segunda-feira, 16 de maio de 2011

Lamúrias.


LAMÚRIAS 

«Que pena! Tenho o corpo tão bonito,
E nenhum amoroso me procura!
E, quem sabe? talvez à sepultura
Eu me vá, de capela e de palmito!

«Em tempos, um rapaz muito esquisito,
Inda imberbe mas lindo de figura,
Passava, mas fugiu! Que desventura:
Era da raça dos Josés do Egipto!

«E os dias vão passando, sem que veja
A mais ligeira mutação de cena!
Por sobre mim uma ave negra adeja!

«De corpo tão bonito, alta e morena
À própria Vénus causaria inveja,
E assim tão bela... durmo só! Que pena!»

João Penha


João Penha de Oliveira Fortuna nasceu em 29 de abril de 1838 em Braga e faleceu em 03 de favereiro de 1919, também na cidade de Braga. Matriculou-se na Universidade de Coimbra em Teologia, passando depois para o curso de Direito onde se formou em 1873. Juntou-se desde logo ao grupo dos estudantes boémios, tornando-se amigo de Gomçalves Crespo, Cândido de Figueiredo, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, entre outros. Fundou e dirigiu A Folha, um jornal literário de tendências parnasianas (publicado entre 1868 e 1873) onde os amigos colaboravam. Regressando a Braga, exerceu a advocacia e ocupou o cargo de Juiz Ordinário do Julgado da Sé. Dirigiu entretanto a revista literária República das Letras, de onde saíram três números. Morreu pobre, surdo e esquecido. A sua poesia comunga das concepções parnasianas, tendo muito contribuído para o rejuvenescimento do soneto em Portugal. Obras poéticas: Rimas (Lisboa, 1882), Viagem por Terra do País dos Sonhos (Porto, 1898), Novas Rimas (Coimbra, 1905), Ecos do Passado (Porto, 1914), Últimas Rimas (Porto, 1919), Canto do Cisne (Lisboa, 1923). Prosa: Por Montes e Vales (Lisboa, 1899).

Fonte: http://alfarrabio.di.uminho.pt/

5 comentários:

Malika disse...

Gostei muito!

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido amigo

Como sempre um lindo poema...não conhecia o poeta, adorei e deixo o meu beijinho.

Sonhadora

Helô Müller disse...

Ah, que delícia de poesia! Adorei...
Bj
Helô

Sandra Gonçalves disse...

talvez os homens não estivessem a procura somente de um corpo bonito...beijos achocolatados

ANA ROOS disse...

Eu durmo só por escolha própria, e nem tão bonito é assim meu corpo... rsss

Trágico se não fosse cômico

beijos