sábado, 6 de setembro de 2014

Presídio.

 
PRESÍDIO

Nem todo corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
É também água, terra, vento, fogo...

E sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!

David Mourão - Ferreira



Escritor português, nasceu em Lisboa, em 1927 e morreu, também nesta cidade, em 1996. Licenciou-se em Filologia Romântica em Lisboa, onde chegou a ser professor catedrático, organizando e regendo, entre outras, a cadeira de Teoria da Literatura. Foi secretário de Estado da Cultura, entre 1976 e 1979; diretor do diário A Capital, diretor do Boletim Cultural do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1984 e 1996; diretor da revista Colóquio/Letras; presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1984-86) e vice-Presidente da Association Internationale des Critiques Littéraires. A sua obra... Leia mais aqui:


9 comentários:

  1. Muito linda, intensa poesia! Que teu fds seja leve, feliz e lindo! abração,chica

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  2. Já estive aqui hoje, pela manhã, bati, bati, mas a janela não se abriu, Furtado, para eu deixar algumas palavras...Agora sim: soneto lindo! Obrigada,bom domingo, meu abraço.

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  3. Agora sim, nem precisei ir ler sobre este autor, que conheço muito bem.
    Todos os poemas dele são muito bons!
    Até já postei também sobre ele, e até a foto calhou ser a mesma...:-)
    Aqui:
    http://escritacommusica.blogspot.pt/2013/06/david-mourao-ferreira.html

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  4. Olá, Furtado
    Parabéns.
    Belíssimo soneto. De uma coisa tenho certeza. Todo corpo, tem as suas emoções
    Abraços

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  5. No presidio amontoados!
    talvez, alguns inocentes
    seres humanos condenados
    com tratamentos diferentes
    pelos crimes praticados...

    Não é o caso do seu poema!
    bem separadas as palavras
    como o presidio ser o tema
    pode nos olhos causar lágrimas?

    Bom domingo para você amiga Furtado, um abraço.
    Eduardo.

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  6. Mourão Ferreira legou-nos vasta Obra.
    Este Soneto é um exemplo do seu magnífico modo de escrever.
    Parabéns pela escolha.


    Abraços


    SOL

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  7. Que poema forte.

    Adorei a partilha e informação.

    Beijo

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  8. um lindo poema de um poeta sensacional
    Beijo*
    Renata

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  9. Boa tarde Furtado!
    Amigo bela escolha, esse soneto é sensacional.

    Amigo eu me perdi aqui no seu blog, não sei qual era o certo, entrei em prendas, voltei e vim neste.

    Uma grandiosidade, de poemas e sonetos com muito bom gosto.

    Se o amigo permitir vou linkar este blog ok.

    Abraços da amiga Nati.

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