quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A porta aporta.


A PORTA APORTA 

a porta roda ao invés da lua 
a porta roda bússula enterrada ao invés dos olhos 
a porta geme é um cão nocturno 
a porta geme extinta na trela da noite 
a porta areia a porta caruncho pária de mar 
a porta maré que vem e que vai que bate e que fecha 
a porta com máscara de morte 
a porta sem sorte 
a porta joelho na alma das portas 
a porta mulher da casa de passe 
a porta manchou a manhã com o grito de porta 
a porta enforcada no mastro da casa 
a porta por asa 
a porta roda a porta sexo a vida toda 
a porta tosca da madrugada pregos são estrelas mortas 
a porta pregada a porta leilão 
a porta batente 
a porta aranha por coração 
a porta tu 
a porta eu 
a porta ninguém na terra pequena 
a porta roda 
a porta geme 
a porta facho 
a porta leme 

Luíza Neto Jorge 


Poetisa portuguesa nascida a 10 de maio de 1939, em Lisboa, e falecida a 23 de fevereiro de 1989, na mesma cidade. Frequentou o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa e viveu em Paris, entre 1962 e 1970. Autora de guiões cinematográficos e de adaptações teatrais, Luíza Neto Jorge desenvolveu a atividade de tradutora, tendo traduzido, entre muitos outros autores, Apollinaire, Aragon, Artaud, Céline, Éluard, Genet, Ionesco, Michaux, Raimond Queneau, Jarry, Nerval, Boris Vian, Yourcenard. Integrou o grupo que se reuniu em torno do projeto Poesia 61, antologia poética, organizada em fascículos, que reúne textos de Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz e Maria Teresa Horta, e onde publicou Quarta Dimensão. Embora a sua poesia se aproxime dos textos poéticos aí recolhidos no que espelham de uma tendência poética que, durante a década de 60, dá privilégio à palavra, à linguagem na sua opacidade, na busca de uma expressão depurada e não discursiva, ao cuidado posto na construção do poema, Luiza Neto Jorge diferencia-se quer pela importância que o legado surrealista tem na sua escrita, quer pela capacidade de diálogo com a tradição lírica. A sua obra poética distingue-se, num cerrado rigor construtivo, pela contenção emotiva e pelo despojamento de tudo o que é redundante face à contundência da palavra exata, numa capacidade de fusão entre poesia discursiva e poesia imagética, de transmitir a rutura com o senso comum numa expressão lapidar, onde as palavras são, "em si mesmas, pura dinamite, uma permanente vertigem, uma constante transgressão." (cf. CRUZ, Gastão, A Poesia Portuguesa Hoje, 1999, pp.153-163).

Fonte: Infopédia. 

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5 comentários:

chica disse...

Linda poesia dessa poetisa! abração,ótimo feriado,chica

Everson Russo disse...

A porta que é saída e também entrada,,,muitas vezes despedida e em outras chegada...belo poema...abraços de bom dia e bom feriado pra ti meu amigo.

Magia da Inês disse...

°º♪♫
°º✿♪♫
º° ✿✿♫
A porta é o infinito...
Bom dia, amiga!
Beijinhos.
Brasil°º♪♫
°º✿♪♫
º° ✿✿♫

VeraBruxa disse...

a porta nós...
Abraço de "abrir-e-fechar-de-portas".

Carla Fernanda disse...

Tenho uma porta para um túnel do tempo amigo!
Beijos,
Carla