quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O rio quando antilira.


O RIO QUANDO ANTILIRA 

O rio explode. Quando as mãos 
dos anjos vêm varrer a névoa. 
Ungido primeiro da tristeza, 
escurece-lhe a voz 
nas locas onde canta o pez. 

Escuto-lhe os decibéis da ira 
quando por uma tarde navegável 
solta seu manancial de gritos: 
já não é essa mansidão que ronronam 
os líricos, mas um aguilhão 
saltando às têmporas. 

Mar e margem amparam o fragor 
que leva o desalinho às vísceras. 
Na máquina do poema 
é lenta a combustão que devolve 
o tejo ao afago que tantas metáforas 
sussurrou aos zelosos funcionários da musa. 

Não há, porém, métrica que cinja 
a voz de um rio quando suspira nas entranhas 
avivando um passado que é cisco na memória. 

José Luís Tavares 


José Luís Tavares nasceu a 10 de Junho de 1967, no lugar de Chão Bom, concelho do Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde. Estudou literatura e filosofia. Tem colaboração em jornais e revistas de Cabo Verde, Portugal e Brasil. Pelo seu primeiro livro publicado, "Paraíso Apagado por um Trovão", recebeu o Prémio Mário António de Poesia 2004, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian à melhor obra de autor africano de língua portuguesa e de Timor-Leste publicada no triénio 2001-2003.  

Fonte: http://www.wook.pt

Visite também: 

5 comentários:

  1. vim te dizer Bom Dia, Furtado!

    ouvi falar de Tejo e não resisti :)
    por vezes é antilira, sim...
    magnifico poema.
    são sempre muito boas as tuas escolhas.
    beijo amigo.

    ResponderExcluir
  2. Na calmaria desse rio,,,que navegue o amor...abraços de bom dia pra ti amigo.

    ResponderExcluir
  3. O tejo forte e tão proclamado em versos também tem seus dias de fúria....
    Beijos Rosemildo!

    ResponderExcluir
  4. UFFFFFF, TREMEDISIMO TEXTO!!! ME ENCANTA.
    UN ABRAZO

    ResponderExcluir
  5. Poema metafórico, mas carregado de sentimentos, pode-se sentir a alma desse poeta em plena vibração...
    Lindo!!!

    Carinhos...
    Beijos de Luz e Paz

    ResponderExcluir