sábado, 28 de junho de 2014

A fofoqueira.


A FOFOQUEIRA

Vem logo vê muié! Se assenta aqui,
Oia só quem vai passando por aí,
Nunca vi muiesinha tão derpravada.
A safada veve todo tempo cum fome.
Num pode nunca avistá um home,
Qui fica logo fogosa, toda assanhada.

Só veve na rua, é o dia todo andano,
Pra riba e pra baxo, somente mostrano,
As coisa qui tem e qui divia di iscondê.
A rôpa vremêia, curtinha e apertada,
Pra riba do joeio, tá sempre alevantada,
Qui é pra mode os home da rua vê.

Trabaiá? Eu? Qui nada! Nem pensá,
Vadiá é muito mais mió pra nóis ganhá.
Isso é como as garrafa! Sai puraí falano.
Adispois é só lavá, imboicá e já tá nova,
Aí, a mais otros besta eu vô dano prova,
E as merreca qui arrumá, eu vô imbosano.

Num vá dizê a ninguém qui eu disse,
Pruquê eu vô só dizê qui tu mintisse,
E qui tu gosta munto dumas istorinha.
É qui a quenga qui agora eu tô falano,
Qui veve puraí, pelas rua só vadiano,
Mora aqui junto deu, é fia da vizinha.

Mais dêxa pra lá, ela faz pruquê é dela,
Pros povo daqui, ela num vale uma ruela,
Faz desde minina, cumeçô muito cedo.
É! Vamu se arrumá, qui hoje é dia de festa,
Vô cumê, e bebê, vô dançá cá mulesta
Inté o sol raiá, qui hoje é vespra de São Pedo.

R.S. Furtado

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Festa de São João.

 

FESTA DE SÃO JOÃO

Comprei um vestido de chita,
Chapéu de palha mandei fazer,
Eu quero ficar bonita
Para o meu benzinho ver.

A festa vai ser na roça,
Lá no sítio do seu Zé
E dentro de uma palhoça
Vai ter o arrasta pé...

Vai ter pinhão e quentão,
Batata doce e macaxeira,
Vamos pular fogueira
Para festejar São João.

Tem convite pra quem quiser,
Seja homem ou mulher
E pra a festa ficar animada
Levem também a criançada.

Hilda Persiani
  

Nasci em Ribeirão Claro, cidade do Norte pioneiro do Paraná, em 20 de janeiro de 1929. Filha de Afonso Persiani e Esther Marques Persiani, sendo a caçula de mais dois irmãos. Todos já falecidos.

Morei na cidade de Jacarezinho de onde vim para Curitiba com 17 anos de idade. Dou professora, formada em 1948 pelo Instituto de Educação do Paraná e Assistente Social formada em 1952, pela Escola Social da... Leia mais aqui:

domingo, 22 de junho de 2014

O Cicerone.



O CICERONE

Olhe! Preste bem atenção, ó sô moço,
Pras coisa qui agora, eu vou le dizê.
A terra aqui é boa e tem um poço,
É só plantar, isperá botá, e culhê,
Aos pouco, sem pressa e arvoroço,
Pra mode a famia o ano intero cumê.

Mais num vá pensando, ó sô moço,
Qui a vida aqui é de fartura. É osso!
Num pense qui é face, né moleza não.
O cabra aqui sofre. Tem qui trabaiá,
Tem qui regaçá as manga, bataiá e suá,
Pra mode cumê um pedacim de pão.

A água num é boa, é pôca e barrenta,
Dá pra lavá as coisa, a cara e a venta,
Banho só no riacho, com buxa e sabão.
Se tivé cuidado, a água dá pra bebê,
Basta só botá no fogo e isperá felvê,
Pra num dá lumbriga, ficá cum barrigão.

A gente daqui é carma, num é arruacera,
Num sabe nem comu pegá na pexera,
Mais tem muita corage, num é froxa não.
Se xingá ela, sai da frente, disimbesta,
Ela fica comu um cão, fica cum a mulesta,
Vai pra cima e mata, estraçaia cum as mão.

A gente daqui num veve só pra trabaiá
Aqui também é divirtido, tem coisa boa
Sempre no mei do ano, eles tem diversão
Em junho eles sempre trata de se arrumá
Toma cachaça e sai de braço cum a patroa
E pro terrero feliz, vai brincá o São João.

R.S. Furtado.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

Eu sô eu, vancê é vancê...

   
EU SÔ EU, VANCÊ É VANCÊ...

Num recado cumpricado,
Vancê me mando dizê,
Que gostava de sê eu,
Si eu tambeim fosse vancê...

