domingo, 8 de junho de 2014

Rua (TRAIRI).

 
 
Rua (TRAIRI)

Nos cubos desse sal que me encarcera
(Pedras, silêncios, picaretas, luas,
anoitecidos braços na paisagem)
a duna antiga faz-se pavimento.

Meu chão se muda em novos alicerces,
sob as pedreiras rasgam-se meus passos;
e a velha grama (pasto de lirismos)
afoga-se nos sulcos das enxadas,

nas ânsias do caminho vertical.
Ao sono das areias abandonam-
se nesta rua vividos fantasmas.

De seus rios meninos que descalços
apascentavam lamas e enxurradas.
Meu chão de agora: a rua está calçada.

Zila Mamede
 

Zila da Costa Mamede nasceu em setembro de 1928 em Nova Palmeira, pequena cidade localizada no interior da Paraíba. Na infância, costumava passar as férias no sítio do avô, de modo que a ambientação rural teve um papél decisivo para a formação cultural da autora. Ainda criança, mudou-se com a família para Currais Novos (RN), cidade onde o pai iria trabalhar como mecânico de equipamentos agrículas. Com o intúito de alcançar melhores condições de vida, a família Mamede mudou-se para a capital do estado. Depois de se instalar definitivamente em Natal, a agitada ambientação urbana... Leia mais aqui:

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5 comentários:

chica disse...

Linda expressão dessa mudança na vida e da dita urbanidade. Gostei de ler! Transformações... abração, lindo domingo,chica

Nilson Barcelli disse...

Uma excelente visão poética da transformação da natureza em cimento armado.
Não conhecia nada da poeta e gostei imenso deste poema.
Um bom domingo e uma boa semana.
Abraço.

RENATA CORDEIRO disse...

Não conhecia a poetisa, nem tampouco o poema, de que gostei muito.
Rosemildo, tenha um bom domingo com os seus.
Abraço,
Renata

Edum@nes disse...

Com as picaretas na mão!
na construção os homens trabalhavam
no tempo da cruel repressão
pediam pão, porrada levavam.

Não haviam e não há, máquinas,
como o homem tão perfeitas
com picaretas rompiam azinhagas
construíam estradas bem feitas!

Um abraço e resto de bom domingo.

Anne Lieri disse...

Um soneto tão atual! Eu adorei! bjs e boa semana,