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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Acima de qualquer suspeita.


ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA 

a poesia está morta 
mas juro que não fui eu 

eu até que tentei fazer o melhor que podia para salvá-la

imitei diligentemente augusto dos anjos paulo torres car- 
los drummond de andrade manuel bandeira murilo 
mendes vladmir maiakóvski joão cabral de melo neto 
paul éluard oswald de andrade guillaume appolinaire 
sosígenes costa bertolt brecht augusto de campos 

não adiantou nada 

em desespero de causa cheguei a imitar um certo (ou 
incerto) josé paulo paes poeta de ribeirãozinho estrada 
de ferro araraquarense 

porém ribeirãozinho mudou de nome a estrada de ferro 
araraquarense foi extinta e josé paulo paes parece 
nunca ter existido 

nem eu

José Paulo Paes

Leia mais um belo poema e a biografia do autor aqui:

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A casa.


A CASA

Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas.
Na livraria, há um avô que faz cartões de boas-festas com corações de purpurina.
Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo.
Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o fim dos tempos.

No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última filha.
Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão.
Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família.
Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias do outro mundo.

No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha.

E no telhado um menino medroso que espia todos eles;
só que está vivo: trouxe-o até ali o pássaro dos sonhos.
Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa.
Antes que ele acorde e se descubra também morto.

José Paulo Paes


José Paulo Paes nasceu em Taquaritinga SP, em 1926. Estudou química industrial em Curitiba, onde iniciou sua atividade literária colaborando na revista Joaquim, dirigida por Dalton Trevisan. De volta a São Paulo trabalhou em um laboratório farmacêutico e numa editora. Desde de 1948 escreve com regularidade para jornais e periódicos literários. Toda sua obra poética foi reunida, em 1986, sob o título Um por todos. No terreno da tradução verteu do inglês , do francês, do italiano, do espanhol, do alemão e do grego moderno mais de uma centena de livros. Em 1987 dirigiu uma oficina de tradução de poesia na UNICAMP. Faleceu no dia 09.10.1998.

Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br