quinta-feira, 31 de julho de 2014

Esperanças.


ESPERANÇAS

Já não mais sei até aonde vão as minhas esperanças,
De reacender as chamas do amor, que há muito terminou.
Mergulhado na solidão, vivo somente das lembranças,
Que como recompensa, foi tudo quanto me restou.

Já não mais sei até quando suportarei esta mal vivida vida,
Imposta pelo destino que o SENHOR me assegurou.
Mas, seguirei minha batalha sem descanso, sem guarida,
Correndo atrás da felicidade que o amor me reservou.

Já não mais sei se devo, como também, até quando,
Seguirei nesse intento de reviver tudo o que passou.
Se sou merecedor não sei, de continuar sonhando,
Encontrar o alguém que eu amei e que também me amou.

Já não mais sei aonde buscá-la, nem qual o seu paradeiro,
Mesmo assim continuarei, insistirei nas minhas andanças.
Encontrá-la-ei, nem que para isso revire o mundo inteiro,
Pois a fé em DEUS não me fez perder as esperanças.

R.S. Furtado. 

terça-feira, 29 de julho de 2014

Cigarro.

 

CIGARRO

A brasa silenciosa me consome o cigarro.
Olho-a e me deixo ir junto, incinerando.
Há um gosto de fim no acre sabor do sarro
e a fumaça me enlaça feito um fantasma brando.

Vou lançando no ar volutas em que esbarro
impulsos de um querer que se desfaz pairando.
E o cinzeiro me dá uma náusea de barro
com a tumba circular das baganas cheirando.

O ameno suicídio de fumar isolado...
A vida a reduzir-se à chama que caminha
para o centro de um eu que se vê descentrado.

Me abandono a fumar, fica tudo afastado.
Vou indo pelo tempo à hora que avizinha
de enfim não ter vivido, mas fumado...

Paulo Hecker
Paulo Hecker Filho nasceu em 26 de julho de 1926, em Porto Alegre. Seu pai foi advogado, mas já nessa época exercia a profissão de farmacêutico, além de ser renomado espiritista, lotando as salas de cinema da época com suas palestras. Em uma carta remetida ao filho, na ocasião do falecimento de paulo Hecker, em 1976, consta: “Teu pai sempre me dizia: 'farei de tudo para que o Paulinho possa se dedicar somente às letras.'”

Foi exatamente o que aconteceu. Antes de se tornar escritor, PHF já demonstrava imensa curiosidade intelectual: brilhante trajetória no colégio militar, o primeiro 10 em Latim na história do IPA, formado com média total de 9,6 na Faculdade de Direito, e, claro, devorador de livros. “Quando descobri que eu era capaz de ler um livro inteiro, foi o destino.” Paulo não exerceu a advocacia em nem... Leia mais aqui:

domingo, 27 de julho de 2014

Amor-próprio.

 
 
AMOR-PRÓPRIO

Arfa-lhe o seio, o coração lhe bate,
Ferve-lhe o peito num desejo ardente...
Ella, contudo, finge estar contente,
Velando a custo o intimo combate.

Que se estortegue em ânsias, que se mate
De aceradas paixões interiormente...
Forçoso é rir, com a lágrima latente,
Lutar com a tentação, que n'alma embate.

Querem falar os lábios, mas não falam;
Querem gritar as dores, mas se calam,
De austera voz ao mando soberano.

Padeça o amor, sublime de ternuras;
Que esse amor-próprio, origem de torturas,
Bárbaro sendo, infelizmente é humano.

Xavier Marques


Segundo ocupante da Cadeira 28, eleito em 24 de julho de 1919, na sucessão de Inglês de Sousa e recebido pelo Acadêmico Goulart de Andrade em 17 de setembro de 1920.

Xavier Marques (Francisco X. Ferreira M.), jornalista, político, romancista, poeta e ensaísta, nasceu na ilha de Itaparica, BA, em 3 de dezembro de 1861, e faleceu em Salvador, BA, em 30 de outubro de 1942.

