terça-feira, 22 de março de 2011

Ritmo de Pilão.


RlTMO DE PILÃO

Bate, pilão, bate,
que o teu som é o mesmo
desde o tempo dos navios negreiros,
de morgados,
das casas-grandes,
e meninos ouvindo a negra escrava
contando histórias de florestas, de bichos, de encanta-
[das...

Bate, pilão, bate
que o teu som é o mesmo
e a casa-grande perdeu-se,
o branco deu aos negros cartas de alforria
mas eles ficaram presos a terra por raízes de suor...

Bate, pilão, bate
que o teu som é o mesmo
desde o tempo antigo
dos navios negreiros...

(Ai os sonhos perdidos lá longe!
Ai o grito saído do fundo de nos todos
ecoando nos vales e nos montes,
transpondo tudo...
Grito que nos ficou de traços de chicote,
da luta dia a dia,
e que em canções se reflecte, tristes...)

Bate, pilão, bate
que o teu som é o mesmo
e em nosso músculo está
nossa vida de hoje
feita de revoltas!
Bate, pilão, bate!...

António Nunes


António Nunes nasceu na cidade da Praia, capital da ilha de Santiago, Cabo Verde, a 9.12.1917 (e faleceu em Lisboa, a 14.5.1951, vítima de uma menigo-encefalite). Fixou-se em Lisboa, por volta de 1940, e nesta cidade conviveu assiduamente com o grupo neo-realista de que fazia parte o seu patrício Teixeira de Sousa.

A sua estréia literária faz-se, em Cabo Verde, primeiro na imprensa, depois com o livro de poemas Devaneios, publicado em 1939, ao sabor ainda da estética anterior à Claridade. É aqui, em Lisboa, ao contacto com a nova geração neo-realista, que António Nunes se liberta dos cânones poéticos anteriores e envereda pela construção de um discurso poético social e autenticamente caboverdiano.

Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/

9 comentários:

Anônimo disse...

Poema deslumbrante, parabéns pela belíssima postagem.
Beijo no coração.

Everson Russo disse...

Belissimo poema meu amigo,,,abraços de bom dia pra ti.

Anônimo disse...

SENTÍ VERSOS DE UNA CANCIÓN DE LA TIERRA. BELLO TEXTO.
UN ABRAZO

Unknown disse...

Sons que se confundem, trazendo lembranças ritmicas, dores que fundem, os versos de outrora, razões que inda vigoram, marcas físicas, que alma não esquecem...

Profundo e verdadeiro, sonhos mudos que o tempo combateu...

Lindo meu amigo....

Gostei da imagem que a sentido me induz a alguma inspiração, que não sei de que forma pode vir...
Vou leva-la...

Dia feliz pra ti

Bjs

Livinha

Perola disse...

Adorei a sua postagem,vc sabe que o pilão ainda faz parte da minha vida?
Eu o uso para amassar a minhas ervas de tempero, esses amassadores modernos ñ são tão úteis para mim rs.
Eu gostei muito.
Beijo grande meu querido.

Andradarte disse...

Impossível não ligar esse belo poema,
aos sons de Africa....
Abraço

Anônimo disse...

Oi Furtado...

Um post genial!!!

O poema é belo e conhecer a vida do poeta fica ainda mais interessante!


meu carinho!

Zil

Unknown disse...

Bonita homenagem, é sempre bom mostrar que os poetas vivem nos nossos corações.

Beijinho,
Ana Martins

Elaine Barnes disse...

Poetas que registraram parte triste e vergonhosa da nossa história. Tenho um pilãozinho pequeno e lembrei-me dele com o belíssimo poema. Obrigada pela visita em meu blog amigo, é sempre um prazer! Montão de bjs e abraços