O MENINO RICO E O MENINO POBRE

Sentados na mesma pedra, á beira dágua, disse o menino ao pequenito:
– Que lindos cabelos tens! Parecem de ouro.
– Se meus cabelos fossem de ouro, minha mãe que é tão boa, não trabalharia tanto.
– Tens mãe! Exclamou o menino maravilhado.
O pequenito corou como a uma afronta.
– Se tenho mãe... Como não? Ela é que me penteia os cabelos; ela é que me conta histórias; ela é que me cura quando adoeço; ela é que me conserta a roupa e me adormece no colo, quando, cantando nas noites escuras, tremo de medo ouvindo piar a coruja. Tenho mãe, como não? Também não sou tão pobre assim.
– Pois eu não tenho! Suspirou o menino. Minha mãe morreu quando eu nasci. Estas terras, com tudo que nelas há, são de meu pai, que só me tem a mim. No palácio em que moro já se hospedou um príncipe com toda sua corte. O salão em que durmo é todo forrado de seda com lustres de ouro e tapetes onde os pés se afogam. São tantos os meus criados que, a muitos, tenho por estranhos e pasmo quando me pedem ordens.
– E quem lhe conta histórias?
– Hitórias? Leio-as nos livros.
– Quem o veste e penteia?
– A velha aia.
– Quem o acalenta, à noite, quando a coruja chirria e o vento gema nas árvores?
– Rezo a Nossa Senhora.
– Quando adoece, quem o cura?
– Os médicos.
– E quando a tristeza entra em seu coração, quem o consola?
– Choro.
Levantou-se, então o pequenito e, tomando nas suas as mãos do menino milionário, encarou-o compadecido, com os lindos olhos arrasados dágua.
– Por que choras? Que tens? Perguntou o menino comovido.
– Choro de pena, porque nunca pensei que houvesse no mundo outro mais pobre do que eu.
Coelho Neto.
Sentados na mesma pedra, á beira dágua, disse o menino ao pequenito:
– Que lindos cabelos tens! Parecem de ouro.
– Se meus cabelos fossem de ouro, minha mãe que é tão boa, não trabalharia tanto.
– Tens mãe! Exclamou o menino maravilhado.
O pequenito corou como a uma afronta.
– Se tenho mãe... Como não? Ela é que me penteia os cabelos; ela é que me conta histórias; ela é que me cura quando adoeço; ela é que me conserta a roupa e me adormece no colo, quando, cantando nas noites escuras, tremo de medo ouvindo piar a coruja. Tenho mãe, como não? Também não sou tão pobre assim.
– Pois eu não tenho! Suspirou o menino. Minha mãe morreu quando eu nasci. Estas terras, com tudo que nelas há, são de meu pai, que só me tem a mim. No palácio em que moro já se hospedou um príncipe com toda sua corte. O salão em que durmo é todo forrado de seda com lustres de ouro e tapetes onde os pés se afogam. São tantos os meus criados que, a muitos, tenho por estranhos e pasmo quando me pedem ordens.
– E quem lhe conta histórias?
– Hitórias? Leio-as nos livros.
– Quem o veste e penteia?
– A velha aia.
– Quem o acalenta, à noite, quando a coruja chirria e o vento gema nas árvores?
– Rezo a Nossa Senhora.
– Quando adoece, quem o cura?
– Os médicos.
– E quando a tristeza entra em seu coração, quem o consola?
– Choro.
Levantou-se, então o pequenito e, tomando nas suas as mãos do menino milionário, encarou-o compadecido, com os lindos olhos arrasados dágua.
– Por que choras? Que tens? Perguntou o menino comovido.
– Choro de pena, porque nunca pensei que houvesse no mundo outro mais pobre do que eu.
Coelho Neto.