DE MIM MESMO

No fundo de mim mesmo
eu sinto qualquer coisa que fere minha carne,
que me dilacera e tortura...

… qualquer coisa estranha (talvez seja ilusão),
qualquer coisa que eu tenho não sei onde
que faz sangrar meu corpo,
que faz sangrar também
a Humanidade inteira!

Sangue,

Sangue escaldante pingando gota a gota
no íntimo de mim mesmo,
na taça inesgotável das minhas esperanças!
Luta tremenda, esta luta do Homem:
E beberei de novo – sempre, sempre, sempre –
este sangue não sangue, que escorre do meu corpo,
este sangue invesível – que é talvez a Vida!

Amilcar Cabral



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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Proesemar Facilidades.


PROESEMAR FACILIDADES

Métrica, rima, ritmos, a parafernália
Usual, secular caiu de escantilhão
Nalguns, acaso e sorte tentam ritmação,
Mas os versos protestam como em represália.

Prosa e verso já calçam a mesma sandália
E aplaudem Mallarmé só por embirração
Co'a diferença e leis de discriminação,
Não obstante as lições da Fonte de Castália.

Mas quem quer lição hoje de outrem, afinal,
Se o raso quer assentar praça em general
E o poetrasto bisonho é Camões em Constância?

Fazem-me rir a crítica e a sua bitola:
Muita vez, não se sabe quem lidera a bola,
Se a amizade, a nescência, a cor, a petulância.

Amadeu Torres

Amadeu Rodrigues Torres (Cónego), nasceu no lugar da Chasqueira, a 25 de Novembro de 1924, filho de Maria Rodrigues Torres e João Fernandes Torres.

Ingressou no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, no ano de 1937 e, sendo obrigar a interromper, por doença, os estudos, foi ordenado em 2 de Junho de 1957, após ter concluído o curso eclesiástico de Humanidades, de Filosofia e de Teologia. Celebrou missa nova na paroquial da freguesia a 16 de Junho.

Ainda estudante, colaborava com poesias e artigos em diversas publicações e deu à estampa, com o pseudónimo Castro Gil, o livro de poesias “O meu caminho é este” (1948), ano em que obteve prémio Nacional de poesia com o poema heróico “O Sonho de um Castelo”. No ano seguinte publicou “Sá Carneiro, Miguel Torga, José Régio – Três atitudes perante a vida”. A “Antologia Literária” (séc. XVII, XVIII e XIX), em três volumes, apareceu nos anos de 1965, 1967 e 1969 mas já em 1963 e 65 fizera sair a Colecção Humanitas de pontos modelos liceais de Português, Latim, Grego e Filosofia que foram refundidos até 1975. Leia mais aqui:

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