AS TRÊS IRMÃS DO POETA
É noite! As sombras correm nebulosas.
Vão três pálidas virgens silenciosas
Através da procela irrequieta.
Vão três pálidas virgens... vão sombrias
Vindo colar n'um beijo as bocas frias...
Na fronte cismadora do – Poeta –
“Saúde, irmão! Eu sou a Indiferença.
Sou eu quem te sepulta a idéia imensa,
Quem no teu nome a escuridão projeta...
Fui eu que te vesti do meu sudário...
Que vais fazer tão triste e solitário?...”
– “Eu lutarei” – respondeu-lhe o Poeta.
“Saúde, meu irmão! Eu sou a Fome.
Sou eu quem o teu negro pão consome...
O teu mísero pão, mísero atleta!
Hoje, amanhã, depois... depois (qu'importa?)
Virei sentar-me sempre à tua porta...”
– “Eu sofrerei” – respondeu-lhe o Poeta.
“Saúde, meu irmão! Eu sou a Morte.
Suspende em meio o hino augusto e forte.
Marquei-te a fronte, mísero profeta!
Volve o nada! Não sentes n'este enleio
Teu cântico gelar-se no meu seio?...”
– “ Eu cantarei no céu” – diz-lhe o Poeta!
Castro Alves
Antônio de Castro Alves nasceu a 14 de março de 1847 na comarca de Cachoeira, na Bahia, e faleceu a 6 de julho de 1871, em Salvador, no mesmo estado brasileiro. Fez o curso primário no Ginásio Baiano. Em 1862 ingressou na Faculdade de Direito de Recife. Datam desse tempo os seus amores com a atriz portuguesa Eugênia Câmara e a composição dos primeiros poemas abolicionistas : Os Escravos e A Cachoeira de Paulo Afonso, declamando-os em comícios cívicos.
Em 1867 deixa Recife, indo para a Bahia, onde faz representar seu drama : Gonzaga. Segue depois para o Rio de Janeiro, recebendo aí incentivos promissores de José de Alencar, Francisco Otaviano e Machado de Assis.
Em São Paulo, encontra nas Arcadas a mais brilhante das gerações, na qual se contavam Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Bias Fortes e tantos outros. Vive, então, os seus dias de maior glória.
A 11 de novembro de 1868, em caçada nos arredores de São Paulo, feriu o calcanhar esquerdo com um tiro de espingarda, resultando-lhe a amputação do pé. Sobreveio, em seguida, a tuberculose, sendo obrigado a voltar
à Bahia, onde veio a falecer.
Castro Alves pertenceu à Terceira Geração da
Poesia Romântica (Social ou Condoreira), caracterizada pelos ideais
abolicionistas e republicanos, sendo considerado a maior expressão
da época. Sobre o grande poeta, Ronald de Carvalho diz : "-
mais perto andou da alma nacional e o que mais tem influído em nossa
poesia, ainda que, por todos os modos, tentem disfarçar essa
influência, na verdade sensível e profunda".
Suas obras : Espumas Flutuantes, Gonzaga ou A
Revolução de Minas, Cachoeira de Paulo Afonso, Vozes D'África, O
Navio Negreiro, etc.
Fonte: orbita.starmedia.com
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