O RIO QUANDO ANTILIRA
O rio explode. Quando as mãos
dos anjos vêm varrer a névoa.
Ungido primeiro da tristeza,
escurece-lhe a voz
nas locas onde canta o pez.
Escuto-lhe os decibéis da ira
quando por uma tarde navegável
solta seu manancial de gritos:
já não é essa mansidão que ronronam
os líricos, mas um aguilhão
saltando às têmporas.
Mar e margem amparam o fragor
que leva o desalinho às vísceras.
Na máquina do poema
é lenta a combustão que devolve
o tejo ao afago que tantas metáforas
sussurrou aos zelosos funcionários da musa.
Não há, porém, métrica que cinja
a voz de um rio quando suspira nas entranhas
avivando um passado que é cisco na memória.
José Luís Tavares
José Luís Tavares nasceu a 10 de Junho de 1967, no lugar de Chão Bom, concelho do Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde. Estudou literatura e filosofia. Tem colaboração em jornais e revistas de Cabo Verde, Portugal e Brasil. Pelo seu primeiro livro publicado, "Paraíso Apagado por um Trovão", recebeu o Prémio Mário António de Poesia 2004, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian à melhor obra de autor africano de língua portuguesa e de Timor-Leste publicada no triénio 2001-2003.
Fonte: http://www.wook.pt
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5 comentários:
vim te dizer Bom Dia, Furtado!
ouvi falar de Tejo e não resisti :)
por vezes é antilira, sim...
magnifico poema.
são sempre muito boas as tuas escolhas.
beijo amigo.
Na calmaria desse rio,,,que navegue o amor...abraços de bom dia pra ti amigo.
O tejo forte e tão proclamado em versos também tem seus dias de fúria....
Beijos Rosemildo!
UFFFFFF, TREMEDISIMO TEXTO!!! ME ENCANTA.
UN ABRAZO
Poema metafórico, mas carregado de sentimentos, pode-se sentir a alma desse poeta em plena vibração...
Lindo!!!
Carinhos...
Beijos de Luz e Paz
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