sexta-feira, 11 de março de 2011

Se houvesse degraus na terra.


SE HOUVESSE DEGRAUS NA TERRA...

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

Herberto Helder


Herberto Helder de Oliveira (Funchal, 23 de Novembro de 1930 é um poeta português de ascendência judaica.

Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo trabalhado em Lisboa como jornalista, bibliotecário, tradutor e apresentador de programas de rádio. Viajou por diversos países da Europa realizando trabalhos corriqueiros, sem nenhuma relação com a literatura e foi redactor da revista Notícia em Luanda, Angola, em 1971, onde sofreu um acidente grave.

É considerado um dos mais originais poetas vivos de língua portuguesa. É uma figura misantropa, e em torno de si paira uma atmosfera algo misteriosa uma vez que recusa prémios e se nega a dar entrevistas. Em 1994 foi o vencedor do Premio Pessoa que recusou. É pai do jornalista Daniel Oliveira.

A sua escrita começou por se situar no âmbito de um surrealismo tardio. Escreveu "Os Passos em Volta", um livro que através de vários contos, sugere as viagens deambulatórias de uma personagem por entre cidades e quotidianos, colocando ao mesmo tempo incertezas acerca da identidade própria de cada ser humano (ficção); "Photomaton e Vox", é uma colectânea de ensaios e textos e também de vários poemas. "Poesia Toda" é o título de uma antologia pessoal dos seus livros de poesia que tem sido depurada ao longo dos anos. Na edição de 2004 foram retiradas da recolha suas traduções.

Alguns dos seus livros desapareceram das mais recentes edições da Poesia Toda, rebatizada Ofício Cantante, nomeadamente Vocação Animal e Cobra.

A crítica literária aproxima sua linguagem poética do universo da Alquimia, da mística, da Mitologia edipiana e da Imago da Mãe.

Fonte: Wikipédia.

8 comentários:

Anônimo disse...

Oi amigo...

Que linda sua escolha...

Vc sempre nos presenteando com essas maravilhas...

bjo e minha admiração!


Zil

chica disse...

Um poema lindo e mais uma vez nos presenteaste além da poesia, com o biografia do autor.Legal! abraços,chica

Wanderley Elian Lima disse...

Um poema subjetivo, porém belo.
Grande abraço

Everson Russo disse...

Daria utopicamente pra subir no mundo e ficar caminhando entre os aneis olhando a vida...belissimo...abraços de bom final de semana pra ti amigo...

Déia disse...

Lindo poema, meu amigo!
Sempre nos dando presentes, né?
bj

Flor de Lótus disse...

Lindo poema!E tudo se tornou rubro e quente e mais vivo!!
Um ótimo fim de semana!
Beijossss

AFRICA EM POESIA disse...

Neste momento quero expressar aqui a minha solidariedade a todas as Famílias atingidas pelo tsunami de ontém.ONDA DEVASTADORA


Onda devastadora, cheia de beleza
Que rapidamente se transformou...
E destruiu tudo por onde passou...

Correu com loucura pela praia...
Saltou montes e vales...
Tudo levou e tudo varreu...

Onda sem compaixão...
Que entre os seus longos braços...
Tudo levou, pais, mães e filhos...

Sem piedade levou o amor da família...
Levou também o trabalho da terra...
E deixou, apenas a dor...

Dor de quem ficou e de quem tudo perdeu...
E tu onda devastadora...
Soltaste os teu braços...
E calmamente te foste!...

LILI LARANJO

Rosane Marega disse...

Um poema lindo e muito gostoso de ler.
Beijossssssss