Iniciou os primeiros estudos em sua cidade natal. Cedo se transferiu para a cidade de Salvador, matriculando-se no colégio do cônego Francisco Bernardino de Souza. Na capital baiana dedicou-se ao jornalismo, atividade que só interrompeu durante o segundo dos seus mandatos... Leia mais aqui:

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Acalanto.

 

ACALANTO

Para embalar teu sono de menina
fiz do meu canto doce melodia.
Minh'alma ao ver-te toda se ilumina.
Se escura a noite, para mim é dia.

Teu sono leve, ao leve respirar,
é belo encanto que me alegra a alma.
Vendo-te pura e doce para amar
sinto que me seduz e a alma me acalma.

Olho-te mais e mais me asseguro:
Caminhos vários aqui me trouxeram,
ao porto desta vida em que seguro

meu pobre barco que vogava ao léu,
por mares turvos que te antecederam,
encontra em ti a terra firme e o céu.

Affonso Heliodoro

Quem vê o senhor magro e esguio subindo e descendo escadas, enquanto fala de forma contundente sobre o presidente Juscelino Kubitschek, na sua casa no bairro Lago Sul, em Brasília, não imagina que este senhor tenha 95 anos de vida e grande parte deles dedicada ao ex-presidente JK.

Affonso Heliodoro é história viva de Brasília e do Brasil. O coronel da Reserva da Polícia Militar de Minas Gerais, bacharel em Direito pela antiga faculdade Nacional de Direito, do Rio de Janeiro, membro de várias academias de Letras e tantos outros trabalhos, sabe datas, nomes e locais, tudo na ponta da língua, e é capaz de falar hora e horas sobre política brasileira e seus personagens.

Mas o menino Affonso Heliodoro teve uma infância difícil. Nascido em Diamantina, em 17 de abril de 1916, perdeu o pai, José Heliodoro, no dia de seu... Leia mais aqui:

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Zelo.


ZELO

De leve, beijo as suas mãos pequenas,
Alvas, de neve, e, logo,um doce, um breve,
Fino rubor lhe tinge a face, apenas
De leve beijo as suas mãos de neve.

Ela vive entre lírios e açucenas,
E o vento a beija, e, como o vento, deve
Ser o meu beijo em suas mãos serenas,
--Tão leve o beijo, como o vento é leve...

Que essa divina flor, que é tão suave,
Ama o que é leve, como um leve adejo
De vento ou como um garganteio de ave,

E já me basta, para meu tormento,
Saber que o vento a beija, e que o meu beijo
Nunca será tão leve como o vento...

Zeferino Brasil 
    

Antônio de Souza Zeferino Brasil nasceu em Porto Grande, município de Taquari, Rio Grande do Sul, em 24 de abril de 1870, sendo filho de João Antônio de Sousa e Tausta Carolina de Sousa. Estudou no Colégio Rio-Grandense em Porto Alegre no ano de 1883 e cursou a Escola Normal de Porto Alegre pela qual se diplomou professor... Leia mais aqui:

domingo, 20 de julho de 2014

Recado.

 

  RECADO

Vós que sentistes a dor de uma separação,
Em tempos passados, quando feliz éreis na vida.
Se por degeneração física, falta de amor ou paixão,
Ou quaisquer que foram os motivos da partida.

Vós que sentistes o desprazer do abandono,
Sem ao menos o direito de tentardes uma reação.
Destes-vos ao sofrimento, e pra vida nenhum plano,
De um novo e grande amor para alentar o coração.

Vós que sentis hoje, o amargor da solidão,
E viveis das lembranças de um passado distante.
Sem consolo, e a merçê de um desprezo gritante,
Condenada ao desalento, sem dó e sem compaixão.

Eis que é chegado o momento de uma total mudança,
Tendes de reagir, pois não cometestes nenhum pecado.
Afinal, não custa nada alimentardes a vital esperança,
De recobrardes a felicidade. Este é o meu recado.