Mai que recado arretado
Que ocê mando pra eu.
Se vancê fosse vancê,
Vancê num seria eu...

Ocê sabe que eu sô eu...
Nunca que eu vô sê vancê,
E se vancê fosse eu,
Cumo é que eu ia sabê?

Se ocê intão num dissesse
Que era eu, e eu vancê,
Nois duas, abestaiadas,
Ficava inté sem sabê.

Ocê bem que goataria
De sê eu – pode dizê!
E eu tambeim que gostaria
De num sê eu, sê vancê!

É só eu oiá procê
E vancê oiá pra mim,
Nóis sabe quem que nois semo
Por esse mundão sem fim.

Vancê e eu, num tem jeito;
Temo por nóis, amizade.
Uma num vai sê a otra
Nem trocá de indentidade!

Continua sendo ocê,
Num quero trocá mais não
Eu continuo a sê eu,
Senão vai dá cunfusão.

Se nóis trocasse o marido,
Depois, cumo é que ia sê?
Se ocê durmisse com o meu,
Será que ia dizê?

Se eu dormisse coteu
Eu mesma, num te dizia..
Pra que? num carece mesmo,
Contá nossas fantasia...

Ia sê muito bem feito
Pra nóis aprende a lição.
Nóis pode uma sê a otra,
Marido? Num troco não!

Mírian Warttusch

 


Mírian Warttusch, nome artístico de uma escritora de alma sensível e apaixonada que afirma já ter nascido poeta e sonhadora.



São Paulo a viu nascer na década de 40, no bairro de Tatuapé, São Paulo, Brasil, onde paisagens magníficas como as da Mata Paula Souza estavam preservadas e intocadas em suas belezas naturais e serviram de cenário para sua infância de... Leia mais aqui: 


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Rebuliço.

REBULIÇO

Menina me arresponda
Sem se ri e sem chorá:
Pruque você se remexe
Quando vê home passá?
Fica toda balançando,
Remexendo, remexendo...
Pensa talvez, qui nós, véio,
Nem tem ôio e nem tá vendo?
Mas, si eu fosse turidade,
Se eu tivesse argum valô,
Eu botava na cadeia
Esse seu remexedor...
E, adespois dele tá preso,
Num logar, bem amarrado,
Eu pedia: - Minha nêga,
Remexe pru delegado...

Renato Caldas


Renato Caldas nasceu em Assu 08 de outubro de 1902, filho de Enéias Caldas e Neofit de Oliveira Caldas. Estudou as primeiras letras na Escola Luiza de França em 1908, entru na Escola estadual Tenente Coronel José Correia em 1911. Seu primeiro emprego foi como topógrafo de José Severo de Oliveira. Colaborou com pequenos jornais como: Leia mais aqui:

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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Ai! Se sêsse!...

 
AI! SE SÊSSE!...

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pedo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
pra qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
o e buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!

Zé da Luz 

Zé da Luz, poeta, das trevas nordestinas, nasceu em 29 de março se 1904 em Itabaiana, região agreste da Paraíba e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de fevereiro de 1965. Veio ao mundo como Severino de Andrade Silva e recebeu a alcunha de Zé da Luz. Nome de guerra e poesia, nome dado pela terra aos que... Leia mais aqui: 

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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Elas, as mulheres.

ELAS, AS MULHERES

As crioulas são garbosas,
As guagirús são vibrantes.
As mulatas sempre airosas,
E as caboclas muito ardentes.

As morenas são bonitas,
As ruivas são muito ardentes.
As brancas sempre benditas.
E as louras muito atraentes.

Adjetivos ponho nelas,
Porém, nenhuma prefiro.
Se assim julgo todas elas,
Porque todas, eu admiro.

R.S. Furtado.

Dedicado a todas as mulheres, minhas eternas NAMORADAS.
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terça-feira, 10 de junho de 2014

A um rico.

 
 

A UM RICO

Das nuvens cor de rosa da opulência
Tentas em vão bater a Desventura,
E, no entretanto, quanta noite escura,
Em vez de auroras, veste-te a existência!

Quantos desses que vivem na indigência
Dos restos do que comes à procura,
Mais do que tu não vivem na Ventura
– Da pobreza na pálida aparência?

Quantos desses que dentro dos farrapos
De uns, em pedaços, miseráveis trapos
Que lhes servem de capa ao corpo nu,

Quantos desses que míseros, sem nome,
Se revolvem no pelágio da fome
Não são mais venturosos do que tu?

