quinta-feira, 30 de maio de 2013

O Camarim



O CAMARIM

A luz do sol afaga docemente
As bordadas cortinas de escumilha;
Penetrantes aromas de baunilha
Ondulam pelo tépido ambiente.

Sobre a estante do piano reluzente
Repousa a Norma, e ao lado uma quadrilha;
E do leito francês nas colchas brilha
De um cão de raça o olhar inteligente.

Ao pé das longas vestes, descuidadas
Dormem nos arabescos do tapete
Duas leves botinas delicadas.

Sobre a mesa emurchece um ramalhete,
E entre um leque e umas luvas perfumadas
Cintila um caprichoso bracelete.

Gonçalves Crespo.


Antonio Candido Gonçalves Crespo nasceu em 11 de março de 1846 nas cercanias do Rio de Janeiro, mas aos 14 anos, por motivo de saúde, foi enviado para Portugal. Lá esteve no Porto e em Braga, e formou-se pela Universidade de Coimbra. Casando-se, fez carreira no jornalismo e na política: elegeu-se deputado por Goa, e reelegeu-se para 1882-1884. Sócio da Academia Real de Ciências de Lisboa, faleceu em 11 de junho de 1883.

No próprio frontispício de seu livro de estréia, Miniaturas, impresso em Coimbra, Gonçalves Crespo acentuava sua condição brasiliense, ao colocar debaixo do seu nome a indicação: “natural do Rio de Janeiro”. Isso e mais as reminiscências locais que lhe colorem a poesia, de modo intenso e real, permitem situá-lo como poeta brasileiro: “talentoso patrício nosso” chamava-o Machado de Assis. Como, apesar disso, ele se radicou em Portugal, onde se casou com a escritora D. Maria Amália Vaz de Carvalho e onde fez carreira política, figura também na literatura portuguesa, em curioso caso de dupla nacionalidade literária.

Fonte: “Poesia Parnasiana” Antologia – Edições Melhoramentos – 1967.

Visite também:

3 comentários:

chica disse...

Linda escolha,bela poesia!abração,chica

Severa Cabral(escritora) disse...

BELO ALVORECER AMIGO QUERIDO E MUITO AMADO !
COM OS DESEJOS DE SAÚDE VENHO SALDAR SEU RETORNO E DIZER QUE AGORA SENTI FIRMEZA NO SEU POST...AGORA ESTOU DE FRENTE COM MAIS UMA ESCOLHA FEITA POR VC...
ABÇS AMIGO !

Andradarte disse...

Mas fica-nos muito bem....como poeta Português....Gostei...
Bfs
Abraço