R.S. Furtado.

Publicado em 29/11/10.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Celina.

     
CELINA

A mais argêntea flor, a mais mimosa,
Não lhe imita, talvez, a casta alvura,
A meiga e doce virginal candura
Da jaspeada face setinosa.

Quando ella ri – os labios purpurinos
São como o roseo centro perfumado
D'esse bouquet phantastico e perlado
Pelos lirios dos dentes opalinos.

Nem mesmo sei que douda phantasia
Encerre mais encantos e magia
Que as formas ideaes e transcendentes

D'essa nevada e languida cecem,
D'essa creança angélica, que tem
Rosas na bocca e perolas nos dentes.

Enéas Galvão


ENÉAS GALVÃO, filho do Tenente-General Rufino Enéas Gustavo Galvão, Visconde de Maracaju e D. Maria Faustina Passos Galvão, nasceu em 20 de março de 1863, em S. José do Norte, na província do Rio Grande do Sul.

Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito de São Paulo, recebendo o grau de Bacharel em 1886.

Iniciou sua carreira na Magistratura sendo nomeado Promotor Público da comarca de Barra Mansa, em decreto... Leia mais aqui:

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ofertório.


OFERTÓRIO

Foi por vós, catecúmenos sombrios
Da excelsa religião do sentimento,
Que de tudo num vago esquecimento
Vaguei da morte pelos reinos frios;

Buscando a essência em flor do sentimento
Oculta nesses báratros sombrios,
Onde a voz tumular de ventos frios
Geme o salmo de eterno esquecimento.

Foi por vós que eu vivi nas outras vidas
As sensações secretas, doloridas,
Que sufocam os gritos na garganta,

E é por vós que minh'alma aniquilada,
Visite também:
Nos sudários do sonho amortalhada,
Das próprias ruínas ressurgindo, canta.

Carlos Fernandes 
 

Carlos Augusto Furtado de Mendonça Dias Fernandes: Nasceu em 20 de setembro de 1874, na cidade de Mamanguape, Estado da Paraíba e faleceu em 09 de dezembro de 1942, no Hospital da Cruz Vermelha, no Rio de Janeiro. Era filho do Dr. Nepomuceno Dias Fernandes e de D. Maria Augusta Saboia Dias Fernandes. Aprendeu as primeiras letras com a sua mãe, continuando com os professores Luiz Aprígio e Isaac Ribeiro que lhe ministraram aulas... Leia mais aqui:  

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A lancha negra.

 

A LANCHA NEGRA


Para velar da luz a face refulgente
Nuvens pesadas vão correndo acumuladas,
E, na treva do oceano, as vagas compassadas
Passam, uma por uma, interminavelmente.

Mais do que a sombra, escura, avulta de repente
A lancha negra, vem… dos remos as pancadas
Ferem o mar, que chora, em gotas prateadas
As lágrimas sem fim, da sua dor pungente.

Eil-a a meus pés, a lancha, e nella, silenciosa,
Embarca a doce e branca imagem de outra idade!
E vejo-a ir… sumir-se… a lancha mysteriosa!…

Então, dentro de mim, num soluço, a saudade
Murmura, a perscrutar a sombra tenebrosa:
Nunca mais voltarás, nunca mais! Mocidade.

Em: A Faceira, ano 1, n. 4, nov. 1911.

Adelina Lopes Vieira
 

Leia mais um belo soneto e a biografia da autora aqui: 

sábado, 12 de julho de 2014

Soneto.

 
SONETO

Portuguêses! A nuvem tenebrosa
Qu'ofuscava a razão desaparece,
Desfez-se o cáos que a discordia tece:
Já se encara sem medo a luz formosa.

Dos erros a progenie maculosa
Baqueando em soluços estremece.
A justiça dos céus ao trôno desce,
Marcando os faustos à nação briosa,

Lisia, berço de herois, oh Lisia, alerta!
Cumpre que os ferros o Brasil arroje.
Seguindo o impulso que a razão desperta.

