A RENDEIRA
Na teia da manhã que se desvela,
a rendeira compõe seu labirinto,
movendo sem saber e por instinto
a rede dos instantes numa tela.
Ponto a ponto, paciente, tenta ela
traçar no branco linho mais distinto
a trama de um desenho tão sucinto
como a jornada humana se revela.
Em frente, o mar desfia a eternidade
noutra tela de espuma e esquecimento
enquanto, entrelaçado, o pensamento
costura sobre o sonho a realidade.
Em que perdida tela mais extrema
foi tecida a rendeira e este poema?
Adriano Espínola
Adriano Espínola é poeta, ensaísta e professor da UFRJ. Parte de sua obra é dedicada à Fortaleza, sua cidade natal. "Fala, favela" (1981), "Táxi" (1986) e "Beira-Sol" (1997), sintetizam a experiência sensorial com a cidade. Seu livro de poesias "Beira-Sol" (1997) recebeu o Prêmio de Poesia – 2006 da FBN para Obra em Curso e "Praia provisória" (2006) rendeu-lhe o Prêmio ABL de Poesia, em 2007. Como ensaísta lançou "As artes de enganar: um estudo das máscaras poéticas e biográficas de Gregório de Mattos" (2000), sua tese de doutorado. Seu livro-poema "Táxi" foi traduzido para o inglês por Charles Perrone e lançado na coleção Literatura Mundial em Tradução (Nova York/Londres: Garland, 1993). Como escritor convidado, participou, dentre outros eventos, do Festival Internacional de Poesia do Mundo Latino, em Bucareste (1997), do 18º. Salão do Livro, em Paris (1998), e do Congresso de Escritores Brasil-Portugal, no Porto (2000). É membro do PEN Club do Brasil desde 2006. Foi professor-leitor de Cultura e Literatura Brasileiras na Université Stendhal Grenoble III, em Grenoble-França, de 1989 a 1991, e professor convidado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, de Teoria Literária, de 2004 a 2007. Atualmente é professor associado de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza.
Fonte: Academia Brasileira de Letras.
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