Xavier de Carvalho
 

Poeta, Inácio Xavier de Carvalho, nasceu em São Luís no dia 26 de agosto de 1871. Integrou, juntamente com Antonio Lobo e Fran Paxeco, entre outros, a Oficina dos Novos, movimento de renovação literária empreendido por um grupo de escritores maranhenses no início do século XX.

Não há registros confiáveis sobre sua juventude. Com certeza, sabe-se apenas que estudou Direito em Recife, de onde retornou para o Maranhão. Aqui exerceu cargos como o de promotor público, juiz municipal e professor de... Leia mais aqui:

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domingo, 8 de junho de 2014

Rua (TRAIRI).

 
 
Rua (TRAIRI)

Nos cubos desse sal que me encarcera
(Pedras, silêncios, picaretas, luas,
anoitecidos braços na paisagem)
a duna antiga faz-se pavimento.

Meu chão se muda em novos alicerces,
sob as pedreiras rasgam-se meus passos;
e a velha grama (pasto de lirismos)
afoga-se nos sulcos das enxadas,

nas ânsias do caminho vertical.
Ao sono das areias abandonam-
se nesta rua vividos fantasmas.

De seus rios meninos que descalços
apascentavam lamas e enxurradas.
Meu chão de agora: a rua está calçada.

Zila Mamede
 

Zila da Costa Mamede nasceu em setembro de 1928 em Nova Palmeira, pequena cidade localizada no interior da Paraíba. Na infância, costumava passar as férias no sítio do avô, de modo que a ambientação rural teve um papél decisivo para a formação cultural da autora. Ainda criança, mudou-se com a família para Currais Novos (RN), cidade onde o pai iria trabalhar como mecânico de equipamentos agrículas. Com o intúito de alcançar melhores condições de vida, a família Mamede mudou-se para a capital do estado. Depois de se instalar definitivamente em Natal, a agitada ambientação urbana... Leia mais aqui:

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sexta-feira, 6 de junho de 2014

O reino.

 
O REINO

A José Olímpio Vasconcelos

Época de goiabas – no meu quarto
o aroma delas se incrustou no gesso
do cavalo troiano que o lagarto
cavalga; e estas goiabas de começo

de estação sobrenadam o hausto farto
do olfato – o meu cavalo escarva o avesso
do branco onde se funde e em cujo parto
goiabas e lagartos têm o seu preço.

Assim meu quarto esta estação de aroma
envolve – e das goiabas me apercebo
que é tudo hora frutal que em tudo assoma;

e tenho para reino os meses quatro
do aroma de goiaba, e é minha carne
o gesso em que cavalgam tais lagartos

Walmir Ayala
Walmir Ayala nasceu em Porto Alegre (RS) a 4 de janeiro de 1933 e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) a 28 de agosto de 1991. Em 1955 publicou seu primeiro livro, Face dispersa (poesia). Em 1956 transferiu residência para o Rio de Janeiro. Dedicou-se a vários gêneros literários: poesia, conto, romance, teatro, literatura infantil, diário íntimo, crônica, crítica (de artes plásticas, literatura e teatro). Dedicou-se também, intensamente, ao jornalismo: de 1962 a 1968, assinou no Jornal do Brasil uma coluna de literatura... Leia mais aqui:

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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Fogo na mata.

 

FOGO NA MATA

O fogo se alastra rugindo qual fera
sedenta de sangue ao baque da presa.
E nessa volúpia de gozo e braveza
o ventre escaldante revolve e descerra!

E abrange a amplitude, e rasga e se aferra,
lambendo raivoso, voraz na destreza!
E a mata se dobra, na rude grandeza,
tombando entre as chamas à face da terra.

Por entre o negrume crepita o braseiro,
e o pobre colono, de braços cruzados,
lamenta impotente a falta do aceiro...

Agora já é tarde. Pois nada mais resta
senão que trabalhos por força dobrados
e a triste saudade da verde floresta...

Virgínia Tamanini


Virgínia Gasparini Tamanini nasceu em 04/02/1897, na fazenda Boa Vista, no Vale do Canaã, município de Santa Teresa, no Estado do Espírito Santo. Seus pais, Epfânio Gasparini e Catarina Tamanini Gasparini, ambos italianos que vieram como imigrantes para o Brasil.

Criada em fazenda, aprendeu as primeiras letras e adquiriu alguns conhecimentos equivalentes ao ensino elemantar da época com professores particulares. Mais tarde, prosseguiu seus estudos no Rio de Janeiro, sob orientação de seu... Leia mais aqui:

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