A expressão de terror desmaia e foge,
Graças a invícta mão que nos liberta;
Escravos hontem, sois romanos hoje!

Eloi Otoni
 

Nasceu José Eloi Otoni no dia 1º de dezembro de 1764, na vila do Principe, hoje do Serro, na Capitania de Minas Gerais.

Seu pai, Manoel Vieira Otoni, era neto de Emanuel Otoni, cidadão genovês que emigrara para o Brasil em 1727, tornando-se o tronco da família Otoni que, durante um seculo, dera ao Brasil filhos ilustres e eminentes. Sua mãe, D. Ana Felizarda Pais Leme, descendia de ilustre família paulista que se prendia ao governador das Esmeraldas.

Muito jovem, foi mandado José Eloi cursar as primeiras aulas no arraial do Tejuco, hoje cidade de Diamantina, onde se salientou especialmente no... Leia mais aqui: Com certeza uma linda história.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Solidão.

    
 

SOLIDÃO

Já vem bem alta, a noite fria e calma,
A lua vaga na amplidão celeste.
Nem de leve se mexe uma só palma,
O luar nevado todo o globo veste.

Solidão no viver, angústias na alma.
O tédio atroz contra meu ser inerte,
Sem um seio que afagos manifestem
Meu abrasado peito não se acalma.

Quantos lábios estão nesta hora unidos,
Comungando com beijos repetidos,
Um forte amor e sempre renovado.

Ao rigor desta minha solidade,
Como refugio abraço-me a saudade,
Volvendo as frias cinzas do passado.

R.S. Furtado 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Salmo do imemorial.

 
SALMO DO IMEMORIAL

A Souto Maior Borges

Hora
de amargura quando o céu for negro
de solidão e o meu ser apenas
nódoa de dor perdida para sempre.

Quando as estrelas me voltarem as faces
e a própria tristeza me deixar
e bradar, sobre mim, a eternidade
todo o tempo perdido que vivi.

De mim
memória nenhuma restará.
Nem morrerei, serei abandonado,
quando Deus houver gasto sem piedade
toda a minha pobre criatura.

Yttérbio Homem de Siqueira
 

Seu nome é forte e estranho e parece guardar uma predestinação telúrica. O “y” que o inicia sugere a ambiguidade e o silêncio do que é incógnito, embora nada faça supor que, por trás de sua opaca firmeza, haja um homem atormentado pela visão mística dos grandes visionários. Morto em 1981, tinha 49 anos quando faleceu. Era potiguar da cidade de Natal, mas sua curta vida foi marcada pelo Recife e por Olinda. Era formado em... Leia mais aqui:

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sábado, 5 de julho de 2014

A flor da decadência.

 


A FLOR DA DECADÊNCIA

Sou como o guardião dos tempos do mosteiro!
Na tumular mudez dum povo que descansa,
As criações do sonho, os fetos da esperança
Repousam no meu seio o sono derradeiro.

De quando em vez eu ouço os dobres do sineiro:
É mais uma ilusão, um féretro que avança...
Dizem-me – Deus... Jesus... outra palavra mansa
Depois um som cavado – a enxada do coveiro!

Minh'alma, como o monge à sombra das clausuras,
Passa na solidão do pó das sepulturas
A desfiar a dor no pranto da demência.

– E é de cogitar insano nessas cousas,
É da supuração medonha dessas lousas
Que medra em nós o tédio – a flor da decadência!

Fontoura Xavier

Antônio Fontoura Xavier nasceu em Cachoeira do Sul, interior do estado do Rio Grande do Sul, em 07 de julho de 1856, filho de Gaspar Xavier da Silva e Clarinda Amália da Fontoura Xavier. Estudou Humanidades no Rio de Janeiro de 1870 a 1873. Iniciou em 1874, no Rio de Janeiro, o curso de Engenharia, mas acabou... Leia mais aqui: