terça-feira, 31 de maio de 2011

Reguengos.


REGUENGOS

Inverno, manhã cedo. A luz que banha
A paisagem é gélida e cinzenta;
A vaga pompa do cenária ostenta,
Ao largo, as serras húmidas de Espanha.

Hortas, vinhedos e a carcaça estranha
De Monsaraz, numa ascensão violenta;
A erva tenrinha os gados apascenta,
Que em tons de bronze a terra desentranha.

E eu olho essa paisagem dolorida,
Testemunha que foi da minha vida,
Povoada agora de visões errantes....

Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a,
Que os seus olhos longínquos, rasos de água,
São hoje os mesmos que me olhavam dantes.

António de Macedo Papança


António de Macedo Papança (Conde de Monsaraz), político e escritor português, nascido em 1852, em Reguengos de Monsaraz, oriundo de uma família de grandes proprietários do Alentejo, e falecido em 1913, em Lisboa, foi doutor em Leis pela Universidade de Coimbra, deputado, par do reino, sócio da Academia Real das Ciências e embaixador-delegado ao Congresso da Paz, em 1900, tendo sido agraciado com o título de conde. Na sequência da implantação da República, em 1910, exilou-se em Paris, de onde regressou em 1913, pouco tempo antes da sua morte. Colaborou em vários periódicos, como A Folha, A Evolução e A Ilustração Portuguesa. Deixou quatro volumes de poesias – Crepusculares (1876), Catarina de Ataíde (1880), Telas históricas (1882) e Musa alentejana (1908) -, para além da coletânea póstuma Lira de outono (1952), que ilustram a transição da estética parnasiana para as correntes neorromânticas e ruralistas do fim de século.

Fonte: Infopédia.

12 comentários:

  1. Há sempre um inverno por escrever
    Uma página por virar
    Um amor por esquecer
    Um olhar pra se encontrar...

    Márcia C Lio M

    Feliz semana e meu beijo à todos! M@ria

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  2. Estimado e Brilhante Amigo:
    Tudo o que faz, faz com um talento extraordinário.
    Bem-Haja, pela significativa visita de amizade que é recíproca.
    "...Eu olho-a e dentro da minha alma afago-a,
    Que os seus olhos longínquos, rasos de água,
    São hoje os mesmos que me olhavam dantes..."

    Delicioso e fantástico.
    Abraço amigo perante a sua magia que é sua de deslumbrar.
    Com respeito imenso.
    Sempre a admirá-lo

    pena

    Excelente.
    Tudo o que escreve saí do seu coração fabuloso e perfeito.
    Adorei.
    Bem-Haja, valioso amigo.

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  3. Gratidão é a flor mais
    bela que nasce da alma,
    e que o coração humano não
    conhece outra mais perfumada.

    (Hosea Ballou)

    Beijos & Flores! M@ria

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  4. L'inverno. magia e desolazione nello stesso tempo.
    Abbraccio, Furtado.

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  5. Um olhar saudoso, dolorido e inspirado...abraços, tudo de bom,chica

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  6. Olá amigo
    As lembranças e a saudade, sempre são fontes de inspiração para os poetas, que transbordam esses sentimentos em seus versos.
    Grande abraço

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  7. Lembranaças fazem parte do livro da saudade da vida,,,abraços de bom dia pra ti.

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  8. Um poema de saudade. Gostei muito.

    BeijooO*

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  9. "E eu olho essa paisagem dolorida,
    Testemunha que foi da minha vida,
    Povoada agora de visões errantes...."

    esse trecho do poema realmente me tocou profundamente. reviver tais lembranças, trancrevê-las com a palavra exata a ilustrar o poema é o que há de mais belo quando queremos exteriorizar as dores.

    grande abraço!

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  10. Aqui sempre conhecemos grandes nomes, beijo Lisette.

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  11. Inverno, frio, dias cinzas, paisagem tão familiar com a janela do meu quarto...
    Beijosss

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  12. Belo poema. Gostei muito!!
    Boa noite!
    Beijos!

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