terça-feira, 7 de outubro de 2014

Talvez o vento saiba.

TALVEZ O VENTO SAIBA

Talvez o vento saiba dos meus passos,
das sendas que os meus pés já não abordam,
das ondas cujas cristas não transbordam
senão o sal que escorre dos meus braços.

As sereias que ouvi não mais acordam
à cálida pressão dos meus abraços,
e o que a infância teceu entre sargaços
as agulhas do tempo já não bordam.

Só vejo sobre a areia vagos traços
de tudo o que meus olhos mal recordam
e os dentes, por inúteis, não concordam

sequer em mastigar como bagaços.
Talvez se lembre o vento desses laços
que a dura mão de Deus fez em pedaços.

Ivan Junqueira

 

Sexto ocupante da Cadeira nº 37, eleito em 30 de março de 2000, na sucessão de João Cabral de Melo Neto e recebido em 7 de julho de 2000 pelo Acadêmico Ruardo Portella. Recebeu o Acadêmico Antonio Carlos Secchin. Faleceu no dia 3 de julho de 2014, no Rio de Janeiro, aos 79 anos.


Ivan Junqueira nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 3 de novembro de 1934. Aqui realizou seus primeiros estudos, ingressando em seguida nas faculdades de Medicina e de Filosofia da Universidade do Brasil, cujos... Leia mais aqui:



5 comentários:

chica disse...

Lindo, como sempre aqui!! abração ainda praianos, mas já com dor no coração de deixar o mar...chica

RENATA CORDEIRO disse...

Lindo soneto de Ivan Junqueira que escreve melhor do que traduz.
Boa semana, Rosemildo.
Abraço*

Anne Lieri disse...

Furtado,que poesia mais linda escolheu! O vento sempre sabe de tudo! bjs,

SOL da Esteva disse...

Delícia de sentimentos:"[...] Talvez se lembre o vento desses laços
que a dura mão de Deus fez em pedaços."
No resto, a Fé faz milagre.
Bom Soneto. Boa Alma.


Abraços



SOL

Unknown disse...

Olá Furtado, talvez os ventos saibam até daquilo que ainda não vivi.
Olha, tentei comentar na postagem recente e não consegui, nem aperece os outro comentarios.
Até logo.